Angela Merkel ascendeu à liderança da União Democrata-Cristã (CDU) em abril de 2000, tendo sucedido a Wolfgang Schäuble. O agora presidente do Parlamento alemão demitiu-se devido a escândalo sobre o financiamento do partido..Mais de 18 anos depois, a líder alemã anunciou o fim de uma era. Merkel informou que a decisão não foi tomada agora, mas antes das férias de verão do Bundestag..O facto é que os últimos meses foram marcados pela sucessão de resultados abaixo das expectativas (legislativas, Baviera e Hesse) e desavenças na coligação CDU-CSU/SPD..No entanto, a mulher que os alemães chegaram a chamar de mamã (Mutti Merkel) pretende completar a legislatura, até 2021.."Chegou a hora de abrir um novo capítulo", afirmou em conferência de imprensa a dirigente de 64 anos. Após explicar a sua decisão de se manter no poder mas fora dos círculos partidários, sentiu necessidade de se justificar: "Sei que isto nunca foi feito antes, que é inédito, mas acredito que traz mais oportunidades do que riscos para o país, para o governo alemão e para o meu partido.".Sobre quem irá suceder-lhe no congresso de dia 2 de dezembro em Hamburgo, disse apenas: "Irei aceitar qualquer decisão democrática tomada pelo meu partido.".A Mini-Merkel.Contudo, não é segredo que Angela Merkel tem uma preferência. Chama-se Annegret Kramp-Karrenbauer, tem 56 anos, e é também conhecida como AKK ou mini-Merkel. Em fevereiro foi promovida a secretária-geral da CDU - uma jogada com a marca de Merkel e que foi vista como fazendo parte do plano de sucessão..Para se dedicar ao partido, Annegret Kramp-Karrenbauer deixou o Sarre, estado que governava desde 2011. AKK é considerada centrista e pragmática..Socialmente é conservadora - opõe-se ao casamento gay -, mas, por outro lado, defende a ordenação de mulheres na Igreja Católica. No campo dos direitos sociais podia ser confundida com uma militante do SPD: defende o acolhimento dos imigrantes, o salário mínimo, os direitos dos trabalhadores e tem como máxima que o desenvolvimento económico não deve deixar ninguém para trás..AKK é casada com um engenheiro de minas que abdicou da carreira para cuidar dos três filhos do casal..O opositor da chanceler.É dentro do governo que Angela Merkel tem alguns dos seus mais fortes adversários. Além do ministro do Interior Horst Seehofer (do partido irmão bávaro, CSU), que confronta a chanceler em público sempre que pode, o ministro da Saúde também não esconde as suas divergências. Aos 38 anos, Jens Spahn é o candidato mais à direita..De tal modo que Alexander Gauland, o líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita cuja retórica anti-imigração e eurocética tem sido coroada com um aumento de popularidade, se mostrou preocupado com a hipótese de o ministro da Saúde chegar à liderança da CDU e do país. "Se no futuro Spahn chegar a chanceler isso vai ser mais difícil para nós", reconheceu Gauland..Jens Spahn chegou ao Parlamento em 2002, proveniente de Ahaus, localidade perto da fronteira com a Holanda. Considerado uma estrela em ascensão de alguns anos para cá, fez parte do círculo de Wolfgang Schäuble, do qual foi secretário de Estado entre 2015 e 2018, tendo a seu cargo a pasta do Orçamento..Apesar de conservador e dotado de um discurso contra as elites globais, é um católico casado com outro homem (um jornalista)..Em 2015, face à crise dos refugiados e migrantes, foi um dos críticos mais ferozes ao discurso pró-acolhimento de um milhão de pessoas por parte de Angela Merkel. Um momento decisivo, ao deixá-lo marcado entre os aliados da chanceler e, claro, a marcar pontos perante os seus adversários..A vítima de Merkel.O mais velho candidato (62 anos) a perfilar-se como sucessor de Merkel veria como uma vingança receber o partido das mãos de quem o afastou do poder. Falamos de Friedrich Merz, um advogado que saiu do Parlamento há uma década para se dedicar aos negócios..Neste momento, Merz é presidente do conselho fiscal da filial germânica da empresa de gestão de ativos BlackRock, entre outras posições não executivas em conselhos de administração de empresas. É também presidente da associação Atlantik-Brücke, que tem como objetivo promover as relações germano-americanas e o atlantismo..A carreira política de Merz levou um tombo em 2002. Angela Merkel, para cimentar o seu poder e em resultado de um acordo com Edmund Stoiber (foi o social-cristão quem concorreu a chanceler), tomou a Merz o cargo de líder da bancada parlamentar da CDU-CSU. Entre 2005 e 2009 foi crítico do governo da Grande Coligação, até acabar por sair da política ativa. Mas nunca deixou o partido..As ideias de Merz estão mais próximas das de Spahn do que de Kramp-Karrenbauer. A ele deve-se o conceito de Leitkultur, "cultura dominante", em oposição ao multikulti (multiculturalismo). Ou seja, que os imigrantes, em especial os muçulmanos, devem assimilar e adotar os valores e a cultura alemã em detrimento do comunitarismo..A quarta opção.Outros candidatos podem aparecer entretanto. Um deles é Armin Laschet. O ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália afirmou que antes de decidir se é candidato tem de saber qual é a direção que o partido quer tomar..Laschet ganhou o estado mais populoso da Alemanha no ano passado ao SPD. Europeísta convicto, considerado mais liberal do que conservador, é um ex-jornalista de 57 anos.
