Relatório denúncia abuso sexual infantil em lares de Londres durante 30 anos

Documento diz que 705 ex-residentes denunciaram agressões sexuais, violação e outras formas de abuso em três lares infantis no bairro de Lambeth, sul de Londres. "Ao longo de várias décadas, crianças em lares sofreram níveis de crueldade e abuso sexual difíceis de compreender", refere responsável pelo relatório.
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Centenas de crianças sob os cuidados de lares londrinos, em Inglaterra, terão sofrido níveis de abuso sexual e negligência "difíceis de compreender", ao longo de 30 anos, de acordo com o relatório público britânico sobre abusos infantis.

O Independent Inquiry into Child Sexual Abuse -- IICSA (Inquérito Independente sobre Abuso Sexual Infantil, em tradução simples) refere que, entre as décadas de 1960 e 1990, funcionários de lares no bairro de Lambeth, no sul de Londres, trataram as crianças como "desprezíveis".

O IICSA adianta que funcionários colocaram crianças vulneráveis no destino de criminosos sexuais que se infiltraram em lares infantis e em casas de adoção, tendo "consequências devastadoras para a vida das vítimas".

"Ao longo de várias décadas, crianças em lares e lares adotivos sofreram níveis de crueldade e abuso sexual difíceis de compreender", disse a responsável pelo relatório, Alexis Jay, citada pela agência noticiosa AP.

Crianças que denunciaram maus-tratos foram desacreditadas e expulsas, segundo o IICSA.

"Por muitos anos, o 'bullying', a intimidação, o racismo, o nepotismo e o sexismo prosperaram no Conselho de Lambeth, e tudo devido a um pano de fundo de corrupção e má gestão financeira", acrescentou a responsável.

O documento apresentado esta terça-feira revela que 705 ex-residentes denunciaram agressões sexuais, violação e outras formas de abuso em três lares infantis de Lambeth, e várias crianças relataram os crimes no momento em que ocorreram.

Em cerca de três décadas, segundo a AP, apenas um funcionário foi alvo de um processo disciplinar.

No relatório é exposto que muitos funcionários do Lambeth Council (Conselho de Lambeth) mostraram "um desprezo cruel pelas crianças vulneráveis, pelas quais eram pagos para cuidar" e que "o racismo era evidente no tratamento hostil e abusivo" recebido por crianças negras sob os seus cuidados.

O IICSA informou ainda que estimulou a polícia a considerar se havia base para uma investigação criminal sobre a morte de um menino, que se suicidou numa casa de repouso em 1977, após denunciar ter sido vítima de abuso por parte de um funcionário sénior.

A atual líder do Conselho de Lambeth, Claire Holland, disse que a autoridade local estava "profundamente arrependida" pelo abuso "chocante".

Husna-Banoo Talukdar, que disse ter sido abusada de forma repetida em lares, em Lambeth, entre 1976 e 1979, afirmou que continuará a lutar até que os nomes dos agressores sejam divulgados.

"O relatório perdeu a oportunidade de divulgar os nomes, de divulgar quem fez o quê -- os agressores, o conselho, a polícia, quem encobriu [os crimes]", salientou Talukdar, que renunciou ao seu direito de anonimato.

O Independent Inquiry into Child Sexual Abuse investiga, desde 2011, falhas na proteção de crianças em vários ambientes, incluindo escolas administradas por igrejas, centros para jovens delinquentes e Internet, devendo apresentar as suas conclusões gerais no próximo ano.

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