Reino Unido quer deportar atleta, mas Nigéria não o reconhece como cidadão

Boxeur não consegue visto de trabalho no Reino Unido e não é reconhecido pela Nigéria, de onde emigrou, como cidadão. Neste momento, é um homem sem nacionalidade
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Kelvin Fawaz, um boxeur amador de 29 anos, está retido num centro de detenção de imigrantes britânico, com as autoridades a quererem deportá-lo para a Nigéria, país que não o reconhece como cidadão nigeriano. Há 15 anos no Reino Unido, Fawaz é inclusivamente campeão de pesos médios londrino, mas não tem visto ou autorização de residência que lhe permita ficar no país.

A equipa olímpica britânica quis mesmo que o atleta representasse o Reino Unido nos Jogos Olímpicos de 2012 e 2016, e escreveu cartas ao Home Office (Ministério do Interior britânico) para que as autoridades lhe dessem um visto de trabalho. No entanto, o visto não foi emitido e Kelvin Fawaz é um homem sem nacionalidade, visto que as autoridades nigerianas também não lhe dão um passaporte daquele país, explica o Guardian.

Os pais de Kelvin, que já representou a seleção britânica de boxe seis vezes, são naturais do Líbano e do Benim, tendo emigrado para Chamo, na Nigéria. O boxeur foi levado para o Reino Unido por um tio, quando tinha 14 anos, com a promessa de que o pai iria buscá-lo, algo que nunca aconteceu. Em vez disso, foi feito escravo doméstico, obrigado a cozinhar e limpar para uma família que nunca o deixava sair de casa. Aos 15 anos fugiu e ficou ao cuidado dos serviços sociais britânicos, conta o Independent.

As autoridades britânicas têm rejeitado várias candidaturas para residência para em território britânico e a embaixada nigeriana não lhe dá um passaporte. Casou-se em 2011, mas divorciou-se três anos depois, devido ao facto de não conseguir sustento por não ter uma licença de trabalho. Além disso, não conseguiu um visto através do casamento, dado que aquando do matrimónio a sua situação não era clara.

Desde os 18 anos que Kelvin Fawaz, que é tido como um boxeur muito talentoso mas não consegue ser profissional devido aos referidos problemas, tem tentado garantir uma nacionalidade. Ao mesmo tempo, são também rejeitados os pedidos para que seja considerado um cidadão sem nacionalidade.

Alguns nomes conhecidos do boxe, assim como a Associação Amadora de Boxe que já escreveu cinco vezes ao Home Office, têm apelado para que a situação do homem de 29 anos fique resolvida. As decisões do Home Office têm também demorado muito tempo: um pedido de 2006 apenas ficou resolvida em 2010, com o recurso a ser decidido apenas em 2014.

Frank Warren, conhecido promotor do desporto no Reino Unido, escreveu ao Home Office explicando que Fawaz tinha um "talento excecional", e ofereceu-lhe um contrato de três anos que garantiria ao desportista amador mais de 260 mil euros. Sem capacidade para trabalhar e ganhar dinheiro, o atleta limpa as casas de banho do ginásio onde treina para ter onde ficar.

"O Home Office sabotou a minha vida várias vezes. Provavelmente vão libertar-me mas depois o quê? Sem visto de trabalho continuo sem ferramentas para sobreviver. Não conseguindo trabalhar como vou viver? O que vou comer? Cada oportunidade que criei para mim criaria a hipótese de pagar impostos e contribuir para este país. Estou autorizado a lutar pela Inglaterra, mas não estou autorizado a ficar em Inglaterra. Imaginem como é representar um país e depois ter esse país a colocar-te no que parece uma prisão", afirmou, citado pelo Guardian.

Kelvin Fawaz sofre de depressão, condição pela qual está a receber tratamento, não tendo, por isso, conseguindo comparecer num centro de imigração três vezes. Então, foi detido por dez polícias no ginásio onde treina. Continua numa cela enquanto o Home Office tenta arranjar documentação para o deportar para a Nigéria, diz o mesmo jornal.

Escreveu ele próprio para uma comissão nigeriana, que o visitou na terça-feira, e confirmou que não o reconhecem como cidadão nigeriano.

Do lado do Home Office, a posição é clara: "Quando alguém não tem visto para permanecer no Reino Unido, esperamos que deixem o país de forma voluntária. Quando não o fazem, tentamos acionar os mecanismos para a deportação".

O atleta já combateu pelo Reino Unido contra a equipa de boxe nigeriana, para onde as autoridades o querem deportar agora.

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