O tiro de partida para o julgamento de Donald Trump no Senado dos EUA é dado na próxima segunda-feira, com a entrega da acusação de impeachment por parte da líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. As regras dizem que os senadores devem quase de imediato focar-se neste tema, mas um acordo poderá adiar os procedimentos. O líder republicano, Mitch McConnell, quer dar mais tempo à defesa de Trump para se preparar, enquanto o democrata Chuck Schumer poderá aproveitar para avançar no processo de confirmação da nova administração de Joe Biden.."Falei com a speaker Pelosi, que me informou que o artigo será entregue ao Senado na segunda-feira", disse ontem Schumer durante uma intervenção nesta câmara. "Não se deixem enganar: haverá um julgamento no Senado dos EUA e um voto para condenar ou não o presidente", acrescentou, dizendo que "os senadores vão ter de decidir se acreditam que Donald John Trump incitou à insurreição contra os EUA"..Em causa está a invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro, durante a sessão de confirmação da vitória eleitoral de Biden, da qual resultaram cinco mortes. Horas antes, Trump tinha discursado para os seus apoiantes e voltado a reiterar falsamente que tinha sido ele a ganhar as presidenciais de 3 de novembro. A 14 de janeiro, a Câmara dos Representantes aprovou com 232 votos a favor (incluindo de dez congressistas republicanos) e 197 contra o histórico segundo impeachment - o presidente foi ilibado do primeiro, em fevereiro de 2020..Trump já tinha os dias contados na Casa Branca, mas os especialistas dizem que o processo pode avançar mesmo depois de ele ter deixado a presidência. Há, contudo, quem considere o contrário - os pais fundadores terão debatido o tema e optaram por não especificar na Constituição -, pelo que será de esperar que o caso acabe nos tribunais se o ex-presidente for condenado. Para tal, são precisos os votos de dois terços do Senado (67 dos cem senadores), sendo certo que os democratas são apenas 50..Neste momento, segundo o The Washington Post, 42 senadores apoiam o impeachment, 28 são contra, 19 estão abertos a ouvir os argumentos e a destituí-lo e 11 ainda não se pronunciaram. Caso condenem Donald Trump, os senadores serão chamados a uma segunda votação, que pode passar com maioria simples. Aí vão decidir afastá-lo, ou não, de qualquer cargo público e de uma eventual candidatura presidencial em 2024..O líder da minoria no Senado tinha sugerido adiar o processo de impeachment de Trump até fevereiro. McConnell, que criticou o presidente e deixou a porta aberta à condenação, defendia a entrega da acusação ao Senado apenas a 28 de janeiro. E, depois disso, dar duas semanas de prazo para que a equipa de defesa de Trump pudesse preparar-se, já que o procedimento na Câmara dos Representantes foi acelerado e decidido num só dia. O julgamento começaria então em meados de fevereiro, dando tempo para o Senado avançar com o resto das audiências de confirmação dos nomes da nova Administração..Mas os congressistas democratas, com Pelosi à cabeça, sempre defenderam que o processo devia avançar o mais rapidamente possível, alegando que é impossível começar a unir o país - como Biden pretende fazer - antes de ultrapassar este obstáculo. A líder da Câmara dos Representantes acabou por deixar passar a semana da tomada de posse do novo presidente antes de avançar no processo contra o anterior, na próxima segunda-feira. A entrega dos artigos desencadeia a leitura das acusações e transforma de imediato o Senado num tribunal com cem jurados..Não é claro, contudo, quando é que os argumentos iniciais vão ser ouvidos. O Senado está dividido (50-50), pelo que será preciso um acordo entre os democratas (que com o voto da vice-presidente, Kamala Harris, estão teoricamente em maioria) e os republicanos para decidir as regras do julgamento. Schumer e McConnell estão há dias a negociar o tema, além de outras regras do Senado, nomeadamente a possibilidade de dividir o tempo e tratar do impeachment de manhã e continuar com as audições para dar a luz verde à administração de Biden à tarde.."Não pode haver um processo que seja insuficiente e que negue ao ex-presidente um julgamento justo ou que prejudique o Senado ou a presidência", defendeu Mitch McConnell, acrescentando que o atraso também ajudaria a avançar na confirmação da administração e no debate sobre o pacote de ajuda económica de 1,9 biliões de dólares que Biden quer aprovar para responder à pandemia de covid-19. Daí que alguns democratas estejam também abertos a esta ideia..A congressista republicana Marjorie Greene, defensora das teorias de conspiração do movimento QAnon e apoiante de Donald Trump, anunciou ter dado entrada com um pedido de impeachment de Joe Biden, um dia depois de este ter tomado posse. Greene, eleita nas últimas eleições pela Georgia, disse que o pedido de destituição se baseia "nas ações corruptas" de Biden na Ucrânia e no seu "extenso e perturbador padrão de abuso de poder" enquanto vice-presidente, e "por permitir que o seu filho, Hunter Biden, recebesse dinheiro dos maiores inimigos da América, a China e a Rússia". A congressista republicana foi uma das que recusaram reconhecer a vitória eleitoral de Joe Biden.