RTP subiu salários a funcionários dias antes da saída de Alberto da Ponte

O presidente da RTP, Gonçalo Reis, confirma que houve uma "requalificação de trabalhadores" antes da mudança de administração. Ex-presidente diz que não se lembra se foi feita. Trabalhadores já pediram explicações.
Publicado a
Atualizado a

E-mails internos e cartas com pedidos de esclarecimento têm sido uma constante nos últimos dias na RTP. Em causa está a requalificação de trabalhadores da estação pública, que terá acontecido em vésperas da saída da anterior administração, presidida por Alberto da Ponte.

Ao DN, em declarações à margem de um almoço-conferência promovido ontem pelo Instituto Amaro da Costa (IDL), Gonçalo Reis confirmou que "houve requalificação de trabalhadores", mas não quis adiantar pormenores. O atual presidente da administração da RTP garantiu, contudo, que o caso está a ser apreciado. "Estamos a analisar a situação", disse, sem explicar os procedimentos.

De acordo com o que foi garantido por vários elementos da estação pública ao DN, os "aumentos terão tido lugar nos últimos dias da anterior administração, antes de esta cessar funções". Questionado, Alberto da Ponte declarou ao DN não se recordar se essas requalificações tiveram lugar. "Neste momento já não me lembro. Naturalmente, tudo o que foi feito estará exarado em ata", realçou. O ex-presidente do conselho de administração da empresa pública lembrou ainda: "Houve várias requalificações ao longo da história da RTP, não posso dizer que sim nem que não. Se a decisão foi tomada, tudo foi cumprido de acordo com o exigido. Já passaram uns meses, não me lembro se existiu ou não."

Ao que o DN apurou junto de vários elementos da empresa, o caso já terá levado a Comissão de Trabalhadores (CT) a pedir esclarecimentos à atual equipa de gestão. "Está pedida uma reunião em que o ponto único é pedir esclarecimentos sobre a lista de aumentos e de requalificação", precisa fonte da estação.

Houve ainda um pedido de esclarecimento por e-mail ao diretor de Informação cessante do canal público, José Manuel Portugal, que terá garantido que "não houve qualquer requalificação na direção de Informação". Apesar das diversas tentativas, não foi possível recolher uma declaração daquele responsável. Também Hugo Andrade, diretor de Programas da RTP, esteve incontactável.

Dois elementos da estação pública ressalvam, porém, que "há requalificações que terão sido de elementar justiça, até porque estavam previstas há anos". "Foi uma subida de escalão", precisa um deles, acrescentando que as mesmas "não atingiram todas as pessoas". Ao mesmo tempo, asseguram os mesmos elementos, "terá havido requalificações a nível de chefias". Um outro elemento confirmou ao DN que terão sido "dezenas" os profissionais visados neste processo. "É preciso verificar esta situação, sobretudo numa empresa que não tem aumentos há anos e que tem atravessado processos de rescisões", lembra um dos profissionais. Gonçalo Reis não quis falar sobre os montantes ou mesmo sobre os visados destes aumentos.

Também à margem do almoço subordinado ao tema "RTP: Do que falamos quando falamos de serviço público", Gonçalo Reis garantiu ter cumprido toda a tramitação no caso da exoneração dos anteriores diretores e da nomeações dos novos. Sobre o facto de a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) não ter ainda tomado uma posição prévia e vinculativa e mediante notícias recentes que davam conta de que o regulador teria dúvidas sobre Daniel Deusdado (nomeado para diretor da RTP1, RTP Informação e RTP Internacional) e Fausto Coutinho, atual diretor de Informação da RDP, sobre quem o Conselho da Redação da Rádio pediu esclarecimentos para a fundamentação da exoneração, o presidente lembra que "o processo está a decorrer". "Seguimos todos os trâmites habituais. Do ponto de vista empresarial, quanto mais depressa estiver tomada a decisão melhor, para que as equipas comecem a trabalhar. Respeitamos também os trâmites da ERC, que tem os seus critérios. Ouve as pessoas, pede esclarecimentos e tomará decisões".

O presidente da RTP reafirmou as linhas do projeto estratégico, que assentam numa "orientação para o serviço público, na aposta em novas plataformas multimédia e na eficiência económica". Quanto a eventuais novas saídas de trabalhadores, Gonçalo Reis reitera: "Já disse que não haverá despedimentos" na empresa pública.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt