Rentrée literária forte e com livros um pouco mais caros
A rentrée literária deste ano vai provocar água na boca aos leitores tal é a quantidade de bons livros que estão para chegar entre esta semana e até ao Natal. E não se pode dizer que seja uma ou outra editora especificamente que aposta forte porque é o que acontece com todas conforme se pode ver nas listas de novidades que já divulgaram. Portanto, é bom começar a pôr algum dinheiro de lado porque há muitos livros sedutores e até títulos que se irão tornar sucessos editoriais pela certa. Mesmo que se note um ligeiro aumento do preço de venda ao público dos livros, situação que tem vindo a acontecer ao longo deste ano. Designadamente nos livros de preço médio, entre os 14 e os 18 euros, e mais notoriamente naqueles acima dos 20 euros, nos quais as editoras tabelam pelos 22 euros para que, com o desconto nas grandes superfícies, surjam abaixo das duas dezenas de euros.
Se houvesse que destacar um dos best-sellers obrigatórios desta estação, ele poderia ser o novo livro que dá continuação à saga Harry Potter, uma história original de J.K. Rowling que foi adaptada por John Tiffany e Jack Thorne ao teatro. A peça Harry Potter e a Criança Amaldiçoada tem todos os ingredientes para, a partir já do dia 24, liderar as tabelas de vendas, até porque a adaptação está conseguida e os leitores das intrincadas histórias do jovem feiticeiro - aqui muito mais velho - não desiludiu os que já leram a versão inglesa.
Entre as outras grandes novidades estrangeiras está o romance sensação da Feira de Frankfurt de 2014, As Raparigas, da estreante Emma Cline. Um livro que tem como cenário a Califórnia no verão de 1969 e é protagonizado por Evie, uma adolescente insegura e solitária que se junta a um grupo de raparigas e fica fascinada com a aura de abandono que as envolve. O enredo do romance não se destina a leitores jovens, antes a todos pois existe uma ligação ao assassino psicopata Charles Manson, e está repleto de drogas e amor livre. Está a ser traduzido em 25 países e prevê-se a sua adaptação cinematográfica para breve.
A nível das grandes novidades nacionais, estão dois romances completamente diferentes, além do tradicional romance de outono de António Lobo Antunes, que o próprio considera um dos seus melhores trabalhos.
Trata-se de mais um thriller de José Rodrigues dos Santos, que interrompe a publicação da trilogia em curso e retorna ao seu protagonista mais bem sucedido, Tomás de Noronha. O livro tem como título Vaticanum e não será editado como é habitual no fim de outubro mas logo no início, a dia 6.
A outra novidade portuguesa que é aguardada com bastante interesse é o regresso à ficção do escritor Valter Hugo Mãe após o bem sucedido romance A Desumanização. A história passa-se no Japão de há alguns séculos e relata a convivência entre o artesão Itaro e o oleiro Saburo, que habitam numa região de conflitos e onde é difícil manter uma boa vizinhança. O romance intitula-se Homens imprudentemente poéticos, um título que só por si faz suspeitar da beleza existente nesse texto.
Fora destes prometidos sucessos literários, existem ainda alguns grandes romances estrangeiros e nacionais até ao fim do ano. É o caso do novo livro do autor norte-americano Don de Lillo, intitulado Zero K, bem como o livro póstumo de Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe, onde reúne dispersos.
Em português, acontece o regresso de um autor que até há pouco era um ilustre desconhecido, José Gardeazabal, que recebeu com História do Século Vinte o Prémio INCM/Vasco Graça Moura) e agora vai publicar Dicionário de Ideias Feitas em Literatura. Ainda sem uma certeza de publicação, está o novo romance de Hélia Correia. Já tem título, Um Bailarino na Batalha, mas desconhece-se se a bissexta autora o entregará à editora antes do Natal.
Algumas novidades
O livro que mais vende em todo o mundo, a Bíblia, será uma das grandes novidades desta rentrée literária nacional. Porquê? É que o tradutor da Ilíada e Odisseia, Frederico Lourenço decidiu pôr mãos à obra e propõe aos leitores uma nova versão da obra, que permite ler todos os 80 livros que fazem o relato religioso. O primeiro volume sai ainda este mês.
A história violenta da participação das mulheres russas no Exército Vermelho é outra das grandes novidades, uma das investigações que deu o Prémio Nobel a Svetlana Alexievich.
