Regata de Portugal. Hugo Rocha num regresso a Portugal que deseja que se torne em breve permanente
Há 22 anos, Hugo Rocha alcançou um dos grandes feitos do desporto português, conquistando uma medalha olímpica na vela, ao lado de Nuno Barreto. O bronze de Atlanta 96 foi acompanhado por muitas mais vitórias e há duas semanas o velejador conquistou mais um título mundial. No entanto, foi com a bandeira espanhola que o celebrou. Desde que deixou o projeto olímpico em 2004 que Hugo Rocha tem representado outras nações, vivendo há 14 anos em Barcelona. Mas não esconde que regressar a Portugal está nos seus planos e a sugestão de ingressar novamente um projeto olímpico arranca-lhe um enorme sorriso.
Além de Espanha, Rússia, Alemanha e até o Chile contrataram o velejador que aos 46 anos está longe de pensar em parar. Convidado a participar na Regata de Portugal, Hugo Rocha aparece com a bandeira portuguesa ao peito, algo que o deixa muito feliz. "Confesso que há vários anos que não representava Portugal e não navegava com uma equipa 100% portuguesa. Foi um convite que achei maravilhoso, embora a minha especialidade não seja bem catamarãs", salientou ao DN. Hugo Rocha está a ter a oportunidade de competir com alguns dos melhores do mundo neste tipo de embarcação: "É como ter a oportunidade de jogar contra o Rafael Nadal no ténis!"
Mesmo com mais de três décadas dedicadas à vela, Hugo Rocha não esconde como ainda está a aprender, como é o caso da atual experiência, que termina este domingo em Lisboa, no Terminal de Cruzeiros. "Navego há 35 anos e cada dia aprendo mais. São barcos completamente diferentes. O comportamento é outro, a velocidade é outra, é tudo uma aprendizagem durante esta semana", referiu.
Apesar de ter vários projetos em mãos, tem mais ambições para o futuro: "Gostaria de fazer uma volta ao mundo, uma Volvo Ocean Race, gostaria de representar mais Portugal. Há praticamente 14 anos que não represento o país e é uma lástima", afirmou, recordando como há mais velejadores que também acabam a representar equipas no estrangeiro. "As pessoas que optam por campanhas olímpicas, aí representam Portugal, caso contrário as pessoas procuram outros países, outros projectos que Portugal não tem."
Não esconde que adoraria participar novamente num projecto olímpico, mas considera que "tudo tem um princípio, meio e fim". "Aprendi imenso nas campanhas olímpicas, sofri imenso, mas acho que valeu a pena. Mesmo sem medalha teria valido a pena. É uma escola para a vida", contou. No entanto, considera que houve uma "morte lenta" da vela em Portugal em termos olímpicos. "Se observarmos os velejadores que havia em 2000 ou 1996, havia uma equipa bastante unida e para mim foi uma morte lenta. Há que apostar nos jovens", disse, considerando que a federação tem um trabalho difícil pela frente.
Há tanto tempo a viver no estrangeiro, não esconde o desejo de regressar: "Talvez mais dois anos e volte." Hugo Rocha já vai partilhando a sua experiência com os mais jovens, tanto em Espanha, como em Portugal, mas para já quer continuar a competir. "Na vela, uma das boas coisas é que se pode estar no ativo até aos 50 e muitos anos. Espero estar no ativo vários anos e depois passarei para essa fase." Ou seja, gosta de transmitir o seu conhecimento, afinal: "A vela deu-me tanto que tenho de dar algo aos jovens, dar o meu conhecimento."
Daqui a um mês irá até ao Chile, mas neste domingo terá mais uma oportunidade para estar entre os melhores nesta especialidade. Hugo Rocha e a sua equipa, Team Portugal, ocupam a sétima posição na Regata de Portugal (32 pontos) - liderada pelo francês Yann Guichard e a sua Spindrift Racing (18) -, tendo já sido eliminado da etapa portuguesa da World Match Racing Tour.
"Este evento é único. Dou os meus parabéns a quem organizou este evento maravilhoso e aos patrocinadores que apostaram na vela. Nunca tinha visto tantos barcos, oito com patrocinadores diferentes. É um bom sinal. Estou adorar estar de regresso", disse Hugo Rocha.
Este domingo irão conhecer-se os vencedores da Regata de Portugal, seguindo-se as meias-finais e final da prova Match Racing, com o programa a começar cerca das 11:00. O francês Yann Guichard (Spindrift Racing) irá medir forças com o sueco Nicklas Dackhammar (Essiq Racing), enquanto o britânico Ian Williams (GAC Pindar) irá discutir o lugar na final com o australiano Harry Price (Down Under Racing).