Ronaldo em busca do 27.º título com as mulheres sauditas a ver o jogo de longe

A estrela portuguesa é a figura de cartaz da Supertaça italiana que se disputa esta quarta-feira na Arábia Saudita. Um jogo rodeado de polémica pelo facto de as mulheres sauditas só poderem ver a partida em lugares com pouca visibilidade.
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É em Jeddah, a segunda maior cidade da Arábia Saudita, nas margens do Mar Vermelho, que Cristiano Ronaldo vai tentar esta quarta-feira (17.30 horas) conquistar o 27.º título da sua carreira e o primeiro ao serviço da Juventus. O adversário é o rival AC Milan e o moderno estádio da Cidade Desportiva Rei Abdullah é o palco da Supertaça italiana, sendo certo que o vencedor passará a ser o clube que mais vezes conquistou este troféu, pois têm ambos sete vitórias no currículo.

A Juventus apresenta-se neste jogo com amplo favoritismo, pois além de ser líder isolado da Série A, ainda não sofreu qualquer derrota nas competições internas, tendo vencido 18 dos 20 jogos que realizou. Os dois únicos desaires da época foram diante do Manchester United e Young Boys para a Liga dos Campeões. Já o AC Milan apresenta um percurso mais errático, pois em 19 jogos do campeonato só venceu oito e perdeu quatro.

Esta será a terceira vez que estas equipas se encontram na Supertaça. Nos dois jogos anteriores há uma vitória para cada lado, mas apenas no desempate por penáltis, pois ambas as partidas (em 2003 e 2016) terminaram empatadas a uma bola. No total das competições, estes dois históricos do futebol italiano defrontaram-se 206 vezes, com vantagem para a Juventus, que totaliza 81 triunfos, contra 57 do Milan. Esta época, já se realizou um clássico entre estas equipas, com Cristiano Ronaldo a brilhar ao marcar um dos golos no triunfo por 2-0 em San Siro, em partida da 12.ª jornada da Série A.

Discriminação de género e violação de direitos humanos

A popularidade de Ronaldo, já se sabe, ultrapassa fronteiras e na chegada da equipa da Juventus a Jeddah, na terça-feira, houve uma receção apoteótica no aeroporto com dezenas de adeptos à espera, afinal não é todos os dias que a estrela portuguesa joga naquelas paragens do mundo. Não é de estranhar portanto que a lotação do recinto - 62 mil lugares - esteja esgotada para esta partida.

O entusiasmo em torno desta partida é enorme em Jeddah e numa sociedade fechada como é a saudita, as mulheres foram autorizadas a assistir à partida no estádio, uma situação inédita num jogo de futebol internacional. Só em janeiro de 2018 é que o governo saudita passou a autorizar a presença de mulheres nos estádios, algo que lhes estava vedado até então e esse facto deu origem a um mar de críticas à federação italiana, que foi acusada de discriminação de género. Isto porque apesar de estarem autorizadas a entrar no recinto, apenas podem estar em zonas com pouca visibilidade para o relvado e sempre acompanhadas por homens.

Esta polémica chegou inclusive ao parlamento italiano, que não poupou a federação italiana, que pelo 12.º ano consecutivo organiza a Supertaça fora do país, sendo que por isso irá receber das autoridades sauditas sete milhões de euros, um montante importante para aquele organismo que preferiu ignorar as críticas e procurou inclusive reverter a polémica para o seu lado. "A nossa Supertaça será recordada como a primeira competição internacional oficial que as mulheres sauditas poderão ver ao vivo", disse Gaetano Micciché, presidente da liga italiana no auge das críticas.

Contudo, não foi apenas a discriminação de género que originou contestação ao facto deste jogo se disputar na Arábia Saudita. É que desde o anúncio da decisão de realizar o jogo em Jeddah que a Amnistia Internacional lamentou que a opção dos italianos por um país que tem "um mau desempenho" no respeito pelos direitos humanos, tendo inclusive Luca Lotti, antigo ministro do desporto transalpino, lembrado o caso do assassínio de Jamal Khashoggi, jornalista opositor ao regime saudita exilado nos Estados Unidos, no consulado saudita em Istambul no passado dia 2 de outubro.

Um caso que originou uma enorme tensão entre a Turquia e a Arábia Saudita e que mereceu uma forte onda de críticas e condenações em relação ao governo saudita. A Amnistia Internacional chegou mesmo a apelar à Juventus e ao Milan que boicotassem a realização do jogo em Jeddah.

CR7 e mais dez. Higuaín quase lesiona treinador

À margem de todas as polémicas, Giorgio Chiellini, capitão da Juventus, piscou o olho ao povo saudita e traçou aquela que é a responsabilidade das duas equipas neste jogo em Jeddah: "Espero que o povo saudita fique com este jogo na memória e se divirta."

Juventus e AC Milan preparam a partida com todos os cuidados, afinal está em disputa o primeiro troféu da temporada. A vecchia signora apresenta Cristiano Ronaldo como principal trunfo, mas não pode contar com os lesionados Mandzukic, Cuadrado, Barzagli e Benatia. A boa notícia é a recuperação de João Cancelo, que poderá voltar à equipa depois de ter sido operado no final de 2018.

O treinador Massimiliano Allegri, que só venceu uma das quatro Supertaças que disputou, avisa que o facto de no campeonato as duas equipas estarem separadas por 22 pontos não quer dizer nada. "Nas finais as diferenças entre as equipas anulam-se", começou por dizer, garantindo que na frente de ataque estará Ronaldo e Dybala. E sobre a presença de CR7 admitiu que se trata de um jogador "habituado a vencer", pelo que "é um valor acrescentado" à sua equipa.

Por sua vez, Gennaro Gattuso que procura o seu primeiro troféu como treinador do Milan, mostrou-se bastante preocupado como a hipótese de o seu goleador Gonzalo Higuaín deixar o clube durante este mês de janeiro. "A decisão é dele. Se dependesse de mim, convidava-o a ir a minha casa, fechava-o num quarto, dava-lhe de comer a cada duas ou três horas e assim ficaria comigo para sempre. Mas, obviamente isso não é possível", afirmou em jeito de brincadeira.

Não se sabe se foi por esta declaração, mas a verdade é que no treino o avançado argentino teve uma entrada de carrinho que derrubou o treinador Gattuso... um lance que terminou com uma enorme gargalhada.

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