O recorde de concentrações de dióxido de carbono na atmosfera registado a nível global em 2016 é "muito preocupante", afirmou esta segunda-feira um responsável do IPMA, salientando que, apesar dos esforços para reduzir emissões, o objetivo não está a ser conseguido..Os dados divulgados pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) "são muito preocupantes", disse à agência Lusa o diretor de Meteorologia e Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)..A OMM anunciou que as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera responsáveis pelas alterações climáticas atingiram um nível recorde em 2016 e alerta para uma possível "subida perigosa da temperatura".."A última vez que a terra registou um teor de dióxido de carbono comparável foi há três a cinco milhões de anos: a temperatura era 2º a 3ºC [Celsius] mais elevada e o nível do mar era superior em 10 a 20 metros relativamente ao atual", refere a agência das Nações Unidas, no seu boletim anual sobre gases com efeito de estufa..O parecer da OMM "é de facto marcante, quiseram lembrar que, apesar de estarmos com cimeiras como Paris, apesar de fazermos algum esforço, mas não muito, para termos as concentrações a não aumentarem não conseguimos, na verdade", defendeu Pedro Viterbo.."As concentrações aumentam, sempre, continuamente. Se olharmos para 1960, temos 320 ppm [partes por milhão] e passados 60 anos aumentamos mais 80 ppm", descreveu..Pedro Viterbo referiu-se às "boas ações da humanidade", apontando o Acordo de Paris obtido em 2015 para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa..Fez-se um texto para dizer: "estamos mal, mas iremos no bom caminho, na verdade, quase dois anos depois, estamos no caminho que estávamos antes", disse.."Já passaram dois anos depois de Paris e foram mais ou menos uma ou duas 'ppm' que foram acrescentadas à atmosfera, é dramático", realçou o responsável do IPMA..Os países europeus, apontou, "estão a 'puxar a carroça' [para] não aumentar demasiado as emissões de poluentes, mas depois há o resto do mundo, há o Vietname, há a China", além dos Estados Unidos, com o Presidente Donald Trump a duvidar das alterações climáticas e a sair do Acordo de Paris.."Devíamos estar a diminuir (as emissões), mas não se está a fazer nada", insistiu o especialista do IPMA..Quanto à Índia, "está a aumentar muito as emissões e neste momento é provavelmente o país que está a aumentar mais depressa", referiu Pedro Viterbo..Segundo a OMM, esta "subida em flecha" do nível de dióxido de carbono (CO2) deve-se à "conjugação das atividades humanas com um forte episódio do El Nino", um fenómeno meteorológico que surge a cada quatro ou cinco anos e que leva à subida da temperatura do Oceano pacífico, o que provoca secas numas regiões e níveis de precipitação elevados em outras.."Enquanto era de 400 partes por milhão [ppm] em 2015, a quantidade de CO2 na atmosfera atingiu 403,3 ppm em 2016" o que representa " cerca de 145% do que se registava na época pré-industrial (antes de 1750)", precisou o relatório divulgado em Genebra, sede da OMM.