Tentando evitar que o PS tenha pretexto para matar à nascença a iniciativa, os deputados liberais apresentaram ontem um projeto de revisão da lei eleitoral da Assembleia da República onde deixa cair criação de círculos uninominais (círculos de um só deputado)..Agora a Iniciativa Liberal (IL) põe as fichas todas na criação de um círculo nacional de compensação com 40 deputados - ou seja, um círculo onde se arrecadem todos os votos que nos círculos distritais não elegem nenhum deputado. A IL joga também com declarações feitas no plenário em abril de 2022 pelo deputado socialista Pedro Delgado Alves..Nesse dia o chefe da bancada da IL, Rodrigo Saraiva, fez uma intervenção desafiando o PS a ir a jogo numa reforma do sistema eleitoral. Saraiva argumentava nessa altura em defesa dos círculos uninominais mas também, já, em defesa da criação do círculo nacional de compensação..Pedro Delgado Alves respondeu que "o grupo parlamentar do PS tem dado provas de ter capacidade para alterar o sistema eleitoral em aspetos importantes", como por exemplo com "o voto antecipado em mobilidade [...], o recenseamento automático no estrangeiro, a desmaterialização de procedimentos, o fim do cartão de eleitor". E até acrescentou que "o que o IL vem sugerir não é nada mais do que aquilo que o PS propõe desde 1998: um modelo de tipo alemão, que combina círculos uninominais de candidatura com um círculo de compensação ou com círculos que garantam a proporcionalidade". E se não tem avançado não é porque o PS não queira: "Quem, sistematicamente, tem dito que não dá os votos necessários para esses dois terços, porque exige sempre a diminuição do número de deputados - o que prejudicaria a proporcionalidade, diminuiria o pluralismo deste Parlamento e dificultaria a representação do interior -, tem sido o PSD"..Portanto, dizia então Delgado Alves: "Não sei se conseguiremos reunir a maioria de dois terços necessária, mas, da nossa parte, há disponibilidade para estes temas da reforma do sistema eleitoral". Sendo que, "acima de tudo", essa "disponibilidade" é para uma "grande e principal urgência", que é a de garantir uma alteração da Lei Eleitoral para que o que sucedeu nas eleições de janeiro passado, em relação aos cidadãos residentes no estrangeiro, não volte a suceder"..Ouvido ontem pelo DN, Delgado Alves disse que face ao projeto apresentado pela IL o PS "ainda não tenha nenhuma posição". Há no entanto quem ache que o partido deve ir a jogo. É o caso do presidente do PS, Carlos César. Há semanas, na Academia Socialista, César disse que o partido deve "procurar consensos" e "investir na qualidade da representação e da representatividade, nos mecanismos de participação, agilizar os processos de decisão, tornar a administração mais próxima e mais amiga de cada uma das pessoas"..joao.p.henriques@dn.pt