Para os apoiantes do presidente norte-americano, o facto de o ex-diretor de campanha de Donald Trump, Paul Manafort, só ter sido condenado por oito dos 18 crimes financeiros pelos quais estava a ser julgado (o júri não chegou a acordo nos restantes dez) foi visto como uma fraca vitória para o procurador especial. O próprio presidente reiterou no Twitter tratar-se de uma "caça às bruxas"..Mas essa vitória é a única que basta a Robert Mueller, que complementou o sucesso na Virgínia com um acordo em Nova Iorque. O ex-advogado de Trump, Michael Cohen, declarou-se culpado de oito crimes de fraude e violação da lei de financiamento de campanhas e não afasta a hipótese de colaborar com a investigação à alegada interferência russa nas eleições norte-americanas, que Mueller foi encarregado de iniciar a 17 de maio de 2017..Tal como Cohen, outras três pessoas ligadas a Trump assumiram os seus crimes, em troca de uma pena mais reduzida e colaboração com Mueller, havendo outras duas (não ligadas diretamente ao presidente) que também se declararam culpadas de crimes ligados à investigação. E a condenação de Manafort poderá levar outros a decidir colaborar com o procurador especial..Mas quem são os cinco aliados de Trump (e o outro arrependido) nas mãos da justiça?.Papadopoulos e a reunião com Putin.O ex-conselheiro em política externa de campanha de Trump George Papadopoulos foi o primeiro a chegar a acordo com Mueller e a declarar-se culpado, em outubro de 2017. Assumiu que mentiu, em janeiro de 2017, aos agentes do FBI que investigavam as alegadas ligações da campanha à Rússia..Papadopoulos disse, no acordo, que mentiu sobre "o timing, a extensão e a natureza das suas relações e interações com alguns cidadãos estrangeiros que sabia terem ligações próximas com membros importantes do governo russo". Admitiu ainda que se ofereceu para preparar uma reunião do então candidato Trump com o presidente russo, Vladimir Putin..Mueller recomendou a 17 de agosto que Papadopoulos possa cumprir até seis meses de prisão por mentir às autoridades..Flynn, o ex-conselheiro de segurança.Michael Flynn também se declarou culpado, em dezembro, de mentir aos agentes do FBI sobre os seus contactos com a Rússia e aceitou cooperar com a investigação de Mueller..O ex-conselheiro de segurança de Trump (esteve no cargo menos de um mês) terá mentido sobre as suas conversas com o embaixador da Rússia em Washington. Ambos terão falado, em finais de 2016, quando Trump já tinha sido eleito mas Barack Obama ainda estava na Casa Branca, sobre o eventual fim das sanções à Rússia..Nesta semana, tanto o procurador como a equipa de advogados de Flynn pediram mais tempo antes da audiência para decidir a sua sentença (é a segunda vez que o fazem). Isso parece indicar que a colaboração continua ativa e que Mueller acredita que Flynn tem mais informação que pode ajudar à sua investigação ou que a sentença pode revelar mais coisas do que o procurador especial está disposto a revelar neste momento..Manafort, o único que não quebrou.O ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, foi o único que não cedeu à pressão de Mueller para chegar a um acordo e colaborar com a investigação. Acusado de 18 crimes de fraude fiscal, fraude bancária e de esconder as suas contas offshore, foi condenado por oito crimes por um tribunal na Virgínia..Os jurados não conseguiram chegar a acordo em relação aos outros dez crimes, tendo a acusação de decidir até 29 de agosto se insiste num novo julgamento nesses casos. A sentença pode chegar ao máximo de 80 anos de prisão, estando Manafort neste momento detido (depois de ter sido acusado de tentar interferir com testemunhas num outro processo)..A acusação nada tem que ver com a alegada interferência russa nas eleições de 2016, estando ligada ao trabalho de lóbi que fez na Ucrânia, mas o mandato de Mueller permite-lhe investigar todos os crimes com que se depare..Manafort voltará a sentar-se no banco dos réus em setembro, em Washington, desta vez por não se ter registado como agente estrangeiro durante o tempo que fez lóbi na Ucrânia. Há quem alegue que, face ao resultado em tribunal, possa assumir todas as culpas neste processo, à espera de um perdão de Trump, que se tem mostrado solidário com ele..Rick Gates, o número dois de Manafort.Braço