Recuperar com sustentabilidade
Estamos a viver uma crise provocada por um risco que não pudemos identificar, prever e preparar atempadamente. A crise da Covid-19 adquiriu moldes desconhecidos e imprevisíveis para todos e está a provocar sofrimento que é urgente minorar. Outras crises se avizinham e uma delas é, não só, previsível, como exige uma ação urgente para evitar catástrofes no futuro próximo. Estou a falar, naturalmente, da crise climática cujo combate é prioridade da Comissão Europeia através do Pacto Ecológico Europeu.
A crise climática é uma ameaça existencial para muitos dos seres vivos que habitam o nosso planeta e representa um problema extremamente complexo para a humanidade. Tem causas e consequências em muitas áreas da economia e da sociedade e tem potencial para originar ondas de calor, fogos florestais, secas, cheias, furacões, perda de colheitas e doenças. O Pacto Ecológico Europeu é a grande estratégia orientadora neste combate contra as alterações climáticas e, pela sustentabilidade, da qual se conhecem agora dois novos componentes: a Estratégia da UE para a Biodiversidade 2030 e a Estratégia "do Prado ao Prato" ambas adotadas pela Comissão Europeia na semana passada.
A estratégia para a biodiversidade tem como principal objetivo travar a perda acelerada de diversidade de seres vivos e de natureza que se tem vindo a intensificar nas ultimas décadas. A Comissão Europeia propõe que se reservem 30% da terra e do mar para áreas protegidas, assim como medidas que permitam que a natureza se regenere e recupere o seu espaço. Esta não é uma medida de luxo: a perturbação e destruição de ecossistemas traz danos graves para a humanidade, nomeadamente reduzindo barreiras naturais a fenómenos climáticos extremos e potenciando novas doenças infeciosas oriundas de animais hospedeiros. A recuperação da biodiversidade é urgente e promoverá não só um planeta mais sustentável para todos, mas ajudará também a evitar futuras crises alimentares, sanitárias ou climáticas.
Sendo este um problema global, a resposta não poderá deixar de ser também ela global. Por isso, a Comissão Europeia fará uso da diplomacia climática para reforçar as cláusulas ambientais nos tratados de livre comércio e dar força a acordos multilaterais que unam o mundo neste combate tão urgente e necessário, quer quanto às alterações climáticas quer quanto à perda de biodiversidade.
A Comissão apresentou ainda a Estratégia "do Prado ao Prato" para promover a sustentabilidade da cadeia alimentar. Esta estratégia constitui mais um braço do Pacto Ecológico Europeu, complementando a estratégia da biodiversidade. Em conjunto, visam reduzir o uso de pesticidas na agricultura, diminuir o uso de fertilizantes e as perdas de nutrientes, assegurar a não deterioração dos solos férteis, reduzir as vendas de antibióticos para a criação de animais e impulsionar o desenvolvimento da agricultura biológica da UE. Uma agricultura mais sustentável já fazia parte das propostas da Comissão para a nova Politica Agrícola Comum, e o Pacto Ecológico reforça-a com políticas ainda mais verdes, contribuindo para a saúde dos europeus e do planeta e para a competitividade e robustez do setor agroalimentar europeu.
A apresentação destas políticas num tempo de crise tem razão de ser. Em primeiro lugar, porque a resposta à crise da Covid-19 não deve distrair-nos das outras crises que não desapareceram. Além disso, é do interesse de todos que a recuperação da economia seja feita com base em modelos de sustentabilidade e de preservação do ambiente. Não faz sentido combater uma crise com soluções ultrapassadas e que apenas agudizariam a prazo outras crises e problemas. Pelo contrário, esta crise deve ser uma oportunidade para reformular métodos de produção, proteger a biodiversidade e a natureza, a fim de alcançarmos um novo paradigma de uma sustentabilidade justa e integradora para todos. Vamos recuperar com sustentabilidade e evitar crises que sabemos que se avizinham se nada fizermos.
Representante da Comissão Europeia em Portugal