Ronaldo confessa-se. Os negócios, a pressão, a inveja e não ser charlatão
Numa entrevista ao ICON, do jornal El País, Cristiano Ronaldo passou em revista alguns temas da atualidade. Falou sobre futebol, mas também da sua esfera privada, explicando por exemplo a razão de ter aberto uma clínica capilar no centro de Madrid quando atualmente está sediado em Turim e joga na Juventus.
"A minha família é daqui, nasceram aqui e eu estive nove anos em Madrid. Além disso os espanhóis sempre me trataram bem. Queria dar-lhes postos de trabalho, independentemente de ter tido problemas com o fisco, algo que não posso esquecer nem esconder, porque a minha vida é um livro aberto. Sei que aqui as pessoas querem-me bem, sabem tudo o que dei pelo Real Madrid. Às vezes na rua dizem-me: 'Cris, volta para casa, esta casa é sempre tua'. Gosto de ouvir isso", referiu.
Ronaldo foi depois questionado sobre quem sofre mais com os seus problemas em torno da sua vida privada. E a resposta saiu imediata: "Gostava de ser o escudo e de ser eu a solucionar todos os meus problemas. Quando se é uma das pessoas mais mediáticas do mundo não é fácil ocultar as coisas. Há quem goste do Cristiano e há quem não goste. Quanto mais acima chegares mais querem mandar-te abaixo. Como digo sempre, não me importa que me critiquem pela minha vida profissional, é o meu trabalho. Mas a minha vida pessoal é uma coisa íntima, tenho mulher, filhos, mãe, irmãos, amigos. Não posso ir para casa quando se passa algo e chorar. Se surge um problema vamos tentar arranjar uma solução. Só não há solução para a morte."
Cristiano Ronaldo confessou que ao fim destes anos todos no topo do futebol mundial ainda lhe custa ter que estar constantemente a provar algo: "Às vezes é cansativo, parece que todos os anos tens de provar que és muito bom. É difícil. Tens de estar sempre a lidar com esta pressão adicional de ter que mostrar algo e não só a ti. Também às pessoas que estão à tua volta. À família, à tua mãe, ao teu filho... 'Cris, tens de ganhar amanhã'. Isso torna-te mais ativo, mas chega a uma altura em que apetece dizer 'deixa-me'. Estou sempre a ser julgado: 'Está acabado. Tem 33, 34 ou 35 anos, já deveria ter deixado de jogar'. Eu quero sempre surpreender: Aqui segue o bicho".
O avançado português deu uma resposta curiosa quando foi questionado sobre o facto de muitas pessoas o verem como um robot. "Não creio que me vejam dessa forma, mas acham que sou alguém que não tem problemas, que nunca pode estar triste e ter preocupações. As pessoas confundem o não ter problemas com ter dinheiro e êxito. Como pode estar o Cristiano triste ou em baixo se tem milhões? As pessoas não pensam como tu. Há quem esteja sempre à espera que eu falhe um penálti ou num jogo crucial. Mas isto faz parte da vida e tenho de estar preparado."
Ronaldo falou ainda da adaptação à Juventus. "Se fores esperto, captas coisas que te fazem melhorar como atleta. Na Juventus adaptei-me perfeitamente. Já viram que não sou nenhum charlatão. É o Cristiano e é o Cristiano porque se cuida. Uma coisa é falar, outra é fazer. Porque é que ganhei cinco Bolas de Ouro e cinco Champions?", atirou, garantindo que está habituado à pressão desde muito jovem: "Quando fui para o Real Madrid era o jogador mais caro da história. No Manchester United, depois de ganhar a minha primeira Bola de Ouro, com 23 anos, as pessoas pensavam: olha, este vai ter de dar o máximo. Nos últimos dez, doze anos, tive sempre esta pressão adicional."