RAFAEL BENÍTEZ: A Espanha vai passar o 'Rubicão'

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NOTA O treinador espanhol Rafael Benítez, que vai substituir José Mourinho no Inter, escreve em exclusivo para o DN e El Mundo durante o Mundial.

O jogo de hoje frente ao Chile é uma espécie de prova dos nove em relação às opções da selecção espanhola neste Mundial. Será como a passagem do "Rubicão" para a equipa de Vicente del Bosque. Já não haverá marcha atrás, como não houve para Julio César e as suas tropas ao atravessar o mítico rio. Referências históricas à parte, a Espanha chega ao jogo desta noite com a absoluta necessidade de ganhar. Sobretudo para tirar todas as dúvidas, porque na verdade um empate, somado a uma possível derrota suíça ante as Honduras, até pode chegar. Mas como não é possível estar a especular, há que ganhar. E Vicente e os seus vão consegui-lo.

Outra coisa que devemos dar desde já como certa é que o Chile será um adversário muito difícil. O seu treinador, Marcelo Bielsa, com quem contactei quando ele treinava a Argentina eu o Valência FC, é um estudioso do futebol. Ama-o, apaixona-o, vive-o... Recordo o que os jogadores argentinos me falavam da sua forma peculiar de trabalhar, laboriosa, meticulosa, completa…, das suas impressionantes colecções de vídeos e da sua permanente análise de tudo. Um louco do futebol, mas a quem respeito muito pelo que faz, como o faz e o que mostra. Um facto: o particular de preparação, há pouco tempo, entre a Espanha e o Chile foi um encontro travado e jogado com grande intensidade, e isso pode-nos levar a pensar que volte a ser igual agora neste caso.

Os chilenos jogam com convicção e estão a mostrar muito bom futebol. A Espanha, fiel ao seu estilo, tratará de manter o controlo do jogo através da posse de bola. Esta é a ideia principal. Logo, o desenho em campo, com Xavi mais ou menos adiantado ou Villa mais ou menos aberto, só servirá para debater em tertúlias. Mas a essência, a ideia principal, será manter o domínio. E não será fácil ante a pressão chilena. Navas e Villa muito abertos alargaram o campo contra as Honduras para deixar buracos no meio. As subidas de Sergio Ramos e as entradas por dentro de Xavi e inclusivé Alonso são outros dos argumentos ofensivos usadospor Espanha e é de esperar que a estratégia se possa repetir.

Outro debate possível é o da presença de Torres no eixo do ataque. Segunda-feira viu-se um Fernando Torres com muito mais vontade que acerto. Algo que acho normal depois de algum tempo lesionado. O ritmo de competição, o passe e a precisão só se conseguem jogando, que é o que lhe falta. Recuperou bem, trabalhou muito duramente depois da sua lesão com Iván e Edu, os preparadores físicos do Liverpool FC, e com os da selecção, e cria muitas expectativas para jogar bem. Há-de controlar a ansiedade, a vontade de criar lances, de contribuir e de marcar. Se o conseguir, estou convencido de que aparecerá, marcará e será o jogador valioso que todos conhecemos. Esperemos pois que a Espanha continue como uma das favoritas depois deste jogo, mostrando a qualidade que pode fazer história.

Quanto aos outros grupos, e apenas no resumo que permite este espaço, a Inglaterra e A Alemanha passaram, ainda que com problemas, e vão protagonizar um duelo de morte. Mas não será o único.

Todos esperavam por Rooney e apareceu Defoe para resolver a qualificação inglesa, enquanto a Alemanha, com bom futebol, encontrou em Özil o seu jogador e ganhou o estatuto de favorita. Caiu a França, uma das decepções, com problemas internos que a afectaram em campo e mais que um incidente que chegou aos media. Também caiu a Itália. Ontem, depois de perder com a Eslováquia e, apesar de ainda ter apostado no recém recuperado Pirlo para tentar dar a volta ao resultado, o 3-2 final manda-a de volta a casa apesar do emocionante final de partida. Os eslovacos passam juntamente com os paraguaios. Tal como Uruguai, México, Argentina, Coreia do Sul… Há ainda muitas coisas pendentes neste Mundial que, como se vê, encerra muitas surpresas.

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