O título é simples, A Vegetariana, e a autora, Han Kang, uma quase desconhecida até ter recebido com este romance intrigante o prémio Man Booker. Tudo começa quando a protagonista tem um sonho e decide tornar-se vegetariana, o que vai ter sérias implicações na sua relação com a família.
José Viale Moutinho recolhe e explica Todos os Contos, Novelas Curtas e Romances Breves de Camilo Castelo Branco numa série de quatro volumes da Camiliana, que inclui também Cartas Escolhidas e Textos Polémicos.
Se há autor que reúne consenso sobre a sua genialidade, mesmo que seja um machista e reacionário declarado, é o brasileiro Nelson Rodrigues. Os leitores vão ter acesso a duas coletâneas de textos: A Vida Como Ela É... e O Homem Fatal.
É, sem dúvida, um dos autores estrangeiros que mais convenceu os portugueses a ler um longo relato romanesco inspirado na sua vida familiar. Trata-se de Karl Ove Knausgard que, depois de A Minha Luta, vai ter publicados quatro volumes de ensaios com títulos das estações do ano. O primeiro será Outono.
O sisudo autor Ian McEwan decidiu alterar o rumo da sua carreira e escrever uma comédia: Numa Casca de Noz. Vai ser uma surpresa, porque além da história bastante original é tão divertida como cáustica.
Entre os grandes ensaios desta rentrée está o volume Violência e Islão do poeta sírio Adonis. Apesar da sua poesia não ser publicada em Portugal, este conjunto de textos explica o poeta e a sua visão sobre o extremismo islâmico, desde Palmira a Paris, do fracasso da Primavera Árabe ao ressurgimento do Estado Islâmico.
A visão de Thomas Mann sobre os grandes acontecimentos políticos e sociais do seu tempo vão ser publicados no volume Um Percurso Político. Uma análise a não perder já na próxima semana.
O tema religião está cada vez mais presente na sociedade e é dessa realidade que o teólogo Anselmo Borges produz um magnífico ensaio, intitulado Deus, Religiões e (In)Felicidade.
Falar de literatura é o objetivo de Julio Cortázar em Aulas de Literatura - Berkeley, 1980, onde se reproduzem as aulas do autor de Rayuela.
Os leitores têm exigido produção ensaística e são vários os volumes nesta rentrée. Destaque para Do Medo à Esperança, uma investigação a quatro mãos de Raquel Varela e António Coimbra de Matos sobre como vencer o medo social e individual. Ou Quem Governa o Mundo?, de Noam Chomsky; O Euro, de Joseph Stiglitz, e A Guerra Secreta, do historiador Max Hastings.
Para quem gosta de rock, sairá ainda este mês a autobiografia de Bruce Springsteen, que promete grandes revelações, tal como explicar o truque de magia com que consegue seduzir milhares de fãs em espetáculos, bem como intimidades da sua vida criativa.
Os policiais estão na moda em Portugal e os leitores terão direito a uma boa dose de suspense até ao Natal. É o caso dos novos de Dolores Redondo, Oferenda à Tempestade, que completa a Trilogia do Baztán; ou o Sara Blaedel com o Trilho da Morte, e Rex Stout com Picada Mortal, mais um volume da Coleção Vampiro.
Não faltarão livros para os mais jovens e A Rainha das Cores, de Jutta Bauer, é já o primeiro. A premiada ilustradora alemã recebeu o Prémio Hans Christian Andersen, o "pequeno" Prémio Nobel da Literatura. A seguir, regressam as aventuras de Robert Muchamore, desta vez com A Academia. Em novembro, o aguardado 11º volume da série O Diário de um Banana, Tudo ou Nada.
Não vão faltar outros livros de autores portugueses. É o caso de Conversas no Café Gelo, de Victor Sousa Lopes, onde se conta o tempo de há 70 anos, quando se acolhiam refugiados da II Guerra Mundial. Mas há mais, como o esperado de Adoração de Cristina Drios; o inesperado O Evangelho segundo Lázaro, de Richard Zimler; contos de Teolinda Gersão, Prantos, amores e outros desvarios; o novo de Adília Lopes, Bandolim; As fabulosas histórias da Tapada de Mafra, de Cristina Carvalho; o romance de Álvaro Laborinho Lúcio, O Homem que Escrevia Azulejos; A Ira de Deus Sobre a Europa, de José Rentes de Carvalho...