Rajoy será candidato caso haja novas eleições. Sánchez sob fogo amigo

PP aposta numa "maioria estável" com PSOE e Ciudadanos. Socialistas recusam e enfrentam possível luta pela sua liderança
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Repetir as eleições em Espanha seria "uma má notícia", mas caso essa seja a única solução para permitir a governabilidade do país, o primeiro-ministro Mariano Rajoy garante que será ele o candidato do Partido Popular (PP). Mas, nesse cenário, Pedro Sánchez poderá já não ser o nome do seu adversário socialista. É que no PSOE são cada vez mais as vozes que defendem a eleição de um novo secretário-geral, depois do pior resultado de sempre do partido nas legislativas de dia 20.

"A minha intenção é apresentar-me no debate de investidura e depois veremos o que acontece", indicou Rajoy numa conferência de imprensa de balanço do ano, acrescentando que a hipótese de renunciar à liderança do PP não se coloca. "Se se repetirem as eleições, eu quero ser o candidato", garantiu, mostrando-se, contudo, confiante de que ainda conseguirá ser investido primeiro-ministro com, pelo menos, a abstenção dos socialistas e do Ciudadanos, de Albert Rivera.

"Acreditamos que a vontade dos espanhóis sobre quem deve governar é clara. Existe um mandato e cumprindo a vontade e a incumbência dos espanhóis, vou tentar formar governo", afirmou Rajoy, defendendo uma "maioria estável para toda a legislatura". Sem nunca os mencionar, o líder do PP (que conseguiu eleger 123 deputados) referia-se a uma aliança com PSOE (90 eleitos) e Ciudadanos (40).

Segundo Rajoy, os espanhóis pediram nas urnas um executivo "com amplo apoio parlamentar, capaz de governar e gerar confiança e que dê estabilidade e segurança". E lembra que existe no Congresso uma maioria que defende "a unidade de Espanha, a soberania nacional, a igualdade dos espanhóis, o papel de Espanha na União Europeia, a consolidação da recuperação económica e a luta contra o terrorismo".

Na opinião do primeiro-ministro não há "alternativa" à sua proposta, já que tentar formar um governo com vários partidos à esquerda "não é o melhor para os espanhóis".

Divisões no PSOE

Os socialistas não partilham a opinião do líder do PP e recusaram a proposta desse governo de "amplos consenso" que ele defende. "Rajoy deve assumir a iniciativa, mas também deve assumir que já começa a fazer parte do passado deste país. É imobilismo e imposição. Rajoy e o partido estão muito próximos da corrupção e desigualdade", assegurou o número dois do PSOE, César Luena, repetindo que os socialistas votarão contra a investidura de Rajoy ou qualquer outro candidato do PP.

O partido apresenta-se contudo muito dividido face àquele que foi o pior resultado da sua história. Mantendo-se o calendário previsto, o PSOE deveria celebrar o 39.º congresso em fevereiro. Mas o secretário-geral, Pedro Sánchez, defende que seja adiado até que a situação sobre o futuro governo espanhol fique decidida. Contudo os críticos acusam-no de se querer "blindar" na liderança do partido, caso seja necessário disputar novas eleições legislativas em março.

Oficialmente, não existe uma alternativa a Sánchez, mas o nome da presidente da Andaluzia, Susana Díaz, é o mais falado para a disputa de eventuais primárias. Nas eleições de 20 de dezembro, a Andaluzia foi a única região ganha pelo PSOE (que obteve 22 deputados, mais um do que o PP). Mesmo assim, nem toda a região se pintou de vermelho - as províncias de Almería e Málaga foram ganhas pelos populares.

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Na reunião de segunda-feira, que durou mais de quatro horas, os socialistas aprovaram uma resolução que dá a Sánchez o poder de negociar um governo alternativo ao PP caso Rajoy não seja investido primeiro-ministro. Contudo, há uma "condição indispensável" para o diálogo com qualquer partido: que renuncie "à autodeterminação, ao separatismo e às consultas populares que procuram um enfrentamento", em clara alusão ao Podemos (conquistou 69 deputados em nome próprio e em alianças territoriais) e às formações independentistas. O Podemos defende um referendo para a Catalunha.

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