Rio e Cristas sob pressão até outubro
Rui Rio chegou à sala do hotel no Porto, sua cidade, faltava pouco para as 23.00. Os resultados para o PSD eram pesados: à 1.15 da manhã tinham 725 mil votos, correspondentes a 22% (e quatro eleitos). O pior resultado percentual do PSD era até agora o obtido nas primeiras eleições legislativa da democracia, em 25 de abril de 1976, com 24,35%.
Os dois objetivos para as europeias falharam: nem vencer as eleições nem eleger mais eurodeputados do que os seis eurodeputados que já tinha conseguido em 2014.
Mas o líder do PSD vestiu a pele de vencedor, apesar de ter reconhecido a derrota. Sem pestanejar, voz segura, voltou a pôr a fasquia alta para 6 de outubro: "Ganhar as eleições, é claro." Os sociais-democratas só foram a maior força no distrito de Vila Real e na região da Madeira. Todos os outros foram para o PS.
Já no Largo do Caldas a líder do CDS trazia no colo um péssimo resultado para o seu partido, que ficou atrás do BE e do PCP e manteve apenas um mandato no Parlamento Europeu, o de Nuno Melo. Assunção Cristas deixou transpareceu no rosto o peso do resultado. Mas um e outro carregam até às eleições legislativas a pressão desta vitória do PS. Mesmo que ambos rejeitem que os resultados possam transpor-se entre atos eleitorais.
Porque sabe que as facas começam a afiar-se no PSD nas noites de derrota, Rui Rio fez uma espécie de fuga para a frente. Em tom enfático, motivado pelas perguntas dos jornalistas sobre a viabilidade da sua liderança, garantiu que "só se estivesse farto", e não está, é que deitava a toalha no chão. "Claro que tenho condições para levar o PSD a um bom resultado", garantiu perante uma sala cheia de militantes, apoiantes, que naquela hora lhe deram apoio.
Mas Rio reconheceu aquilo que é óbvio, a oposição interna, a que gerou "turbulência" no partido, tem agora argumentos para intensificar os ataques internos à sua liderança. Nunca mencionou o nome do antigo líder parlamentar do PSD que o desafiou para eleições internas antecipadas, Luís Montenegro, mas ele esteve presente em todos os recados que deu ao partido.
O líder social-democrata carregará esse peso de saber que se em outubro não atingir a fasquia que se propôs, a de ganhar as eleições ao PS - "ou o PSD chega a outubro como alternativa ao PS ou então não alternativa" -, muito provavelmente não conseguirá manter-se ao leme do partido. Ainda que os opositores internos se mantenham mudos e quedos nestes próximos quatro meses, para não serem acusados de prejudicar o partido.
Rio diz que é preciso "aprender" com os erros desta campanha, sendo o maior deles ter deixado António Costa ganhar a guerra dos professores, para que a mensagem do PS não passe melhor do que a do PSD. Mas, curiosamente, o líder social-democrata voltou à sua cartilha política de valorização dos consensos, da qual não abre mão. "Os partidos têm de ser capazes de dialogar por Portugal, de fazer aquelas reformas que são decisivas para o futuro do país." E voltou a enunciá-las: do sistema político, da sustentabilidade da Segurança Social, da justiça e da descentralização.
Ao contrário de Rio, a líder do CDS deixou mesmo transparecer como o resultado do CDS nestas eleições lhe pesam nos ombros, até porque se empenhou fortemente na campanha de Nuno Melo e tudo fez para tentar eleger mais um eurodeputado, no caso Pedro Mota Soares, o antigo ministro da Segurança Social, que com ela partilhou lugar no governo de coligação de Passos e Portas.
Assunção sonhou alto. Tentar ser maior eleitoralmente do que os partidos à esquerda, PCP e BE, que suportam o governo e não conseguiu. E este resultado, depois de ter conseguido ficar à frente do PSD quando encabeçou a lista do CDS à Câmara de Lisboa, nas últimas autárquicas, deve ter tido mesmo um gosto amargo. A líder centrista tem agora sobre ela uma pressão enorme para as legislativas, eleições em que o seu partido vai testar o peso eleitoral depois de ter passado pela coligação com o PSD.
Ao contrário de Rio, Cristas tem o partido mais unido e uma oposição interna muito mas fraca. O que lhe dá margem para tentar recuperar deste desaire eleitoral até outubro. Mas o sonho de ser o "maior partido", que projetou no último congresso do CDS, parece longe.
À 1.10 de hoje, o CDS só tinha Nuno Melo eleito, estando em aberto a eleição de um segundo eurodeputado (Luís Pedro Mota Soares), obtendo 204 mil votos (6,2%). Nas últimas europeias em que se apresentaram autonomamente, as de 2009, os centristas elegeram dois eurodeputados, com 298 mil votos (8,37%)
No campeonato do centro-direita surgiu também um novo partido, o Aliança, de Pedro Santana Lopes. Sendo certo que não conseguiu eleger Paulo Sande, o cabeça-de-lista, a verdade também é que o partido se revelou o maior dos que não elegeram ninguém. "Líderes da Liga de Honra", disse Santana, que no entanto admitiu a "desilusão" com os resultados.
O ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro aproveitou também para, sinalizando a força crescente da esquerda, recordar a sua proposta de "convergência" dos partidos do centro-direita na perspetiva das próximas legislativas. A solução concreta porém não a avançou, dizendo que essa "convergência" tanto pode ser pré-eleitoral como pós-eleitoral. À 1.10 de hoje o Aliança registava 61,5 mil votos (1,87%).