O Presidente da República matou esta-sexta-feira saudades dos avós minhotos, fez a barba no único estabelecimento sobrevivente à renovação do largo do Intendente e alertou para os perigos do turismo e da consequente pressão imobiliária em Lisboa..Marcelo Rebelo de Sousa, sempre abordado por transeuntes - desde habitantes locais de sempre aos mais recentes e até membros das comunidades do Bangladeche e do Nepal - começou por voltar ao Grupo Excursionista e Recreativo "Casa dos Amigos do Minho", soprando as velas do bolo do 67.º aniversário, manchado pela "triste notícia" de abandono das instalações dentro de dois domingos.."Agora é a moda [o largo do Intendente]. Imediatamente, as vítimas são os inquilinos, nomeadamente as antigas coletividades, mas está a acontecer por todo o centro de Lisboa...", lamentou o chefe de Estado..À entrada e à saída do prédio da Rua do Benformoso, entre restaurantes asiáticos, Marcelo Rebelo de Sousa foi "atacado" pela população maioritariamente sexagenária "dos Amigos do Minho" para beijinhos, abraços e a "imagem de marca" das fotografias com telemóvel..A madeirense Eugénia "fadista" Maria, 66 anos, insistiu e o Presidente interrompeu mesmo a banda do baile pós-almoço, com mais de 100 pessoas, para a ouvir. "Ai, queria tanto cantar para ele, soube mesmo bem, mas olhe que eu só votava no Alberto João, este Albuquerque, agora não", disse, referindo-se aos governantes sociais-democratas da "pérola do Atlântico".."Temos de evitar que as pessoas, de repente, venham a Lisboa para ver estrangeiros. Não veem lisboetas e vão aos lugares típicos para ver franceses, brasileiros, asiáticos, africanos. Não é que não seja interessante, mas convinha haver pessoas e coletividades com a maneira de ser de quem vive em Lisboa", insistiu o Presidente, conduzido até à barbearia instalada há 110 anos no agora renovado largo, que já viveu muitos e continua a viver alguns dramas de droga e prostituição..A cicerone de serviço foi Marta Silva, antiga bailarina, há muito ligada a projetos artísticos e de integração social e dirigente da cooperativa Largo Residências, um projeto que contempla um hostel, onde também há espaço para patrocinar artistas de várias áreas, um café-concerto e muitas iniciativas de integração e formação da população com outras entidades e instituições locais..Foi já sentado na cadeira do barbeiro Júlio Cunha, 82 anos, que continua o negócio inaugurado pelo pai, que Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para fazer a barba, com espuma e navalha, algo que o profissional considerou como "a cereja no topo do bolo" da carreira, embora adiantando que o atual primeiro-ministro e antigo edil lisboeta, António Costa, também frequentou a sua loja, quando teve o gabinete naquela zona..Paulo Cunha, filho do barbeiro, e presidente do Sport Clube Intendente, fundado pelo seu avô e outros dois amigos há mais de 80 anos e que continua a acolher festas e eventos, também lastimou o facto "quase inevitável" de ter de abandonar as instalações da coletividade "algures em 2018", em virtude do fim dos prazos impostos pela "lei das rendas", provavelmente para dar lugar a mais hotéis ou apartamentos..Continuando o passeio, com uma ou duas abordagens de pessoas menos amistosas e visivelmente sob a influência de substâncias, o Presidente da República visitou as instalações do Largo Residências, ficou a conhecer os projetos artísticos e outros e também ouviu e falou do tema da "gentrificação" (alteração e desvirtuamento da população local em virtude de empreendimentos económicos), com outros elementos ligados àquelas iniciativas..O chefe de Estado foi ainda "brindado" com uma pequena atuação do Grupo Limpeza Urbana Musical, cuja especialidade é a percussão com caixotes de lixo e materiais reciclados e experimentou a sensação de fazer de cabos de vassoura baquetas e dos contentores tambores.