Rayner cruza as pernas para distrair Boris? Artigo misógino e sexista causa escândalo
A deputada e n.º 2 do Labour, Angela Rayner, disse ontem ter ficado "triste e desapontada" depois de ser acusada de tentar distrair o primeiro-ministro, Boris Johnson, durante os debates no Parlamento, cruzando e descruzando as pernas. O artigo do Mail on Sunday, que cita um deputado conservador anónimo, foi criticado como sexista e misógino pelo próprio chefe do governo. Boris enfrenta hoje de novo os deputados, na sessão semanal de perguntas e respostas, devendo Rayner, como habitual, sentar-se na primeira fila ao lado do líder da oposição, Keir Starmer.
O artigo publicado no domingo compara a vice-líder trabalhista - que em caso de ausência de Starmer o substitui nos debates com o primeiro-ministro - à personagem de Sharon Stone em Instinto Fatal, de 1992. Numa das cenas, Stone, sem roupa interior, cruza e descruza as pernas para desconcertar os detetives da polícia durante um interrogatório. No artigo de Glen Owen, editor político do jornal, alega-se que Rayner usa a mesma tática, mas vestida. "Ela sabe que não pode competir com o treino de debate de Oxford de Boris, mas tem outras habilidades que ele não tem", cita o conservador anónimo.
O artigo gerou mais de 5500 queixas no regulador dos media britânicos, tendo desencadeado também críticas de todos os partidos. O próprio primeiro-ministro reagiu de imediato no Twitter: "Por muito que discorde da Angela Rayner em quase todos os temas políticos, respeito-a enquanto deputada e deploro a misoginia hoje dirigida a ela anonimamente."
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Já na segunda-feira disse que foi a "mais terrível tolice sexista e misógina" que alguma vez ouviu e que se alguma vez se descobrir o responsável "não sei o que faremos, mas hão de ser o terror de toda a terra", citando a peça O Rei Lear, de William Shakespeare.
O líder da Câmara Baixa, Lindsay Hoyle, convocou o diretor do jornal para discutir o artigo "misógino e ofensivo", havendo quem defenda que o jornalista perca a acreditação para estar no Parlamento.
O texto descreve Rayner, de 41 anos, como "uma avó socialista que deixou a escola aos 16 anos quando estava grávida, sem qualificações, antes de se tornar uma cuidadora". Numa entrevista à ITV, Rayner disse ontem que o artigo estava imerso em "classismo", ao sugerir que ela não era inteligente, por ter andado numa escola pública, e por insinuar que era "promíscua" por ter tido um filho aos 16 anos.
A deputada eleita por Ashton-under-Lyne desde 2015, vice-líder do Labour há um ano, disse ainda que apelou ao jornal para não publicar o artigo "totalmente falso" quando eles a contactaram, dizendo-se preocupada com a reação dos dois filhos ainda adolescentes. Rayner disse que na entrevista optou por usar calças, para não ser acusada de mais nada. "Quero ser desafiadora porque não acho que se deve dizer a uma mulher como se vestir, mas não queria distrair do facto de, na realidade, isto não ser sobre as minhas pernas", afirmou.
Outra deputada trabalhista, Rachel Reeves, disse que este caso revela o que as mulheres têm de enfrentar diariamente no Parlamento. Ela "não precisa de usar o sexo para ganhar uma discussão" ao primeiro-ministro. "Ela ganha com a força dos seus argumentos e sugerir outra coisa é nojento e não faz jus às mulheres brilhantes que temos no Parlamento de todos os lados", acrescentou à BBC.