Um homem nu, totalmente nu, gritava e insultava quem passava a pé ou sobre rodas pela Rua Maria Pia. Esmurrava os autocarros, assustava os velhinhos que regressavam das compras, tentava agredir quem se atrevia a passar perto. No centro de Lisboa, paredes meias com o chique bairro de Campo de Ourique, o homem manteve-se nu e agressivo até à chegada de um polícia que, a solo, tentou proteger os passageiros que embarcavam no transporte público, resistindo aos murros e pontapés nas costas para garantir a segurança dos cidadãos. À chegada de um segundo agente da PSP, lá se conseguiu acalmar o homem, cobrir-lhe a nudez pública com o casaco da farda e encaminhá-lo para onde pudesse ser ajudado..Tudo isto aconteceu num dia de semana, numa rua movimentada de Lisboa. Ninguém interferiu. Ninguém protegeu o polícia que primeiro se atreveu a fazer de barreira humana pela segurança dos demais. Ninguém mexeu um dedo exceto para carregar no botão de gravar do telemóvel e em seguida publicar a cena lamentável que pegou fogo nas redes sociais. Ninguém quis saber quem era o agente. Ao contrário dos polícias agora denunciados pelas mensagens de ódio trocadas nas redes sociais - caso grave, indiscutivelmente, que deve ser investigado, mas que está muito longe de ser representativo de toda uma classe, como parecem querer fazer-nos crer..As nossas polícias deviam ser elogiadas, os seus esforços reconhecidos, o seu trabalho louvado - nunca humilhadas e ofendidas..A verdade é que as nossas forças de segurança são maltratadas como poucas classes profissionais. É um facto que não têm condições adequadas à exigência do papel que desempenham na sociedade e muito menos o reconhecimento devido - quer financeiro quer por parte da população. E a esmagadora maioria das vezes em que chegam a fazer notícia não é para dar conta das injustiças que vivem nem para contar os sucessos dos homens e das mulheres que zelam pela nossa segurança, para relatar atos heroicos ou explicar que sacrifícios implica uma carreira cujo primeiro dever é anular-se para proteger os demais. Quando são notícia, é por um caso de má sorte ou pelos excessos de alguns elementos - que devem ser denunciados e expurgados, mas nunca podem ser tomados por regra..Do teor das mensagens que vieram a público, sem qualquer desvalorização, digo apenas isto: se o Ministério Público abrisse inquéritos aos comentários deixados por ilustres anónimos, muitos deles reincidentes convictos, nas páginas online de qualquer meio de comunicação, teria muito que investigar. Talvez até descobrisse profissionais na arte da ofensa e do discurso que incentiva aos mais diversos tipos de violência.