RAFAEL BENÍTEZ: Reedições e vinganças

Publicado a
Atualizado a

Leio que há um futebolista alemão que considera o duelo desta noite como uma vingança e percebo-o, embora pense que pode significar muito mais. Espanha privou-os do Europeu perto de sua própria casa há dois anos e hoje reedita-se esse confronto, agora qualificado por muitos como a final antecipada deste Mundial da África do Sul.

Também estou próximo dessa corrente de opinião, sem querer menosprezar a Holanda. Parece- -me que será assim, que o vencedor desta penúltima batalha tem sérias garantias de ganhar a guerra futebolística que nos tem mantido ocupados - por muito que o próprio futebol, às vezes imprevisível, por momentos caprichoso, tenha a última palavra. Daí a expectativa lógica e a generosidade nos adjectivos com que todo o mundo classifica o Alemanha- -Espanha, um encontro, sem dúvida, do melhor que se pode ter.

Com o que não estou de acordo é com esse critério de que a equipa teutónica é uma das revelações do Mundial. Não estamos a falar do finalista do último Europeu? O que, sim, pode ser aceitável é que poucos apostariam numa Alemanha a mostrar traje de gala na fase final. E, o que é notável, chegasse a este ponto a jogar tão bem.

Vamos às contingências. Sami Khedira já superou os seus problemas físicos e estará em condições para defrontar a Espanha, formando dupla com Schweinsteiger no duplo pivot do meio- -campo, mas Cacau está em dúvida e pode ser baixa por lesão. Com Özil como jogador chave para ligar com o seu avançado, seja jogando entre linhas ou desviando das bandas para o interior, a Alemanha apresenta-se como uma equipa forte - sempre o foi - e com bom toque de bola. Tem jogadores que querem o esférico e sabem o que fazer com ele. Contra a Argentina provocaram muitos danos junto ao único médio centro argentino, Mascherano. Contra a Espanha será distinto, os nosso jogadores costumam ter o controlo da bola e o bloco é forte no centro do terreno, pela acumulação de homens e pelas características dos mesmos. Com Busquets, Xabi Alonso e Xavi, a Espanha tem três bons futebolistas com e sem bola, pelo menos do ponto de vista táctico.

O ponto fraco, se se pode chamar assim, dos alemães é a estatura dos seus centrais. Algo que servirá como ameaça no jogo aéreo, tudo bem, mas que, entretanto, pode tornar-se num aspecto vulnerável para os adversários a enfrentar. Se David Villa e Andres Iniesta movimentam-se para a área e recebem entre linhas, ou quando Xavi surge nesse espaço com a bola, qualquer parede nessa área complicará muito o movimento dos seus centrais que têm mais dificuldades para reagir e virar.

A Espanha tem confiança e uma ideia de jogo definida, mas a Alemanha também. Mas eu ainda vejo os pupilos de Vicente del Bosque mais equilibrados, mais fortes na zona central e com mais qualidade nos metros finais, que é onde, afinal, se marcam as diferenças.

A presença ou não de Fernando Torres voltará a alimentar os debates futebolísticos, mas, segundo o meu ponto de vista, o avançado centro pode marcar mais ou menos golos, mas isso será normalmente graças ao que gerem os seus companheiros, e como se elabore o jogo atrás. E Espanha, nesse aspecto, tem-no feito cada vez melhor, mas o que espero é que o avançado seja mais um jogador que fixe os centrais para criar espaços para os médios e estes se encarregarão dos passes para este finalizar. Torres, certatmente, pode marcar rmesmo as diferenças, mas se Vicente eleger outro, não esqueçamos que é quem melhor conhece o que tem, a Espanha continuará a ser forte e terá ocasiões, Mesmo assim, creio que Fernando iniciará a partida. Vejo a nossa selecção cada vez melhor, com mais segurança em si mesma. E pelo tipo de jogo que desenvolve, isso converte-se em algo absolutamente fundamental.

Entretanto, já espera na final a Holanda, que ontem deu boa conta do Uruguai num jogo que parecia decidido e que teve muita emoção até final e belos golos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt