Radiohead: Momentos de saudável desvario

Não é um álbum memorável, mas os Radiohead continuam a fazer grandes canções. É ouvir "Ful Stop", "Burn the Witch" ou "Identikit"
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Os Radiohead, que vão estar em Portugal no dia 8 de julho, podem ter deixado de fazer grandes obras depois do quinto álbum (de 2001), Amnesiac, mas continuam a fazer grandes canções. É disso ilustrativo o magistral Burn the Witch, empolgado por cordas e por um Thom Yorke em tornado emocional, e que abre de forma contundente o nono álbum dos Radiohead, A Moon Shaped Pool (já editado digitalmente e a ser editado em formato físico na próxima sexta-feira).

Há outros momentos de saudável desvario no novo longa-duração da banda de Oxford, como Ful Stop, onde a neura vulcânica de Thom Yorke cresce bem dentro daquele carrossel de programações eletrónicas que o acerca. Ou Identikit, em que o bicho-carpinteiro de guitarras volta a conseguir surpreender o ouvinte, enquanto a voz de Thom Yorke brilha numa luta entusiasmante contra os seus próprios ecos. Burn the Witch, Ful Stop e Identikit já fariam de A Moon Shaped Pool um magnífico EP.

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Mas tal como nos últimos discos dos Radiohead, o problema volta a ser da maioria do recheio. Thom Yorke navega com os seus lamentos da vida numa base eletrónica multiangular e numa envolvência de guitarras e de muitos, muitos teclados que nunca desistirá de experimentar mais e mais. Mantêm-se os nobres princípios da banda ao fim destes anos todos, mas não a grandiloquência sucessiva que fez de The Bends (este ainda mais abraçado às guitarras, de 1995), OK! Computer (de 1997) e Kid A (de 2000) álbuns memoráveis.

A presença em algumas faixas de A Moon Shaped Pool da London Contemporary Orchestra pode fazer pouco mais que vestir de gala um quadro musical que é de repetido arrefecimento. E aí não há nada que os tenha conseguido devolver à época áurea dos dias em que eram a banda de rock mais comovente do planeta. Nem mesmo com a impressionante coesão do quinteto (que nunca sofreu alterações), ou a admirável integridade, ou a reconhecível marca identitária do grupo ou, mesmo, o trabalho engenhoso do multi-instrumentista Johny Greenwood, que, com arquitetura de compositor de bandas sonoras, é meticuloso nas numerosas camadas que injeta em A Moon Shaped Pool.

*** Bom

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