Neste ano não há nomes como Bruno Pernadas, Ana Deus ou Pop Dell"Arte. A 11.ª edição do Rescaldo, que arranca amanhã, é antes um regresso às raízes do festival, criado em 2007. Porque "continua a fazer todo o sentido ter um festival com estas características que arrisca em revelar nomes que estão a fazer música com muito interesse e que precisam de ser divulgados", defende Travassos, o fundador e programador do evento..Com a saída de Miguel Lobo Antunes da direção da Culturgest e a entrada, em outubro do ano passado, de Mark Deputter, esta será a última edição do festival a fazer parte da programação da sala lisboeta inaugurada em 1993 e pertencente a uma fundação da Caixa Geral de Depósitos. Um apoio que, reconhece Travassos, foi determinante para a afirmação do Festival Rescaldo. "Ter o apoio de uma instituição como a Culturgest, com a credibilidade e os meios de que dispõe, sejam as condições técnicas ou a máquina de produção e promoção, foi fundamental", afirma..A procura de alternativas está em marcha, mas por agora é tempo de falar desta edição, em que, assume, volta a correr maiores riscos, apesar de, defende, ter "um programa equilibrado, com concertos suficientemente apelativos" para manter a moldura humana que "nos últimos cinco anos tem garantido salas bem compostas de público". "Para esta edição, decidi não levar nenhum daqueles nomes mais conhecidos. É claro que tenho, por exemplo, o histórico Rafael Toral, o Pedro Centeno, o Quim Albergaria ou o Vítor Rua. Mas esta não é uma edição, é um voltar às raízes." Ou seja, volta a haver uma aposta mais forte em novos valores. E em vários estilos musicais, como é, de resto, habitual neste festival que começou por ter como casa o teatro A Barraca. "Um espaço com carisma, mas com uma acústica terrível", recorda..Dos novos valores, Travassos destaca o concerto inaugural, de Maria da Rocha, uma jovem violinista e violetista portuguesa, "com formação em música clássica, que tem feito carreira sobretudo entre Berlim e Estocolmo, mas que agora pretende afirmar-se em Portugal". Será amanhã às 21.30, no Pequeno Auditório da Culturgest, que vai apresentar o seu novíssimo trabalho, Beetroot & Other Stories, disco de estreia a solo a lançar nesse dia pela editora Shhpuma, onde o violino surge acompanhado pela eletrónica. Um álbum que surge após Pink, trabalho editado em 2015, em duo com Maria W. Horn..Tal como aconteceu na edição de 2017, também neste ano haverá um concerto no Panteão Nacional. Será no domingo, dia 18, pelas 16.30, e a protagonista é a pianista bracarense Joana Gama, que em janeiro protagonizou uma maratona de 14 horas a tocar a peça Vexations do compositor francês Erik Satie, na Fundação Calouste Gulbenkian. Satie volta a estar presente neste recital a solo, para o qual, juntamente com Travassos, escolheu um repertório adequado ao espaço, que inclui o minimalista Morton Feldman e ainda John Cage. "Acho que vai ser um concerto muito especial porque o Panteão tem características acústicas únicas", refere Travassos. A entrada é gratuita, mediante o pagamento do ingresso no monumento (4 euros). Joana Gama terá duas atuações neste Rescaldo. Antes, no sábado, atua no Pequeno Auditório da Culturgest ao lado das eletrónicas de Luís Fernandes e do violoncelo e da eletrónica de Ricardo Jacinto. Juntos apresentam o projeto Harmonies, álbum editado no ano passado pela Shhpuma, que no dia seguinte poderá também ser ouvido ao vivo no Teatro Circo, em Braga..A eletrónica tem forte presença na programação, refletindo o muito que se está a fazer nesta área. "Sobretudo em Lisboa, há miúdos, de 16, 17, 18 anos que estão a fazer coisas muito boas." Mais do que a presença destes novos valores, Travassos programou a combinação de diferentes gerações. É o que aconte- cerá, por exemplo, no segundo fim de semana, na sexta-feira 23, quando as eletrónicas de Daniel Neves, aka MMMOOONNNOOO, se juntarem com a bateria de Quim Albergaria na garagem da Culturgest. "O Daniel está a criar uma música nova. Quando era miúdo gostava de ouvir metal e isso ainda se ouve na música que está a criar, com um som por vezes mais dark e com beets gordos", sublinha Travassos. E à sua criatividade junta-se "o músculo da bateria de Quim Albergaria"..O concerto de encerramento "é uma das maiores apostas e está a gerar grandes expectativas", sublinha. Será uma colaboração inédita de dois dos mais altos representantes da criação artística musical no Porto. A música dos 10 000 Russos junta-se às criações do compositor Jonathan Uliel Saldanha. "Ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Mas eles têm andado a ensaiar muito." Para ouvir, no dia 24.