REPORTAGEM: Ativista sugere mais impostos para produtos embalados

Porto,14 abr 2019 (Lusa) -- A ambientalista Ana Milhazes, embaixadora do Movimento Lixo Zero em Portugal, defende que os governos deviam "taxar mais" os produtos embalados e "aliviar a carga fiscal" das vendas a granel para "estimular" a redução de plástico no ambiente.
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"Era uma forma de diminuir as embalagens produzidas e de beneficiar quem compra a granel", explica a ativista de 34 anos, sustentando que "só assim" a sociedade, já bastante convencida da necessidade de reciclar, passará a "produzir menos lixo".

Em entrevista à Lusa, Ana Milhazes sugere ainda que a taxa de gestão de resíduos, atualmente anexa e proporcional à fatura da água, seja paga em função do "lixo efetivamente produzido", algo cuja contabilidade pode ser feita como acontece noutros países, onde cada família tem um cartão que a identifica no depósito de resíduos.

"Quase não produzo lixo, e o valor a taxa de gestão de resíduos é maior parcela da fatura da água", lamenta.

Para Ana, mais do que reciclar, é preciso "recusar e reduzir para prevenir a produção de lixo". Foi essa a missão com que se comprometeu em 2016, quando fundou o Movimento Lixo Zero, passando a encaminhar os restos alimentares para a compostagem e a "dizer não ao plástico".

O empenho foi tanto, e na altura era tão complicado "encontrar tudo na mesma loja", que o movimento resolveu mapear digitalmente as lojas que vendem sem embalagens, criando o site agranel.pt.

Ao mesmo tempo, Ana passou a "apanhar o lixo dos outros", nomeadamente nas praias.

Numa dessas ações de limpeza, reuniu "oito mil cotonetes", ou o que resta deles, depois de passarem pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais.

Nestas iniciativas, colabora com a associação Cultura Curto Espaço, onde algumas das coisas encontradas nos areais ficam guardadas e expostas para memória futura.

"Já encontrámos uma escova de dentes dos anos 70 e caricas muito antigas, ou embalagens de lixívia e de peixe congelado. São coisas que ficam no ambiente por séculos", refere.

A ambientalista praticamente deixou de produzir lixo e as viagens aos ecopontos para depositar os resíduos caseiros são feitas "de dois em dois meses".

Ainda assim, há coisas que não são recicláveis: os Tupperware, porque "o tipo de plástico é diferente do das embalagens mais comuns" e "as empresas dizem não ter condições para os reciclar".

"Há pessoas que, quando adotam um estilo de vida Lixo Zero, querem livrar-se de todo o plástico que têm em casa. Mas não é permitido reciclar os Tupperware, embora sejam de plástico", observa.

A alternativa é "continuar a usá-los para coisas frias" ou como "organizadores de gavetas".

O que devia "deixar de existir", na opinião da ativista, são "os saquinhos de plástico fininhos", habitualmente usados para as frutas ou legumes.

"O plástico mais resistente é o mais fácil de ser reciclado. Com o plástico mais fino, o processo torna-se mais complicado", justifica.

Ana alerta que "a maior parte das empresas não recicla os tabuleiros de esferovite onde são colocadas muitas embalagens", pelo que "o melhor é levar caixas de casa" -- frascos de vidro, por exemplo.

"Na área alimentar ou de higiene, não faz sentido continuar a usar plástico. Tal como não fazem sentido os copos descartáveis. Não há desculpas, porque todas as opções descartáveis tem alternativas reutilizáveis", diz.

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