Ribau Esteves: "Aqueles que estão a ponderar liderar o PSD é importante que o assumam publicamente"

Presidente da Câmara de Aveiro e antigo secretário-geral do PSD diz que ao assumir que pode ir à corrida às diretas no partido ajuda a refletir sobre o caminho que este tem de trilhar para liderar a oposição.
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Este compasso de espera de 20 dias para o presidente do partido marcar a data das eleições internas e respetivo congresso é positivo para o PSD?
O contributo do presidente Rui Rio para este processo de transição da sua liderança para uma nova, de um partido que teve uma pesada derrota na eleição legislativa para um partido que tem de iniciar um processo de afirmação de liderança da oposição, de construção de uma alternativa de governo e que que não tem a pressão externa de uma eleição próxima, é muito importante para que todos nós militantes do partido possamos aproveitar esse período de tempo, que Rui Rio referenciou como o primeiro semestre do ano, para debatermos uns com os outros sobre qual é o caminho que o partido social-democrata quer seguir. Em termos da sua reformulação interna, da reestruturação ao nível das suas estruturas nos vários patamares, ao nível das suas novas formas de comunicar, da nova imagem, das forma como reabilita os seus velhos e bons pilares sociais-democratas, como o humanismo e reformismo, entre outros, e como aborda os novos temas da política nacional e europeia, da transição digital, da problemática climática. E depois, obviamente, escolher a estrutura dirigente e não aquilo que o PSD tem feito nos últimos anos que costumo referenciar como a decisão vertiginosa de quem é o líder do partido.

Foi esse o grande problema do PSD, escolher lideranças e não escolher um caminho alternativo de poder ao PS?
Seguramente um dos grandes e graves problemas do PSD nos últimos anos foi estar prisioneiro dessa vertiginosa discussão, ou sobre se o atual líder não é bom - como aconteceu ao presidente Rui Rio e ter assaltos à liderança como aconteceu com o ataque de Luís Montenegro - e a sistemática discussão quando aparece alguma derrota eleitoral. Fui contra a posição de Rui Rio de fazer as diretas e o congresso antes do seu tempo normal, que seria fevereiro de 2022, e foi contra a disputa de diretas que o Dr.. Paulo Rangel veio fazer, quando o país já sabia que ia ter uma eleição legislativa. Houve gente que disse que isso era muito saudável para o PSD porque dava uma dinâmica e uma vitalidade. Foi um erro ter feito diretas e congresso em cima de uma eleição legislativa quando devia estar a fortalecer-se e a fazer campanha como o PS estava a fazer usando o governo. Agora, depois da derrota que tivemos, que PSD é que queremos como alternativa ao PS? Como sustemos o crescimento à nossa direita do Chega e da Iniciativa Liberal?

Deveria ficar claro que o Chega não é um partido a considerar no diálogo com o PSD?
O PSD deixou efetivamente o Chega assumir a liderança da oposição. Na nossa democracia, a liderança das oposições cabia ao PCP e há uns anos começou a ser partilhada com o BE. A partir do momento em que o PCP e o BE há seis anos decidiram ser parte da governação, com a célebre geringonça, alienaram a sua condição de partidos de protesto. E quando nasce o Chega é ele que assume a liderança de partido de protesto. Como o PSD não assumiu de forma vincada a liderança da oposição, nomeadamente na forma de protesto, claro que de forma razoável e correta como faz o partido e não da forma demagógica como faz o Chega, o partido de André Ventura liderou esse espaço. Por outro lado, ao PS e ao governo do país interessou imenso alimentar o Chega, porque quanto mais o alimentasse - como agora o primeiro-ministro dizer que não o recebe, quando é legal e teve eleitos -, mais forte estava e mais fraco estaria o PSD.

Citaçãocitacao"O PSD deixou efetivamente o Chega assumir a liderança da oposição."

O PSD tem de encontrar o espaço para anular esse processo...
Além das questões internas, o primeiro desafio do PSD é trabalhar para liderar a oposição ao governo que agora, ainda por cima, é de maioria absoluta. O PSD tem de desenhar uma estratégia e uma operação de terreno, que use os seus autarcas, deputados e militantes para fazer uma oposição que lidere e ao mesmo tempo construa uma alternativa de governo.

Mas não é contraditório dizer que o partido precisa de refletir primeiro e assumir que está a ponderar uma candidatura à liderança?
Assumi precisamente para contribuir para essa reflexão. Decidi dizer publicamente para que todos os meus companheiros de partido saibam que estou a ponderar, as minhas ideias principais são estas e, portanto, está aqui o meu contributo para induzir a reflexão. Há companheiros que sabemos que também estão a ponderar, mas estão calados e isso ajuda muito à reflexão? A mim parece-me que não. É o jogo escondido do costume, dos lóbis, do controlo de votos, dos apoios da estrutura? Isso não é saudável para o PSD.

Está a referir-se a Luís Montenegro, Paulo Rangel...
Sim e Jorge Moreira da Silva e Miguel Pinto Luz.

Eles deveriam então assumir já que estão a ponderar entrar na corrida à liderança?
Acho muito importante que aqueles de nós que estão a ponderar liderar o partido o assumam publicamente e que digam os princípios gerais dessa sua perspetiva sobre o partido. Eu já o fiz. Se nenhum de nós fizer isso, não há reflexão nenhuma, há apenas a lógica de controlar votos, contar espingardas e tentar ganhar as eleições pelo maior número de votos. Isso não interessa ao PSD. Eu não tenho exército nem quero ter e não vou ter. O exército que interessa aqui são os militantes do PSD, o futuro que interessa não é gostar mais do A ou do B é definir que PSD se quer e, nesse quadro, assumindo as linhas gerais dos potenciais candidatos. Depois eu decido ok, este é o PSD que eu quero e dos que estão a ponderar é este que é o melhor.

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