Ray ensinou-lhe "o poder do silêncio". E o da paciência

A 4.ª temporada de Ray Donovan estreia-se hoje no TVSéries. Ao DN, Liev Schreiber fala sobre a série que protagoniza desde 2013, sobre "as nossas próprias lutas" e sobre Shakespeare
Publicado a
Atualizado a

Dos seis nomes recentemente nomeados ao Emmy de Melhor Ator em série dramática, cinco são relativos a anti-heróis. Do manipulador Frank Underwood (Kevin Spacey) de House of Cards ao trapaceiro Saul Goodman (Bob Odenkirk) de Breaking Bad - e do seu spin off Better Call Saul -, há ainda o espião do KGB Phillip (Matthew Rhys) de The Americans, o hacker Elliot (Rami Malek) de Mr. Robot e, claro, Ray Donovan da série homónima. Liev Schreiber, o ator que o interpreta, tem uma explicação: é o conflito, mas o interno, que tanto atrai os espectadores.

"O cerne de quaisquer anti-heróis é que eles abrangem sempre os dois polos de uma ideia - o bom e o mau, o belo e o feio, e todas essas coisas podem coexistir [na ficção], tal como coexistem em nós", diz o ator, que justifica "a obsessão" por personagens como a sua com "as nossas próprias lutas" e a "busca de uma bússola moral interior". "Todos queremos ser pessoas com princípios, mas há sempre uma altura em que não conseguimos resistir ao lado negro de nós próprios. E a ideia de uma personagem que se move entre esses dois mundos é muito convincente", prosseguiu.

Liev Schreiber, de 48 anos, saberá se vence a estatueta da Academy of Television Arts & Sciences a 18 de setembro, em Los Angeles, EUA. Até lá, os espectadores portugueses podem acompanhar a quarta temporada de Ray Donovan a partir das 22.45 desta noite - aproximadamente um mês depois da estreia nos Estados Unidos -, no TVSéries. Neste novo conjunto de episódios, promete o ator norte-americano, "Ray vai tentar encontrar um lado mais leve de si mesmo". E vai também experimentar um novo relacionamento com o pai, Mickey (Jon Voight), que ele próprio denunciou às autoridades e que, depois, não conseguiu ajudar. "[O que aí vem] pode até ser divertido. O Ray e o Mickey vão passar bastante mais tempo juntos e até se vão envolver numa pequena confusão em conjunto", [ri-se].

Na pele de Donovan (um homem que faz o "trabalho sujo" - como subornar e assassinar - para uma empresa de advogados) desde 2013, Liev Schreiber pode emprestar-se à sua personagem desde então, mas ao final deste período também recebeu algo dela: "O Ray ensinou-me o poder do silêncio. E o da paciência. E aprendi a partilhar o meu trabalho com os outros - e há tantas pessoas envolvidas na produção de uma série para televisão ou de um filme", acrescentou.

E até naquela que é uma história de crime, protagonizada por um homem que "resolve" todos os problemas menos os seus, o intérprete encontra Shakespeare. Porque Ray "tem muito" do poeta e dramaturgo britânico. Afinal, explica, "a dualidade" que define o protagonista desta série é também "a dualidade que define Shakespeare enquanto escritor". "Os anti-heróis são o centro dos seus dramas. Ray Donovan faz-me lembrar Macbeth, que vivia assombrado pelo fantasma de Banquo, ou Hamlet, que era perseguido pelo fantasma do pai, ou Otelo, que se deixou levar pela ideia de traição e infidelidade - e que todos eles carregavam, ao mesmo tempo, uma ternura imensa".

Os três episódios já emitidos nos EUA (pelo Showtime) desta quarta temporada da série foram vistos por uma média de 1,2 milhões de espectadores. Um deles pode ter sido Liev Schreiber, que não tem "qualquer problema" em ver-se na TV. "De vez quando lá reparo no meu grande nariz ou que estou cada vez mais careca. Mas, a maior parte do tempo, divirto-me, porque tenho uma memória péssima e já não me recordo do que fiz."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt