Quem é Surovikin, o impiedoso general russo conhecido por ligações ao grupo Wagner

Desde a tentativa de motim do grupo Wagner, o influente general de 56 anos desapareceu dos eventos públicos, o que para os analistas ditou o seu declínio. Sabe-se agora que foi demitido.
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Intitulado de "general Armageddon" pelos seus métodos brutais, Serguei Surovikin é um dos rostos emblemáticos da ofensiva russa contra a Ucrânia. Mas os seus vínculos com o grupo paramilitar Wagner e o seu líder, Yevgueni Prigozhin, complicaram-lhe os planos.

"O general de exército Serguei Surovikin foi demitido das suas funções", anunicou esta quarta-feira a agência estatal RIA Novosti, que cita uma fonte que acompanha as movimentações dentro do exército russo.

Desde a tentativa de motim do grupo Wagner, o influente general de 56 anos desapareceu dos eventos públicos, o que para os analistas ditou o seu declínio.

Na madrugada de 23 para 24 de junho, quando Prigozhin defendeu a queda da cúpula militar russa e o seu grupo de mercenários avançava em direção a Moscovo, Surovikin apareceu num vídeo onde falou com um ar solene e enquanto segurava uma arma.

"Dirijo-me aos combatentes e líderes do grupo Wagner (...) Somos do mesmo sangue, somos guerreiros. Peço que parem antes que seja tarde demais", pediu.

Menos de 24 horas depois, Prigozhin recuou e, segundo várias fontes, seguiu para o exílio em Belarus. Mas o apelo de Surovikin, divulgado muito rapidamente e considerado forçado por alguns observadores, não foi suficiente para evitar a marginalização do general, devido a seus vínculos com o grupo Wagner.

Com uma fama de ser implacável, Surovikin foi considerado durante muito tempo o principal aliado do grupo paramilitar dentro do ministério da Defesa da Rússia, apesar de Prigozhin ter pedido a destituição do ministro Serguei Choigu e do comandante do Estado-Maior, Valeri Guerasimov.

Em maio, enquanto Prigozhin acusava o ministério russo da Defesa de privar os seus mercenários de munições, o líder do grupo paramilitar conseguiu transformar Surovikin no seu principal interlocutor.

Quando Surovikin foi nomeado comandante das tropas russas na Ucrânia, em outubro de 2022, Prigozhin celebrou a notícia. Mas a posição durou apenas três meses, pois acabou por ser substituído da função pelo comandante do Estado-Maior Forças Armadas russas, Valery Gerasimov.

Em novembro de 2022, sob ordens de Surovikin, as tropas russas foram obrigadas a abandonar a cidade de Kherson e a margem direita do rio Dnieper, a sul da Ucrânia. Um revés significativo para Moscovo.

O general comandou em seguida uma campanha de ataque aéreo ercontra infraestruturas de energia ucranianas, uma estratégia que pretendia deixar o país vizinho de joelhos, mas que terminou num fracasso.

Após a substituição por Gerasimov, Surovikin permaneceu no círculo de comandantes, sempre acompanhado pela dura lembrança como veterano da guerra soviética no Afeganistão, da segunda guerra da Chechênia nos anos 2000 e da brutal campanha na Síria, em 2015, quando recebeu o apelido de "carniceiro sírio".

"É uma pessoa muito conhecida e os militares falam muito dele. Tem a reputação de ser um comandante lunático... e impiedoso", declarou à AFP um analista militar russo, que pediu anonimato.

Outros analistas destacam as suas qualidades de comandante. As tropas "Sul", que ele comandou até o fim do ano passado na Ucrânia, foram as que conquistaram mais territórios na Ucrânia.

O Rybar, um blog militar que acompanha os combates na Ucrânia, afirma que a demissão de Surovikin aconteceu "imediatamente depois" da rebelião por parte do grupo Wagner, mas que isto "não é necessariamente uma condenação, talvez apenas uma medida temporária".

Antes da Ucrânia, Surovikin, natural da Sibéria, foi um dos comandantes das forças russas na Síria. A ONG Human Rights Watch acusou e responsabilizou-o, em 2020, pelos ataques contra áreas residenciais, escolas e hospitais.

Na Rússia, ficou muito conhecido pela sua participação na tentativa de golpe de Estado de 1991, que representou a sentença de morte da URSS, e chegou a ser detido após ter visto elementos do seu grupo militar pelo qual era responsável, matar três manifestantes pró-democracia.

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