Rui Moreira falava hoje, na cidade da Praia, a convite da Presidência da República de Cabo Verde, numa conferência sobre descentralização, poder regional e poder local..A conferência, a primeira de um ciclo que decorre durante toda a semana, ocorre numa altura em que o país inicia um debate sobre a regionalização, tendo como ponto de partida uma proposta que o executivo cabo-verdiano deverá apresentar brevemente no parlamento..Rui Moreira defendeu que, do ponto de vista teórico, a regionalização político-administrativa proporciona maior democracia e transparência nas decisões do Estado, mas considerou que "é uma ilusão acreditar que a regionalização é uma cura milagrosa que resolve as disparidades que existem no funcionamento de um Estado"..O autarca do Porto, que é um conhecido defensor da regionalização, sustentou que ela não pode, por si só, "contrariar a tendência da economia, das pessoas e das empresas se instalarem onde há mais gente e mais massa crítica.."A regionalização não resolve as assimetrias regionais só por si. Em economias não planificadas, como o são a portuguesa e a cabo-verdiana, é natural que a economia e a produção se aproximem dos sítios onde há mais massa crítica. Não vale a pena tentar combater esta tendência porque é assim que funciona, já ao Estado compete combater a natureza desta assimetria, contribuindo para que nos territórios onde é mais preciso esteja presente", disse..Nesse sentido, caberá ao Estado "atenuar e contrabalançar as disparidades", adiantou, considerando que em áreas como a saúde, educação, habitação e emprego, pode-se, através do poder regional eleito, alcançar, com menos custos e menor desperdício, os objetivos..Escusando-se a comentar em concreto o caso de Cabo Verde, Rui Moreira lembrou que o debate em torno da regionalização decorre há 18 anos em Portugal, avisando que este jamais será um processo consensual quer seja em Portugal ou Cabo Verde..A margem da conferência, aos jornalistas, Rui Moreira insistiu na necessidade de desconcentrar poderes.."Defendo para Portugal uma regionalização político-administrativa que ao crie regiões que tenham massa crítica suficiente para poder tomar as decisões que muitas vezes são tomadas no Estado central com menos eficiência", disse..A proposta de regionalização do partido no poder em Cabo Verde, Movimento para a Democracia (MpD), propõe a criação de 10 regiões administrativas e a eleição de 108 deputados regionais..Segundo a proposta, cada região equivalerá a uma das nove ilhas habitadas do arquipélago, sendo que a ilha de Santiago, a maior, mais populosa e onde se encontra a capital do país, será dividida em duas regiões administrativas..A proposta precisa de uma maioria de dois terços para passar no Parlamento, pelo que o Governo disse ter já iniciado contactos com o maior partido da oposição, Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), sobre esta matéria.