Para a posteridade deixou ações em tribunal contra as mulheres, ou a favor dos homens, centenas de escritos marcados pelo desprezo em relação ao sexo oposto e documentos nos quais demonstra uma sanidade mental questionável desde, pelo menos, o divórcio em 2001. Roy Den Hollander, de 72 anos, que terá cometido suicídio, foi identificado pelo FBI como o principal suspeito do atentado à família da juíza Esther Salas no domingo, no estado de Nova Jérsia..Horas depois, desta vez sob o anonimato, fontes da investigação disseram aos media que Hollander é o alvo de uma investigação sobre o homicídio ocorrido no dia 11 deste mês ao advogado Marc Angelucci na sua casa em Crestline, Califórnia..A juíza Esther Salas devia ser o alvo do ataque de Hollander, mas não foi ferida no ataque de domingo. Já o filho Daniel, de 20 anos, foi morto a tiro quando abriu a porta. "Foi baleado no coração", disse o presidente da câmara de North Brunswick, Francis Womack. Também o marido de Salas, Mark Anderl, advogado e ex-procurador, foi atingido, mas sobreviveu ao ataque.. A juíza Esther Salas, de 51 anos, estava destacada para um caso interposto por um grupo de investidores do Deutsche Bank que reclamam que o banco não supervisionou devidamente clientes considerados de alto risco, como é o caso do condenado por crimes sexuais Jeffrey Epstein, que se matou no ano passado enquanto aguardava julgamento na prisão..O caso mais mediático a que presidiu terá sido o de fraude da estrela de TV Teresa Giudice e do seu marido Joe..Salas foi a primeira mulher hispânica no cargo de juíza federal distrital em Nova Jérsia, tendo sido nomeada pelo então presidente Barack Obama, em 2010..Numa declaração à imprensa, o senador Bob Menendez, da Nova Jérsia, recorda que foi "com orgulho" que a recomendou ao presidente Obama. "As minhas orações estão com a juíza Salas e a sua família, e que os responsáveis por este ato horrendo sejam rapidamente detidos e levados à justiça"..Lista com nomes de mulheres.Segundo fontes policiais, o atirador parecia estar vestido como funcionário de uma empresa de entregas. Horas após o tiroteio, na segunda-feira de manhã, o corpo de Hollander foi encontrado num carro na cidade de Rockland, no estado de Nova Iorque. Aparentemente, terá cometido suicídio..Dentro do veículo de Hollander estava uma foto da juíza DiFiore juntamente com o seu endereço. O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, disse ter ordenado à polícia estatal que protegesse a juíza chefe do estado de Nova Iorque..Fontes disseram à ABC News que uma dúzia de outros nomes foram encontrados no carro de Hollander, que tinha sido diagnosticado com cancro..Den Hollander era um advogado que fazia gala em se denominar antifeminista e que intentou numerosos processos contra as mulheres nos últimos anos -- todos sem sucesso. O mais colorido, e pelo qual tanto se bateu, foi contra os bares e as discotecas por oferecerem bebidas ou entradas nas noites para mulheres..Esta batalha jurídica deu-lhe visibilidade mediática, quer na Fox News e na MSNBC, quer em meios locais, como o Brooklyn Paper, mas também no Colbert Report, de Stephen Colbert, em 2011. "Vou lutar contra as feministas até ao meu último dólar, ao meu último suspiro, e se houver alguma coisa depois da morte, lutarei contra elas pela eternidade", disse então no programa de humor..Apresentou processos contra o governo federal, contestando a constitucionalidade da Lei da Violência contra a Mulher, ou a "Lei da fraude feminina", como chamou. Também perdeu ações judiciais contra a Universidade de Columbia por esta ter o curso de Estudos das mulheres. Em 2015, intentou uma ação judicial na qual alegou que era inconstitucional que as mulheres não fossem sujeitas ao recrutamento militar. O processo foi analisado por Salas, que não arquivou o processo, como quase todos os casos de Den Hollander. E acabou por dar seguimento ao processo através do sistema judicial..Mas Den Hollander, nos escritos que mantinha no