Retrato de uma banda num pico de forma

Editado em agosto de 1966, 'Revolver' foi o único álbum de originais que os Beatles lançaram nesse ano. E revelava uma banda entregue a novos desafios.
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Título: "Revolver"

Data de edição: 5 de agosto de 1966

Editora: Parlophone

Produtor: George Martin

Os Beatles partiram para a estrada mal editaram o álbum Rubber Soul, em finais de 1965, mal imaginado então os seus admiradores que essa seria a sua última digressão britânica. E quando voltaram da estrada pararam por algumas semanas. E quando entraram em estúdio, em abril de 1966, iniciavam um período de três intensos meses de trabalho dos quais nasceria um álbum que os levaria ainda mais longe que as sugestões de mudança levantadas em Help! e os sinais de revolução apresentados em Rubber Soul.

Editado em agosto de 1966, Revolver surgiu oito meses após o álbum anterior, um intervalo mais longo que o que alguma vez até então separara lançamentos de álbuns dos Beatles. Mas bastou certamente a quem então o ouviu uma única primeira audição para compreender o porquê de tão longa ausência. O disco mostrava sinais evidentes de uma banda em plena forma, consciente das suas capacidades na escrita e composição e mais decidida que nunca em aceitar os desafios da experimentação que o estúdio de gravação colocava nas suas mãos. Produzido uma vez mais por George Martin, o álbum contou com a importante contribuição de um novo engenheiro de som, o jovem de 20 anos Geoff Emerick, que foi o responsável pelas gravações e abraçou em pleno o clima de aventura que ali floresceu durante as cerca de 300 horas de trabalho que a criação deste álbum envolveu.

Integralmente feito de originais da banda - das sessões nasceriam ainda os dois temas editados no single Paperback Writer, entretanto editado - Revolver apresentava três canções de George Harrisson, entre elas o elétrico Taxman, a abrir o alinhamento e o exótico Love You To, que aprofundava a sua relação com o sitar e as formas da música indiana. Entre as composições da dupla Lennon/McCartney nota-se uma expressivo alargar de horizontes. Eleanor Rigby coloca em cena um octeto de cordas. Yellow Submarine traduz uma mais profunda gestão de acontecimentos cénicos (alguns deles recrutados em fitas de arquivo dos estúdios Abbey Road). E o visionário Tomorrow Never Knows, tema que encerra o alinhamento, traduz um evidente interesse do grupo pelas mutações então em curso na linha da frente do underground pop/rock londrino. A emergência do psicadelismo não passa assim longe do universo das atenções dos Beatles. O fenómeno, de resto, conta este como um dos primeiros álbuns a refletir esse presente musical então em construção (antes de experiências mais profundas que o grupo continuaria a desenvolver em 1967).

A capa revela outro espaço de inovação. Depois de uma sucessão de fotografias da banda, o grupo pediu a Klaus Voorman, um amigo dos dias de Hamburgo, em finais dos anos 50, que criasse uma visão para Revolver. Entre o desenho e a colagem de várias fotografias do grupo (o próprio artista surgindo entre uma fresta nos cabelos de Harrisson) surgiu uma imagem que ajudou a vincar a personalidade de um álbum que não só fez história como hoje é frequentemente apontado entre um dos melhores discos de sempre e, para alguns, o melhor dos Beatles (aqui, contudo, as opiniões vão variando...).

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