Ramón Galarza: Estado da cultura em Portugal? "É tocar o samba de uma nota só"

10 perguntas à queima-roupa, 10 respostas na ponta da língua. Nesta rubrica, o DN desafia personalidades a comentar assuntos quentes do país e da atualidade. Hoje é a vez do reconhecido músico e produtor de música Ramón Galarza.
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Estado da cultura em Portugal?
É tocar o samba de uma nota só, quer dizer, isto é repetido já há muitos anos por todos os intervenientes neste meio cultural. Está de rastos e não se preveem, infelizmente, melhores tempos porque o interesse estatal é muito - demasiado - diminuto para as carências que existem.

Novos talentos na música?
Muitos, até há demasiados. Poderá parecer controverso o que estou a dizer, mas é difícil. Como pessoa que trabalha com eles, é muito difícil conseguir acompanhar tantos músicos bons e tantos compositores bons e tantos cantores bons que estão a aparecer, que já apareceram, que estão já a mostrar trabalho, e muitos outros que ainda estão nos bastidores ou que ainda não são conhecidos, mas acho que vai haver uma fornada muito boa e vamos ter um futuro muito risonho na música portuguesa.

Inspiração?
A nível pessoal, é uma coisa que não me falta, minimamente. Já tenho uma certa idade, já ando nisto há 40 e muitos anos, gosto de fazer essa contabilização, mas já ando há muitos anos, mas não paro de ter ideias. Felizmente, atualmente, tenho a possibilidade de poder concretizar muitos projetos que me passam pela cabeça e consigo-os concretizar e é isso que me está a mover.

Uma lição da pandemia?
Respeito pelo próximo, por nós próprios, acima de tudo acho que é isso.

Plataformas online: amigas ou inimigas?
Amigas, porque são indispensáveis atualmente. Por exemplo, a nível de ouvir música, se não existissem as plataformas, aliás as plataformas digitais fizeram com que os outros formatos, como o CD, já para não falar no vinil - que por acaso agora está na moda -, deixassem praticamente de existir. Atualmente os CD já não se vendem e as pessoas todas, não sei estatisticamente dar um número exato, mas acho que mais de 90% das pessoas ouvem música através das plataformas digitais.

Quota de música portuguesa nas rádios?
É sempre para subir, é sempre pedir para subir, não faço ideia, porque também sei que essas quotas nunca são realmente cumpridas, há muitos estratagemas para as contornar. Devia haver mais rigor e deveria ter-se mais orgulho naquilo que é feito em Portugal.

Um livro?
Essa é uma resposta difícil, porque há muitos livros. Houve um livro que me marcou muito na minha adolescência, que foi o Papillon, de Henri Charrière. Atualmente estou fascinado com o Haruki Murakami, um escritor japonês que tenho lido ultimamente uns quatro ou cinco livros, não só porque é um excelente escritor, gosto muito da sua forma de escrever, como também há sempre grandes referências à música, porque ele é um melómano e tem sempre referências à música nos seus livros.

Uma paixão?
Posso ter duas? A minha família e a música.

O que é o melhor da vida?
Viver-se com alegria e com saúde.

Tem algum sonho por cumprir?
Tenho. Gostava de fazer a banda sonora de um filme, um filme que fosse bom. É uma das frustrações que tenho na minha vida, só fiz uma banda sonora de um filme e acho que era uma coisa que gostaria de ter feito mais.

Ouça aqui o podcast:

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