seu site mas também que depositou no Internet Archive mostrou-se perturbado com o que considerou ser o adiamento do processo por parte de Salas. Queixou-se que permitiu ao Departamento de Justiça apresentar a sua quarta moção para arquivar o caso, sugerindo que Salas estava "a tentar manter este caso no seu tribunal até que um meteorologista lhe mostrasse de que forma os ventos legais estavam a soprar"..No seu site, apelava aos homens "para lutarem pelos seus direitos antes de deixarem de os ter". Mas isso é o menos escabroso..No que chamou de Evolutionarily Correct Cyclopedia, Den Hollander discorreu em 152 páginas sobre "soluções" para tratar das "feminazis" e dos "comunistas políticos. "As coisas começam a mudar quando homens individualmente começaram a matar as pessoas específicas responsáveis pela destruição das suas vidas antes de cometerem suicídio", escreveu..Nos seus escritos, que denunciam uma pessoa mentalmente desequilibrada, também abunda o racismo e as fontes do seu ódio para com as mulheres: a mãe, "outra fêmea malévola", e a mulher com que casou, e que ora chama de Anjo Negro, ora de Angelina, ora pelo nome verdadeiro..Anjo negro e máfia russa.Formado em direito em 1985 na Universidade George Washington e com um MBA em 1997 na Universidade de Columbia, Hollander casou-se em março de 2000 em Krasnodar, na Rússia com Alina Shipilina. Menos de um ano depois interpôs uma ação para anular o casamento ou para se divorciar, o que aconteceu em dezembro desse ano. Mas Hollander não se deu por satisfeito e intentou novo processo contra a ex-mulher por fraude, coação e intimidamento, que foi negada por uma juíza em 2002..Todas estas peripécias estão descritas pelo advogado e profusamente documentado, no site Been Scammed. Hollander diz-se vítima de um esquema que envolvia a máfia russa, drogas e prostituição -- acusava a ex-mulher de ter casado apenas com o intuito de obter autorização de residência nos EUA para poder trabalhar no seu país como dançarina e prostituta..Voluntário pró-Trump.Em julho de 2015 Roy Den Hollander escreveu uma carta com um teor bastante confuso a Donald Trump, então pré-candidato na campanha dos republicanos. Nela queixava-se de que as autoridades consideravam-no um imigrante ilegal e desejou boa sorte ao nova-iorquino..No documento com mais de duas mil páginas, que está a ser analisado pelo FBI, o advogado disse que foi voluntário na campanha presidencial de Donald Trump, o qual disse "estar a dizer a verdade sobre imigrantes ilegais".."Fiz trabalho voluntário para a campanha de Trump porque detesto mais o politicamente correto-feminismo do que detesto a América", escreveu. "Se eu odiasse mais a América, teria trabalhado para a campanha de Hillary.".Também em 2016, o advogado intentou uma ação judicial contra sete jornalistas políticos, acusando-os de um alegado esquema de extorsão contra Trump. "As politicamente corretas-feministas tinham tomado conta de grande parte dos meios de comunicação social desde que eu tinha trabalhado na área do jornalismo televisivo nos anos 70 e 80 como escritor e produtor político", escreveu..A acusação estava colada com cuspo, limitando-se a trasncrever os textos dos jornalistas que afirmava serem injustas para Trump..Não satisfeito, alargou a ação a um total de 17 jornalistas de sete meios noticiosas, incluindo as principais redes de televisão, o New York Times, e o Washington Post: o facto de "ter atraído zero atenção dos meios de comunicação socia, ao contrário de alguns dos meus outros casos", deixou-o desapontado..Sobre a sua experiência de voluntário, disse que ia para a Trump Tower fazer chamadas telefónicas durante as primárias e a campanha para as eleições presidenciais. Ao relembrar o seu tempo a trabalhar para a campanha, escreveu que a maioria dos colegas voluntários eram "baby boomers envelhecidos" como ele..Disse também ter estado em Washington na cerimónia da tomada de posse de Trump, tendo sido entrevistado para um canal de TV francês.