"Redução da presença russa não afeta vantagem militar do regime de Damasco"
Qual a dimensão real da retirada russa e que tipo de implicações tem na guerra civil síria?
A retirada russa consiste na redução do número de aviões estacionados na base aérea de Latáquia. Mas continuará a existir uma presença relevante nesta base assim como na naval de Tartus. Por outro lado, o apoio dado às forças armadas sírias vai continuar, ainda que de forma menos expressiva. Atendendo a que as forças armadas sírias estão também a receber apoio muito significativo do Irão e do Hezbollah, só por si a redução do envolvimento russo não afeta a situação de vantagem militar em que se encontra hoje o regime de Damasco.
O que é possível prever, a curto e médio prazo, nos planos político e militar?
No plano militar, deve esperar-se o desencadear de importantes operações dos grupos da oposição contra o Estado Islâmico (EI), o mesmo sucedendo com as forças do governo sírio e as milícias curdas. Na frente política, nas negociações em Genebra irá procurar-se uma solução para a crise, mas qualquer progresso será difícil de materializar devido às significativas diferenças entre as várias partes.
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Podemos considerar que Assad, Putin e o Irão alcançaram todos os seus objetivos, nomeadamente a permanência de Assad no poder e, consequentemente, um aliado de Teerão em Damasco, uma base russa no Mediterrâneo e a neutralização parcial da influência militar turca no conflito?
A Rússia revelou, de forma considerável, as novas capacidades das suas forças armadas, que foram sujeitas a significativa modernização, e contribuiu para a estabilização de uma conjuntura comprometedora, no capítulo da segurança, para o regime de Assad. Contudo, os russos não foram capazes, até agora, de obter concessões relevantes em questões para além da guerra na Síria, como as sanções da UE e dos EUA [por causa do conflito no Leste da Ucrânia], em troca pelo seu papel crescentemente conciliatório e das concessões feitas na Síria.
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Quais as prioridades das potências ocidentais e da Arábia Saudita no conflito?
Para os EUA, o objetivo fundamental é derrotar o EI e encontrar uma solução negociada para o conflito. O Conselho de Cooperação do Golfo [CCG, composto pelo Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Koweit] vai continuar a apoiar a oposição, garantindo-lhes que permanecem ativos no terreno e, de forma crescente, os EUA na campanha contra o EI. A Turquia não deixará de trabalhar com o CCG na estratégia de reforçar a oposição e irá intensificar as operações contra o EI. Para Ancara, o importante é impedir a tentativa curda de criar uma entidade federal no nordeste da Síria.
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