'Quesos' demasiado indigestos para o CDUL
Sem a presença de qualquer representante das federações portuguesa ou espanhola jogou-se ao fim da manhã deste sábado a edição 2017 do troféu que, desde 1965 e anualmente, coloca frente a frente, os campeões dos dois países ibéricos. E mostrando bem a crise que vive a modalidade no nosso país teve que ser o CDUL a comprar a taça entregue no final do encontro!
Ora a atual supremacia do râguebi espanhol em relação ao português (presentemente situado um degrau abaixo na hierarquia europeia) ficou hoje plenamente demonstrada no relvado do EU Lisboa, com os crónicos campeões do país vizinho conquistaram cinco títulos nas últimas seis temporadas e comandam a competitiva liga espanhola com 12 triunfos nas 12 jornadas disputadas desta época a virem até Lisboa para justificarem o favoritismo levando de vencida o campeão português. Foi um triunfo obtido sem brilho nem praticando um râguebi de encantar, mas conseguido com justiça e sem grandes aflições, permitindo-lhe erguer a segunda Taça Ibérica do seu historial depois da conquistada em 2014.
Logo no minuto inicial tudo ficou muito claro relativamente às dificuldades que a avançada do CDUL iria ter ao longo da partida: primeira mêlée do jogo, primeira falta da 1.ª linha universitária... e 3-0 para o Quesos numa penalidade do inglês Gareth Griffiths (internacional espanhol por via dos 36 meses de permanência), autor de 17 pontos da sua equipa em pontapés.
Perante um adversário mais pesado, experiente e com sete jogadores nascidos fora da península ibérica, o CDUL ainda com muitas nomes importantes ausentes por lesão e sem um banco que fizesse a diferença mostrava ter poucas soluções de ataque, para além dos pontapés do regressado abertura Nuno Penha e Costa. Os jogadores não recbiam a oval embalados (com exceção do pilar Sovea) e mesmo quando se percebia que as linhas atrasadas espanholas deixavam muito a desejar quando atacadas em velocidade, abrindo brechas que poderiam e mereciam ser bem exploradas.
Qualquer bola recuperada pelo CDUL, se bem circulada pelos três-quartos o que poucas vezes aconteceu, diga-se... era um vê-se-te-avias na defesa do VRAC. Pena foi que os campeões nacionais não tivessem utilizado mais vezes essa arma e única, já que no combate entre avançadas a inferioridade portuguesa era manifesta.
Num desses turn-overs conseguido aos 22', Gonçalo Foro e Tomás Appleton ganharam metros sobre metros num lance de contra-ataque concluído com fora-de-jogo espanhol para Tomás Noronha empatar (3-3). E logo a seguir o n.º 15 do CDUL produzia mesmo a reviravolta no marcador com nova penalidade (6-3).
Mas a indisciplina universitária haveria de ter custos avultados, pois num curto espaço de 5 minutos uma placagem alta e nova falta na mêlée permitiria a Griffiths colocar o VRAC no comando (9-6).
Nos derradeiros quatro minutos da 1.ª parte o jogo incendiou-se. O Quesos montava por fim o seu primeiro maul dinâmico a sério ganhando muitos metros; na sequência do lance seria o asa Vasco Baptista (bom jogo!) com uma placagem fantástica e miraculosa junto à bandeirola a roubar um ensaio que já era festejado nas bancadas por nuestros hermanos; o n.º 7 do VRAC Gabriel Muñoz via o cartão amarelo por placagem dura e sem bola e era excluído 10 minutos; e no último lance antes do intervalo o CDUL fazia por fim o seu ensaio numa jogada de compêndio. Soberba perfuração de Penha e Costa, o 2.ª linha Rafael Simões (talvez o melhor jogador português hoje) a surgir muito bem no apoio e transmissão supimpa para Gonçalo Foro fazer o que melhor pode e sabe: levantar os joelhos, mostrar a peitaça aos adversários, acelerar... e mergulhar para um ensaio de grande beleza estética e que colocava o CDUL na frente por 13-9 no descanso.
Já o 2.º tempo seria penoso para os campeões nacionais, que pouco habituados a 80 minutos de ritmo intenso perante rivais de boa envergadura física (os quatro jogos na Challenge Cup foram bons mas não chegam...), não fariam mais qualquer ponto e, sem posse de bola, soçobrariam com naturalidade perante um VRAC que, sem deslumbrar e mostrando ser somente um bom representante do râguebi espanhol dos anos 70 () , mostraria atributos e qualidades que lhe deram o triunfo final.
A equipa de Diego Merino reentrou a dominar intensamente, decidida a resolver depressa as coisas e acampou nos 22 portugueses, só dali saindo com pontos. O centro Alvar Soria não fez ensaio aos 47' já na área de validação perante uma magnífica placagem de Tomás Appleton mas uma sucessão de faltas transformadas em mêlées (departamento do jogo onde estavam muito confortáveis...) acabaria na exclusão por 10 minutos do pilar Sovea e, na mêlée decorrente, a falta de um asa (Villax tinha saído para entrar o pilar João Almeida...) abriu uma auto-estrada para o formação Christopher Eaton fazer o ensaio dos 16-13.
Cada vez mais confiantes os jogadores do Quesos mandavam no jogo e duas penalidades de Griffiths e um ensaio do recém-entrado ponta Algoriz explorando debilidades defensivas dos homens da casa, coloririam o marcador até aos definitivos e inquestionáveis 27-13.
Após 38 edições da Taça Ibérica passam agora a registar-se 22 triunfos espanhóis contra 16 portugueses, estes através de Benfica (1971, 86, 88 e 2001), Direito (99, 2002, 2013 e 2015), Cascais (92, 93 e 96), CDUL (83, 84 e 2012), Académica (97) e Agronomia (2007).
O El Salvador de Valladolid é a equipa com mais triunfos (5), seguido de Benfica, Direito e Santboiana, que conquistaram quatro títulos cada.