Angela Merkel ascendeu à liderança da União Democrata-Cristã (CDU) em abril de 2000, tendo sucedido a Wolfgang Schäuble. O agora presidente do Parlamento alemão demitiu-se devido a escândalo sobre o financiamento do partido..Mais de 18 anos depois, a líder alemã anunciou o fim de uma era. Merkel informou que a decisão não foi tomada agora, mas antes das férias de verão do Bundestag..O facto é que os últimos meses foram marcados pela sucessão de resultados abaixo das expectativas (legislativas, Baviera e Hesse) e desavenças na coligação CDU-CSU/SPD..No entanto, a mulher que os alemães chegaram a chamar de mamã (Mutti Merkel) pretende completar a legislatura, até 2021.."Chegou a hora de abrir um novo capítulo", afirmou em conferência de imprensa a dirigente de 64 anos. Após explicar a sua decisão de se manter no poder mas fora dos círculos partidários, sentiu necessidade de se justificar: "Sei que isto nunca foi feito antes, que é inédito, mas acredito que traz mais oportunidades do que riscos para o país, para o governo alemão e para o meu partido.".Sobre quem irá suceder-lhe no congresso de dia 2 de dezembro em Hamburgo, disse apenas: "Irei aceitar qualquer decisão democrática tomada pelo meu partido.".A Mini-Merkel.Contudo, não é segredo que Angela Merkel tem uma preferência. Chama-se Annegret Kramp-Karrenbauer, tem 56 anos, e é também conhecida como AKK ou mini-Merkel. Em fevereiro foi promovida a secretária-geral da CDU - uma jogada com a marca de Merkel e que foi vista como fazendo parte do plano de sucessão..Para se dedicar ao partido, Annegret Kramp-Karrenbauer deixou o Sarre, estado que governava desde 2011. AKK é considerada centrista e pragmática..Socialmente é conservadora - opõe-se ao casamento gay -, mas, por outro lado, defende a ordenação de mulheres na Igreja Católica. No campo dos direitos sociais podia ser confundida com uma militante do SPD: defende o acolhimento dos imigrantes, o salário mínimo, os direitos dos trabalhadores e tem como máxima que o desenvolvimento económico não deve deixar ninguém para trás..AKK é casada com um engenheiro de minas que abdicou da carreira para cuidar dos três filhos do casal..O opositor da chanceler.É dentro do governo que Angela Merkel tem alguns dos seus mais fortes adversários. Além do ministro do Interior Horst Seehofer (do partido irmão bávaro, CSU), que confronta a chanceler em público sempre que pode, o ministro da Saúde também não esconde as suas divergências. Aos 38 anos, Jens Spahn é o candidato mais à direita..De tal modo que Alexander Gauland, o líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita cuja retórica anti-imigração e eurocética tem sido coroada com um aumento de popularidade, se mostrou preocupado com a hipótese de o ministro da Saúde chegar à liderança da CDU e do país. "Se no futuro Spahn chegar a chanceler isso vai ser mais difícil para nós", reconheceu Gauland..Jens Spahn chegou ao Parlamento em 2002, proveniente de Ahaus, localidade perto da fronteira com a Holanda. Considerado uma estrela em ascensão de alguns anos para cá, fez parte do círculo de Wolfgang Schäuble, do qual foi secretário de Estado entre 2015 e 2018, tendo a seu cargo a pasta do Orçamento..Apesar de conservador e dotado de um discurso contra as elites globais, é um católico casado com outro homem (um jornalista)..Em 2015, face à crise dos refugiados e migrantes, foi um dos críticos mais ferozes ao discurso pró-acolhimento de um milhão de pessoas por parte de Angela Merkel. Um momento decisivo, ao deixá-lo marcado entre os aliados da chanceler e, claro, a marcar pontos perante os seus adversários..A vítima de Merkel.O mais velho candidato (62 anos) a perfilar-se como sucessor de Merkel veria como uma vingança receber o partido das mãos de quem o afastou do poder. Falamos de Friedrich Merz, um advogado que saiu do Parlamento há uma década para se dedicar aos negócios..Neste momento, Merz é presidente do conselho fiscal da filial germânica da empresa de gestão de ativos BlackRock, entre outras posições não executivas em conselhos de administração de empresas. É também presidente da associação Atlantik-Brücke, que tem como objetivo promover as relações germano-americanas e o atlantismo..A carreira política de Merz levou um tombo em 2002. Angela Merkel, para cimentar o seu poder e em resultado de um acordo com Edmund Stoiber (foi o social-cristão quem concorreu a chanceler), tomou a Merz o cargo de líder da bancada parlamentar da CDU-CSU. Entre 2005 e 2009 foi crítico do governo da Grande Coligação, até acabar por sair da política ativa. Mas nunca deixou o partido..As ideias de Merz estão mais próximas das de Spahn do que de Kramp-Karrenbauer. A ele deve-se o conceito de Leitkultur, "cultura dominante", em oposição ao multikulti (multiculturalismo). Ou seja, que os imigrantes, em especial os muçulmanos, devem assimilar e adotar os valores e a cultura alemã em detrimento do comunitarismo..A quarta opção.Outros candidatos podem aparecer entretanto. Um deles é Armin Laschet. O ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália afirmou que antes de decidir se é candidato tem de saber qual é a direção que o partido quer tomar..Laschet ganhou o estado mais populoso da Alemanha no ano passado ao SPD. Europeísta convicto, considerado mais liberal do que conservador, é um ex-jornalista de 57 anos.