"Os nossos aviões puderam lançar com pleno êxito as suas bombas"..É o que se lê na primeira página do DN, sob a manchete, numa parte do texto, atribuído a Berlim e à DNB, acrónimo da agência de propaganda nazi Deutsches Nachrichtenbüro: "os nossos aviões", referindo os bombardeiros alemães e o facto, narrado nessa parte do texto, de terem conseguido lançar bombas sobre uma fábrica da Rolls Royce que fabricava os motores dos Spitfires, os caças britânicos. "Os aviões alemães, sem serem incomodados pela DCA [defesa antiaérea] nem pelos caças britânicos, puderam aproximar-se da fábrica que está construída em terrenos muito vastos e constitui um belo alvo. Não havia balões de barragem para proteger esta importante fábrica de maneira que os nossos aviões puderam lançar com pleno êxito as suas bombas.".Não é fácil perceber o noticiário do DN de 1940 - recorde-se que durante a primeira parte do II Guerra Portugal, apesar de se ter declarado neutral, exprimia simpatia pela Alemanha nazi e que o regime vigente em Portugal não era uma democracia com imprensa livre - e concretamente esta primeira página..A notícia-manchete sobre o raide nazi tem três partes: além da atribuída a Berlim e à DNB, tem outras duas, situadas em Londres. Nessas, o tom é mais jornalístico, apesar de uma delas citar um comunicado que se crê ser do comando militar ou do governo britânico e no qual se fala de um cinema atingido em Portsmouth, com alguns mortos em consequência - "A maioria dos casos mortais ocorreu num cinema que foi atingido por uma bomba" - assim como de dois aeródromos da força aérea britânica (RAF) atacados, também com baixas, e de um raide a Londres, com "número de mortos pouco elevado"..Os textos situados em Londres não mencionam o bombardeamento da fábrica da Rolls Royce; em compensação, o primeiro refere 47 aviões alemães derrubados e acrescenta: "Esse número é, sem dúvida, inferior à realidade.".E prossegue: "Os ataques principais foram desencadeados contra a região sudeste e terminaram por um ataque a Londres cerca da meia-noite. Na cidade caíram poucas bombas que causaram um incêndio rapidamente dominado. Osraides da tarde e do princípio da noite foram efetuados por formações de 500 bombardeiros que atacaram a costa sudeste onde se chocaram com os caças da RAF em serviço de patrulha. Simultaneamente, 500 aparelhos alemães que tentaram atacar Portsmouth foram intercetados pela aviação britânica. Travaram-se renhidos combates a 8000 metros de altitude em que os pilotos tiveram de fazer uso de máscaras de oxigénio."