Relação entre Costa e Marcelo é boa apesar das divergências
A falta de sintonia entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa na avaliação e no combate à pandemia foi evidente nos meses de junho e julho. Mas a maioria dos portugueses não atribui demasiada importância às divergências. De acordo com uma sondagem da Aximage para DN, JN e TSF, são muitos mais os que classificam a relação entre Presidente e primeiro-ministro como boa ou muito boa (52%) do que os que consideram que ela é má ou muito má (8%).
Foi em meados de junho que a retórica entre Belém e São Bento atingiu o pico. Com o número de infetados a subir e a evidência de uma quarta vaga de covid-19, Marcelo garantia que, no que diz respeito ao estado de emergência, "já não voltamos atrás". Costa foi rápido a responder, argumentando que ninguém, nem o Presidente, poderia garantir que não se voltaria atrás. Marcelo sacou da Constituição e replicou que um presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro, para Costa pôr então água na fervura: a quezília resultara de alguma "confusão" e não havia qualquer conflito entre os dois.
Parece ter sido o suficiente para tranquilizar a maioria dos portugueses, uma vez que mais de metade classificam a relação entre os dois como boa (52%), com destaque para os mais velhos (73%) e para os eleitores socialistas (72%). São apenas 8% os que adivinham uma tensão insanável entre Belém e São Bento, com destaque para os eleitores do Chega (31%).
Um dos episódios na origem da falta de sintonia foi o da alteração da matriz de risco, a partir da qual se aplicam as restrições que foram regressando ao longo de junho e julho. Marcelo pediu que o governo acrescentasse ao índice de transmissibilidade [R(t)] e ao número de infeções variáveis como os internamentos em cuidados intensivos e as mortes, lembrando que a vacinação "muda o cenário". Costa não deu sinal de aceitar alterações e endureceu as medidas, semana após semana, indiferente aos alertas presidenciais contra os "fundamentalismos sanitários".
O que a sondagem da Aximage mostra é que, nesta matéria, o maior número de portugueses está com Marcelo e com a necessidade de alterar a matriz de risco (48%). O único segmento da amostra em que isso não acontece é entre os eleitores socialistas, que se dividem rigorosamente ao meio (35%).
O escolho mais recente entre os dois líderes está relacionado com a quarentena de António Costa. O Presidente questionou a pertinência de fechar em casa o primeiro-ministro, já com a vacinação completa, por causa de um contacto de risco com o seu homólogo luxemburguês. "Isto tem de ser explicado, para que não haja a ideia errada de que a vacina não serve para nada", disse o presidente.
Nesta matéria, no entanto, a maioria está com a decisão de manter a quarentena. Apesar de já estar vacinado, António Costa fez bem em cumprir o isolamento profilático, segundo 53% dos inquiridos (com destaque para as mulheres e os cidadãos mais novos, ambos com 60%). Um pouco menos de um terço (30%) subscrevem as dúvidas de Marcelo Rebelo de Sousa (em particular os eleitores do Iniciativa Liberal, o único caso em que esta posição é maioritária).
FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, JN e TSF, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política. O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 12 de julho de 2021 e foram recolhidas 763 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, com sexo, idade e região, a partir do universo conhecido, reequilibrada por sexo, idade, escolaridade e região. À amostra de 763 entrevistas corresponde um grau de confiança de 95% com uma margem de erro de 3,5%. A responsabilidade do estudo é da Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de José Almeida Ribeiro.