Reação do FC Porto ficou presa nas botas de Marega
Quando, aos 26 minutos, Firmino encostou a bola para as redes de Casillas a finalizar uma magistral jogada coletiva do Liverpool, temeu-se o pior. Para o FC Porto, claro. O 2-0, num lance tão aparentemente simples como esmagador, a meio da primeira parte da partida em Anfield, fez resgatar memórias traumáticas de uma goleada no Dragão. O 5-0 de há um ano, contra este mesmo Liverpool, voltou aí a pairar como cenário ameaçador, mas, no fim, a sensação foi bem diferente. E o FC Porto acabou por sair de Inglaterra com a noção de que ficou a dever sobretudo a si próprio - e às várias oportunidades desperdiçadas por Marega - o facto de não ter deixado os reds em xeque na eliminatória.
O FC Porto sabia bem a missão gigantesca que é defrontar este Liverpool de Jurgen Klopp. Sentira-o curelmente na pele há um ano, quando a equipa de Anfield passou como um rolo compressor pelo Dragão e resolveu então a eliminatória com uma goleada que deixou a segunda mão desses oitavos de final como uma mera formalidade para cumprir. Mas por muito alertado que estivesse, por muito bem que tenha preparado o reencontro e por muitas horas que Sérgio Conceição tenha passado a tentar desvendar uma forma de contrariar a máquina de Klopp, há coisas que são impossíveis de controlar. A diferença de qualidade e de andamento deste Liverpool para o comum dos mortais (que são a esmagadora maioria das outras equipas) é uma delas.
O lance do golo de Firmino, que colocou o 2-0 no marcador, é um belo exemplo disso. Uma jogada tão assombrosamente simples quanto simplesmente assombrosa. Um carrossel de futebol que levou a bola da esquerda à direita através da condução de Keita, do passe deste para Henderson, da subida do lateral Alexander-Arnold pela direita a ganhar o espaço nas costas de Alex Telles enquanto a defesa portista fechava ao meio para controlar o letal trio ofensivo dos reds (que se concentrava na área precisamente com esse propósito de abrir avenidas laterais), da abertura de Henderson a colocar a bola no pé de Arnold no momento e na força exatos e, por fim, do cruzamento rasteiro deste para a frente da baliza, onde o avançado brasileiro só teve de empurrar para a baliza de Casillas. Assim de fácil. Assim de simples.
O FC Porto entrara em campo com essa boa notícia da recuperação de Alex Telles (embora o jogo tenha tratado de deixar a nu as dificuldades do lateral) e um plano de jogo que tratava de encarregar Corona de ajudar Maxi a fechar a direita, muitas vezes levando até o uruguaio a funcionar como uma espécie de terceiro central numa linha defensiva de cinco, enquanto Danilo, Óliver e Otávio se encarregavam de fechar a zona central do meio-campo a procurar lançar os ataques rápidos de Marega e Soares.
Os dragões entraram agressivos e até lançaram o primeiro sinal de perigo em Anfield, quando Marega surgiu na área a rematar ao lado, logo aos três minutos - no que seria um prenúncio do que se repetiria ao longo da noite. Mas contra uma equipa como este Liverpool, a única hipótese de sucesso é fazer um jogo perfeito. E o FC Porto, além de começar logo aí a falhar em frente à baliza, demorou pouco mais a cometer erros noutras zonas proibidas.
Ainda o jogo não tinha chegado aos cinco minutos, e o Liverpool quase não tinha ainda sentido o peso à bola, quando um mau passe de Danilo a meio-campo levou os reds a acionarem rapidamente as suas transições letais. Henderson lançou Mané, este encontrou Firmino na área e o brasileiro (elo fundamental em todo o processo ofensivo dos ingleses) serviu o remate de Keita à entrada da área, com o médio guineense a beneficiar ainda de um desvio da bola em Óliver, que tinha falhado a cobertura.
Em meia oportunidade o Liverpool fez um golo. E cresceu com isso para 20 minutos que deixaram então o FC Porto a temer o pior novamente. Mas a equipa de Sérgio Conceição conseguiu estabilizar emocionalmente e voltou a ser capaz de colocar Marega (sobretudo) e Soares em boa posição para ameaçar a baliza de Alisson Becker, por várias vezes, acionando o futebol direto e os lançamentos em profundidade que tanto gosta de explorar.
Marega foi-se tornando cada vez mais o protagonista do jogo, acumulando oportunidades para encarar o guarda-redes do Liverpool, mas o maliano nunca conseguiu ter a frieza e qualidade de remate necessárias para fazer a diferença num palco destes. Antes do intervalo, obrigou Alisson a defender com o pé numa das vezes e, noutra, só raspou na bola quando esta o foi encontrar isolado, na ressaca de um canto. Pelo meio, tempo para o VAR ignorar uma mão polémica de Alexander-Arnold na área.
Na segunda metade, que até começou com um golo bem anulado a Mané, o FC Porto foi reforçando a ideia de que poderia sair de Liverpool com a eliminatória bem mais viva do que um 2-0 o permite, à medida que Marega acumulava situações de fuga à defensiva liderada pelo portentoso Van Dijk. Mas o maliano nunca encontrou o golo, para alívio de Jurgen Klopp, que fez questão de o ir cumprimentar no final.
Moral da história: o FC Porto continua sem ganhar ao Liverpool (em sete jogos), ou tão pouco em Inglaterra (17 derrotas em 20 jogos), e terá uma tarefa gigantesca pela frente, dia 17, no Dragão, para marcar lugar nas meias-finais.
Jogo realizado em Anfield Road, em Liverpool.
Liverpool -- FC Porto, 2-0.
Ao intervalo: 2-0.
Marcadores:
1-0, Keïta, 05 minutos.
2-0, Roberto Firmino, 26.
Equipas:
- Liverpool: Alisson, Alexander-Arnold, Lovren, Van Dijk, Milner, Fabinho, Henderson, Keïta, Salah, Mané (Origi, 73) e Roberto Firmino (Sturridge, 82).
(Suplentes: Mignolet, Wijnaldum, Joe Gómez, Sturridge, Shaqiri, Origi e Joel Matip).
Treinador: Jürgen Klopp.
- FC Porto: Casillas, Maxi Pereira (Fernando Andrade, 77), Felipe, Éder Militão, Alex Telles, Danilo, Óliver (Bruno Costa, 73), Corona, Marega, Otávio e Soares (Brahimi, 62).
(Suplentes: Vaná, Diogo Leite, Bruno Costa, Hernâni, Brahimi, André Pereira e Fernando Andrade).
Treinador: Sérgio Conceição.
Árbitro: Antonio Mateu Lahoz (Espanha).
Ação disciplinar: cartão amarelo para Soares (17) e Felipe (61).
Assistência: cerca de 50.000 espetadores.