Ricardo Veludo. Quem é a nova cara do urbanismo de Lisboa?

Sucessor de Manuel Salgado tem 47 anos e é o atual responsável pelo Programa de Renda Acessível da capital.
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O urbanismo, um dos pelouros com maior peso na Câmara de Lisboa, vai mudar de mãos. Depois de 12 anos no cargo, Manuel Salgado vai dar lugar a Ricardo Veludo, um engenheiro do território de 47 anos, que assume atualmente as funções de coordenador da equipa de missão do Programa de Renda Acessível.

Licenciado no Instituto Superior Técnico (IST), Ricardo Veludo é atualmente docente na Escola Superior de Atividades Imobiliárias.

O futuro vereador do Planeamento, Urbanismo, Património e Obras Municipais está na Câmara Municipal de Lisboa desde 2013, altura em que iniciou funções de apoio administrativo na área da habitação e do desenvolvimento local no gabinete da vereadora Paula Marques. Mais tarde viria a transitar para o gabinete das Finanças, liderado pelo atual vice-presidente da Câmara de Lisboa, João Paulo Saraiva.

Veludo foi candidato às últimas autárquicas nas listas do PS. Inicialmente, integrava as listas do Cidadãos por Lisboa (o movimento independente de Helena Roseta), mas pediu para ser retirado, entrando na lista pela "quota" dos próprios socialistas.

Antes de iniciar funções na autarquia lisboeta, colaborou com o município de Sines, tendo participado na elaboração de vários estudos e planos.

Fernando Nunes da Silva, professor catedrático do Instituto Superior Técnico e antigo vereador da mobilidade da Câmara de Lisboa, lembra-se de Ricardo Veludo como estudante no IST - "foi um dos melhores alunos de engenharia do território". "Convidei-o para trabalhar como bolseiro na minha equipa do centro de investigação, onde esteve durante muito tempo. Trabalhámos juntos durante vários anos", lembra. "Depois foi trabalhar para Sines, na câmara, onde estávamos a desenvolver vários planos e acabou por ficar por lá. É, aliás, daí que conhece o engenheiro João Paulo Saraiva [com quem vem a trabalhar na autarquia da capital]".

A saída de Manuel Salgado e a entrada de Ricardo Veludo para o pelouro do urbanismo é uma "mudança importante", na medida em que vem "remover um dos principais obstáculos a uma maior transparência e discussão da política urbanístico da câmara de Lisboa", defende o antigo autarca.

Há muito um acérrimo crítico da ação de Salgado enquanto responsável pelo urbanismo, Fernando Nunes da Silva diz ao DN que esta mudança no pelouro do urbanismo pode "ser um virar de página muito significativo", até por Ricardo Veludo ter feito "um percurso com uma perspetiva diferente da cidade". "É esperançoso. Agora veremos. Tenho confiança para acalentar esperança de que [o novo vereador] não se vai deixar trucidar pela pesada herança com que vai ter de lidar".

Salgado: "A vida pública piorou muito"

Manuel Salgado anunciou esta semana a renúncia ao cargo que ocupa há mais de uma década. Em entrevista ao jornal Expresso, o homem forte do urbanismo na autarquia da capital disse querer "abrandar um pouco". E garantiu que a decisão de deixar a vereação municipal "não é de agora". "Foi tomada no final do último mandato, em acordo com o Fernando Medina", disse ao semanário.

O arquiteto, de 75 anos, vai deixar a vereação em setembro. Na carta de renúncia ao cargo, divulgada pela agência Lusa, Salgado justifica a saída com a necessidade de "renovar os decisores e os procedimentos, abrindo novas perspetivas e permitindo novos olhares sobre os projetos para a cidade"."Nesse sentido, e porque entendo ter chegado o momento daquela renovação, venho apresentar a minha renúncia ao mandato de vereador da Câmara Municipal de Lisboa", refere a missiva, dirigida a Fernando Medina, na qual faz questão de afirmar que, aquando da constituição das listas para as últimas autárquicas, pediu que "ficasse logo salvaguardada a possibilidade" de substituição a meio do mandato.

No mesmo texto, Salgado queixa-se que "a vida pública e política piorou muito" ao longo dos últimos doze anos. "O clima de sectarismo, a possibilidade de manipulação dos 'media' e a difusão da mentira, da violência, e até do ódio, através das redes sociais, dificultam o diálogo sereno, o confronto de argumentos e a discussão aprofundada dos fundamentos das propostas", escreve Manuel Salgado. Ao longo dos últimos anos, Salgado esteve no centro de várias polémicas relacionadas com operações urbanísticas na capital. A última delas - o Portugália Plaza, um edifício de 49 metros projetado para a Avenida Almirante Reis - vai agora passar para as mãos do seu sucessor.

A esta perspetiva, Fernando Nunes da Silva contrapõe que foi Salgado "quem mais contribuiu" para esse ambiente, "apostando em factos consumados" e mostrando "muito pouca disponibilidade para aceitar opiniões diferentes". Para o professor catedrático, o arquiteto que agora deixa a autarquia teve uma ação meritória nos primeiros anos à frente do urbanismo, mas "depois não entendeu a mudança de contexto económico e a explosão do turismo que houve em Lisboa", acabando por "incentivar o aquecimento do mercado imobiliário" - "Criou uma verdadeira casa da moeda na cidade de Lisboa à conta do imobiliário. Isso foi muito pernicioso para a cidade".

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