Faltou imaginação para Portugal evitar mais uma falsa partida no Europeu
E à quarta... não foi de vez. Portugal voltou a não vencer no jogo de estreia de uma fase de apuramento para um Campeonato da Europa. Depois de empatar com Finlândia (2008) e Chipre (2012) e perder com a Albânia (2016), desta vez falhou o triunfo no arranque do Euro2020. A seleção não foi além do empate 0-0, no Estádio da Luz, diante da Ucrânia, um adversário que festejou o ponto conquistado, que desde o início da partida foi, afinal, o grande objetivo.
Este é também o terceiro empate consecutivo da equipa das quinas (depois de Itália e Polónia para a Liga das Nações), mas o que fica desta partida foi uma evidente incapacidade de Portugal para abrir espaços num autêntico muro amarelo erguido pelos ucranianos à frente da baliza de Pyatov.
O regresso de Cristiano Ronaldo à equipa - o último jogo tinha sido no Mundial 2018 com o Uruguai - dava uma dose extra de confiança de que a equipa iria ultrapassar este primeiro adversário na caminhada para o Euro2020, mas depressa se percebeu que a noite iria ser muito complicada.
Os ucranianos apresentaram-se com um sistema de 4x1x4x1, com a zona central do terreno muito povoada, à procura de impedir o jogo interior dos portugueses, obrigando-os a flanquear o jogo em busca de cruzamentos para a área, onde o maior poder físico dos centrais e do médio mais defensivo Stepanenko, que acabou por ser mais um defesa, acabou por ir resolvendo alguns problemas.
O problema da equipa de Fernando Santos começou cedo a ser notado. As três unidades do meio-campo - Rúben Neves, William Carvalho e João Moutinho - não tinham a criatividade suficiente para criar desequilíbrios na organização defensiva da Ucrânia, pelo que invariavelmente procurava os cruzamentos de João Cancelo à direita, que revelou pouco acerto nesse capítulo do jogo.
Bernardo Silva poderia ser essa unidade criativa para iludir o muro amarelo que se ergueu à frente da baliza de Pyatov, mas o certo é que o jogador do Manchester City esteve sempre encostado à direita, perdendo por isso influência na construção do ataque da equipa. Por outro lado, faltou também à equipa das quinas alguém que fizesse mudanças de velocidade e diagonais de fora para dentro para abrir espaços aos laterais, sobretudo a Raphaël Guerreiro para subir.
Durante a primeira parte, Ronaldo ainda foi essa unidade que procurava os as combinações com o lateral do Borussia Dortmund, mas depois fazia falta na frente de ataque, onde André Silva esteve entregue à sua sorte.
A falta de espaços e a previsibilidade do jogo português fez com que o jogo monótono em grande parte do tempo, com Cristiano Ronaldo a tentar várias vezes a sua sorte, mas às vezes abusando de lances individuais. Ainda assim, a estrela da Juventus foi quem esteve mais perto de marcar quando dois remates seus (24 e 28 minutos) obrigaram Pyatov a grandes intervenções. Antes disso, William Carvalho viu um golo seu bem anulado por fora-de-jogo, na sequência de um dos inúmeros cruzamentos da equipa, desta vez de Rúben Neves.
Quando o árbitro apitou para o intervalo havia a clara sensação de que Portugal tinha de mudar muito a sua face para conseguir alcançar os três pontos. O jogo pedia a entrada de Rafa Silva, que poderia ser a chave para abrir os tais espaços que faltavam através da velocidade e das combinações no jogo interior da equipa.
Contudo, Rafa só entrou em campo aos 62 minutos para o lugar de Rúben Neves, numa altura em que as dificuldades para entrar na área contrária se acentuavam. A exceção foram dois remates de André Silva que Pyatov defendeu: o primeiro com facilidade após uma jogada bem construída entre o avançado do Sevilha e Ronaldo e o segundo num lance em que uma bola que andou a saltitar à entrada da área, que obrigou Pyatov à defesa da noite.
É certo que Rafa Silva agitou o jogo de Portugal, mas pouco. Continuava a faltar alguém que pensasse o jogo português... e Bernardo mantinha-se encostado à direita.
À medida que os minutos passavam mais problemas a equipa nacional tinha em criar oportunidades, até porque a aumentava a confiança dos ucranianos que iam limpando todas as bola cruzadas pelos jogadores portugueses. Um exagero.
Fernando Santos ainda tentou dar maior agressividade na área com a entrada de Dyego Sousa para o lugar de André Silva, mas o estreante avançado do Sp. Braga acabou por não ter grandes hipóteses de visar a baliza adversária. Ainda assim, ainda esteve envolvido num lance em que ficou a reclamar penálti, que até deixa algumas dúvidas.
Contudo, antes disso, foi a Ucrânia que esteve perto de conquistar os três pontos, quando Rui Patrício defendeu um remate de longe para a sua frente, onde apareceu o estreante Júnior Moraes (brasileiro naturalizado ucraniano) a rematar para a bancada quando estava quase na pequena área.
Enfim, Portugal soma um ponto no primeiro jogo em que defende o título de campeão europeu. Uma falsa partida que terá de ser corrigida já na segunda-feira quando receber, também na Luz, a Sérvia que, a par da Ucrânia, são as seleções que teoricamente vão lutar com a equipa das quinas pelo primeiro lugar do grupo B, o único que dá apuramento direto para o Euro2020.
O guarda-redes do Shakhtar Donetsk, de 34 anos, fez três defesas fantásticas que mantiveram a sua baliza inviolável, as duas primeiras a remate de Cristiano Ronaldo, a outra ao voar com estilo para desviar um tiro de André Silva. Mostrou uma grande tranquilidade entre os postes e muito seguro cada vez que teve de se fazer aos inúmeros cruzamentos dos jogadores portugueses. Se a Ucrânia deixa o Estádio da Luz com um ponto conquistado bem pode agradecer a Pyatov, que acentuou ainda mais a desinspiração da seleção nacional.
FICHA DO JOGO
Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Clément Turpin (França)
Portugal - Rui Patrício; João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Raphaël Guerreiro; Bernardo Silva, William Carvalho, Rúben Neves (Rafa Silva, 62'), João Moutinho (João Mário, 86'); Cristiano Ronaldo, André Silva (Dyego Sousa, 73')
Treinador: Fernando Santos
Ucrânia - Pyatov; Kravaev, Kryvtsov, Matviyenko, Mykolenko; Stepanenko; Marlos (Tsygankov, 66'), Malinovskyi, Zinchenko, Konoplyanka (Buyalskyy, 87'); Yaremchuk (Júnior Moraes, 76')
Treinador: Andriy Schevchenko
Cartão amarelo a Stepanenko (86')