direito de Manafort na empresa de lóbi, Gates seguiu-o para um cargo na campanha de Trump: foi vice-diretor de campanha. Em outubro, ambos foram acusados de uma série de crimes relacionados com o trabalho de lóbi para a Ucrânia, desde conspiração contra os EUA até conspiração para lavar dinheiro, mas declarou-se inocente, tal como Manafort..Contudo, em fevereiro, declarou-se culpado, tendo concordado cooperar com Mueller, que em troca abdicou de o acusar de 22 crimes relacionados com fraude fiscal e fraude bancária. Foi a testemunha-chave no julgamento de Manafort, tendo sido obrigado a assumir que ajudou o antigo patrão a desviar dinheiro do trabalho de lóbi, mas também que roubou ao próprio Manafort durante esse tempo..Michael Cohen, o advogado.O advogado de Trump, que no passado disse que daria o corpo às balas pelo presidente, admitiu ser culpado de oito crimes de evasão fiscal e de violar a lei eleitoral, tendo pago a duas mulheres "a pedido do candidato" e "com a intenção de influenciar as eleições" de 2016. Uma declaração que complica as coisas para Trump..Em causa Stormy Daniels, atriz de filmes pornográficos que afirma ter tido uma breve ligação com Trump em 2006, e Karen McDougal, uma ex-modelo da revista Playboy que afirma também ter tido uma ligação com o multimilionário em 2006-2007. Cohen terá pago, no total, 280 mil dólares em troca do silêncio de ambas..Michael Cohen, que trabalhou com Trump durante dez anos, chegou a acordo com Mueller, arriscando uma pena entre quatro e cinco anos de prisão..Os extras: Alex van der Zwaan e Pinedo.O advogado holandês, que trabalhou de perto com Manafort e Gates, declarou-se culpado em fevereiro de mentir para os investigadores em relação aos contactos com este último. Genro do oligarca russo German Khan, o advogado foi condenado a 3 de abril a 30 dias na prisão e multado em 20 mil dólares, sendo deportado em junho de volta para a Holanda..Alex van der Zwaan trabalhou para uma empresa de advogados (que entretanto já o despediu) que foi contratada pelo ministro da Justiça da Ucrânia, em 2012, tendo escrito um relatório que apoiava a acusação de uma rival do então presidente Viktor Ianukovitch, Yulia Timochenko. A acusação acredita que Manafort e Gates ajudaram a pagar o relatório, ao abrigo do trabalho de lóbi que desenvolveram para ucranianos pró-russos..O seu acordo com os procuradores, como todos os outros que foram feitos pela equipa de Mueller, dizem que "estes factos não constituem todos os factos conhecidos por ambas as partes relacionados com as acusações", deixando sempre o caminho aberto a eventuais surpresas posteriores..Já Richard Pinedo, que não esteve envolvido com a campanha de Trump, tinha um serviço online apelidado Auction Essistance, através do qual admitiu em fevereiro ter vendido a pessoas fora dos EUA números de contas bancárias que tinham sido criados usando identidades roubadas de cidadãos norte-americanos..Essas contas eram usadas, por exemplo, para comprar anúncios online em redes sociais e em esforços de propaganda para denegrir a democrata Hillary Clinton e apoiar o seu adversário nas primárias, Bernie Sanders. Também comprava anúncios contra os candidatos às primárias republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, apoiando Trump..Pinedo, que vive na Califórnia, disse que "cometeu um erro" mas "não tinha conhecimento" sobre quem estava a comprar as contas e o que estavam a fazer..Outras acusações.Mueller também já acusou 13 russos e três empresas russas de conspiração para cometer fraude nos EUA de forma a interferir nas eleições norte-americanos. E mais 12 agentes dos serviços de informação russos foram acusados por um grande júri de piratear a rede de computadores da campanha democrata, em 2016..A Rússia rejeitou sempre as acusações de que interferiu com a campanha eleitoral norte-americana, ao mesmo tempo que Trump sempre rejeitou as suspeitas de conluio da parte da sua equipa..O procurador especial também acusou Kostantin Kilimnik, um consultor político russo-ucraniano com ligações a Manafort, que é suspeito de trabalhar para os serviços de informação russos. Terá também, junto com o ex-diretor de campanha de Trump, tentado interferir com testemunhas no processo sobre o lóbi deste último na Ucrânia a favor de políticos pró-russos.