Resiliência, Determinação e Sacrifício

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A Segunda Guerra Mundial foi um ponto de viragem na nossa história partilhada. Os valores e liberdades que hoje, como nações e sociedades, damos por adquiridos, estiveram em risco de serem varridos pela tirania nazi na década de trinta. As forças que se aliaram contra a democracia eram mais poderosas que qualquer inimigo que as nossas sociedades livres tinham enfrentado até então. Foram necessários força e sacrifícios extraordinários para as superar.

Temos uma dívida incalculável para com aqueles que fizeram esse sacrifício e enfrentaram esse desafio durante a Segunda Guerra Mundial, tanto com os que combateram na linha de frente como com os que o fizeram nos seus países, defendendo as suas comunidades. Nasci mais de duas décadas depois do fim da guerra e, no entanto, a cada ano que passa sinto mais fortemente a necessidade de honrar esse sacrifício e de recordar a extraordinária coragem e resiliência da geração que nos deu a paz e prosperidade que temos o privilégio de desfrutar hoje.

Neste ano de 2020, as pessoas na Europa irão assinalar o Dia da Vitória na Europa a partir das suas casas. No Reino Unido, as comemorações oficiais começam às 11 horas com um momento de recordação a nível nacional e dois minutos de silêncio. Sua Majestade a Rainha Isabel II irá falar ao povo britânico às 21 horas, precisamente à mesma hora que o seu pai, o Rei Jorge VI, fez um discurso na rádio proclamando a vitória na Europa em 1945. Membros da Família Real Britânica, o Primeiro-Ministro britânico e o Primeiro-Ministro do País de Gales, participarão numa série de conversas em vídeo com veteranos da Segunda Guerra Mundial e com aqueles que serviram na "Frente Interna".

Sei que as pessoas em toda a Europa, incluindo obviamente os portugueses, abraçarão a oportunidade para partilhar este momento. Na realidade, apesar da sua neutralidade, Portugal teve um papel crucial na guerra. Como aprendemos com a maravilhosa história de Aristides de Sousa Mendes, Portugal foi uma rota fundamental para a fuga de dezenas de milhares de judeus e de outros povos perseguidos. E a decisão do Governo Português de permitir o acesso das forças armadas britânicas e americanas à Base das Lajes, na ilha Terceira, foi extremamente importante na Batalha do Atlântico. O Primeiro-Ministro Winston Churchill reconheceu-o quando disse na Câmara dos Comuns:

"Aproveito esta oportunidade para deixar registado o agradecimento do Governo de Sua Majestade, que, não tenho dúvida, é partilhado pelo Parlamento e pela nação britânica, à atitude do Governo Português, cuja lealdade ao seu Aliado Britânico nunca vacilou nas horas mais sombrias da guerra."

A maior parte de nós pertence hoje às duas gerações que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Em quase todas as famílias existem memórias de experiências de guerra que podem ser partilhadas e recontadas, mantendo viva a recordação daqueles que morreram e do espírito com que acabaram por eventualmente superar esse grande mal que o mundo enfrentou naquele tempo.

Há algo desse extraordinário espírito de guerra que ainda subsiste entre nós. O Capitão Tom Moore, que fez recentemente 100 anos, combateu na Índia e na Birmânia durante a Segunda Guerra Mundial. Numa das histórias mais comoventes e inspiradoras do nosso tempo, fixou o objetivo de angariar 1,000 libras para ajudar o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a responder à pandemia do coronavírus - dando voltas no seu jardim. No dia do seu aniversário, já tinha angariado quase 33 milhões de libras.

Hoje recordamos todos aqueles que deram a sua vida pela paz, pela liberdade e pela derrota da tirania. Temos o privilégio de ter ainda entre nós alguns dos que combateram e sobreviveram. Embora não possamos passar tempo com eles pessoalmente este ano, encontraremos tempo nos nossos pensamentos para todos os veteranos que trouxeram paz à Europa. E no espírito da reconciliação recordaremos também aqueles que lutaram do outro lado do conflito. Para eles e para as suas famílias, a guerra também não foi um sacrifício menor.

Estes momentos de recordação importam e tenho certeza de que milhões quererão juntar-se para recordar e agradecer àqueles que, há 75 anos, nos deram tudo o que tinham e muito mais.

Embaixador do Reino Unido em Portugal

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