Rishi Sunak, líder por aclamação depois da desistência de Boris?
O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson desistiu este domingo de se candidatar à liderança do Partido Conservador, abrindo a porta a uma possível eleição, já esta segunda-feira e por aclamação, do seu antigo ministro das Finanças, Rishi Sunak. Este lançou oficialmente durante a tarde a candidatura para suceder a Liz Truss, contando com o apoio de quase 150 dos 357 deputados do partido. Penny Mordaunt surge como a sua única adversária, mas tem só 24 apoios (são precisos no mínimo cem), podendo contudo beneficiar da desistência de Johnson ao princípio da noite.
O ex-primeiro-ministro, de 58 anos, alegava ter os apoios de 102 deputados conservadores (publicamente tinham sido declarados menos de 60, segundo as contas da BBC). Mas decidiu não avançar, prometendo apoiar quem ganhar. "Acredito que tenho muito a oferecer, mas temo que esta não seja a altura certa", disse, deixando claro que havia uma possibilidade "muito boa" de voltar a Downing Street. Contudo, "não se pode governar efetivamente a não ser que se tenha um partido unido no Parlamento" - e Johnson ainda está a ser investigado por alegadamente mentir aos deputados no caso das festas durante o confinamento.
Mais cedo, Rishi Sunak tinha lançado oficialmente a candidatura e surgia claramente como o favorito, com quase 150 apoios. "O Reino Unido é um grande país, mas enfrentamos uma profunda crise económica (...) Quero consertar a nossa economia, unir o nosso partido e salvar o nosso país", escreveu Sunak, de 42 anos, no Twitter.
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Derrotado por Truss nas eleições internas do verão (foi o mais votado pelos deputados, mas perdeu na votação dos militantes), Sunak espera ser eleito por aclamação sem precisar de passar a decisão aos 170 mil membros do partido.
Mas para isso é preciso que Mordaunt não consiga os apoios suficientes - ou desista. A líder dos conservadores na Câmara dos Comuns, de 49 anos, foi a primeira a anunciar oficialmente a candidatura, logo na sexta-feira. Mordaunt alega ser a mais bem colocada para unir o partido, representando o meio caminho entre Sunak e Truss (ela ficou em terceiro na corrida à liderança do verão). Mas a menos de 24 horas do fim do prazo (as 14.00 desta segunda-feira), só tinha o apoio de um quarto dos deputados conservadores necessários.
A desistência do ex-primeiro-ministro, que os apoiantes insistiam ser o único capaz de derrotar os trabalhistas numas eleições gerais, pode levar os seus apoiantes a passarem o voto para Mordaunt, de forma a evitar a aclamação de Sunak. Johnson contactou a ex-ministra durante a tarde, procurando que fosse ela a desistir, mas Mordaunt rejeitou essa possibilidade.
Na véspera, o ex-primeiro-ministro tinha estado reunido com o antigo ministro das Finanças, para tentar chegar a algum acordo, mas os dois não terão conseguido ultrapassar as diferenças - a demissão de Sunak foi uma das que desencadeou a onda de saídas do governo de Johnson que culminou na sua renúncia, a 7 de julho.
Já depois do anúncio da desistência de Johnson, Sunak elogiou o ex-primeiro-ministro no Twitter, lembrando que ele conseguiu o Brexit, foi o responsável por um bem-sucedido processo de vacinação contra a covid-19 e enfrentou o presidente russo, Vladimir Putin, após a invasão da Ucrânia. "Estarei sempre grato a ele por isso", indicou. "Apesar de ele ter decidido não concorrer a primeiro-ministro novamente, espero sinceramente que continue a contribuir para a vida pública em casa e no estrangeiro", acrescentou.
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O prazo para apresentar as candidaturas e os apoios termina às 14.00 desta segunda-feira. Se nessa altura só Sunak tiver reunido as condições necessárias, será automaticamente líder do Partido Conservador e sucederá a Truss à frente do governo. Contudo, se Mordaunt ultrapassar a barreira dos cem apoios, a decisão caberá aos militantes (através de uma votação online). Os deputados terão um voto prévio, não vinculativo, para indicar o seu preferido - e consoante o resultado, o derrotado poderá também desistir.
A principal crítica que é feita ao ex-ministro das Finanças, que pode ser o primeiro hindu na chefia do governo britânico, prende-se com a sua fortuna. Sunak é o deputado mais rico do Reino Unido (graças em parte à família da mulher), considerando-se que isso o afasta da realidade das famílias que sofrem com o aumento do custo de vida. No caso de Mordaunt, apesar de ter sido a primeira mulher a assumir a pasta da Defesa em 2019 e de já ter tido outros cargos no governo, questiona-se a sua experiência - especialmente depois da experiência falhada de Liz Truss.
A ideia dos conservadores é que, se a eleição for decidida pelos militantes, o vencedor seja declarado o mais tardar na sexta-feira e um novo líder tome posse no fim de semana, antes da declaração do ministro das Finanças, Jeremy Hunt, com os planos fiscais a médio prazo, que será no dia 31 de outubro.
susana.f.salvador@dn.pt