Quem aceitará uma ordem de Constança?

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Recomenda a Comissão Técnica Independente que a gestão do fogo em zonas rurais seja separada em duas componentes: a dos espaços florestais de um lado e a da proteção de pessoas e bens do outro. Isto significa reestruturar serviços, modificar rotinas, promover e despromover pessoas, defrontar interesses instalados, arranjar dinheiro, não se sabe onde, para pagar novas e grandes despesas. Pelo que vimos desde a primavera, tem a ministra Constança Urbano de Sousa, que não dá férias ao seu colar de pérolas, força política para concretizar isto?...

Recomenda a Comissão que a Força Especial de Bombeiros, o GIPS da GNR e os operacionais da Proteção Civil façam parte das atividades de prevenção, no inverno, para conhecerem melhor o terreno dos incêndios no verão.

Isto significa reestruturar serviços, modificar rotinas, promover e despromover pessoas, defrontar interesses instalados, arranjar dinheiro para pagar despesas. Tem a ministra Constança, que pela segunda vez foi traída por uma vaga de calor anunciada pelo IPMA e pela incapacidade previdente do comando da Proteção Civil, que nomeou, credibilidade interna para confrontar a inevitável resistência à mudança?

Recomenda a Comissão que o trabalho da Proteção Civil seja periodicamente avaliado por uma entidade externa e que o mesmo deva ser feito em relação à eficiência dos investimentos realizados pelo Estado no combate e prevenção de incêndios.

Recomenda a Comissão a criação de uma agência, dependente da Presidência do Conselho de Ministros, que coordene os imensos setores que direta ou indiretamente influenciam a gestão dos fogos rurais.

Recomenda a Comissão o mobilizar de universidades e laboratórios do Estado para desenvolver programas de investigação aplicada sobre fogos e o criar de um Laboratório Colaborativo onde se juntem academia e empresas para aplicarem, na realidade, os conhecimentos teóricos que há nesta matéria.

Isto significa reestruturar serviços, modificar rotinas, promover e despromover pessoas, defrontar interesses, arranjar dinheiro para novas despesas. Tem a ministra Constança, trucidada meses e meses seguidos pelos jornais, com qualquer imaginária defesa da sua ação desfeita pelo registo macabro de mais de 100 mortos, serenidade para reorganizar os serviços e, ainda, capacidade de sedução para, nesta altura, juntar tantos, tão bons, à sua volta?...

A Comissão identifica falta de preparação específica de muita gente que combate incêndios - na Proteção Civil, nos bombeiros, no comando operacional - e propõe que quem manda na Proteção Civil passe a ser escolhido por concurso. Recomenda ainda que a organização das forças de primeira intervenção e de intervenção posterior sejam mais profissionalizadas, equilibradas e sujeitas a atualização de conhecimentos permanente.

A Comissão recomenda que o Siresp ou algo semelhante seja modernizado, que seja reforçado o papel das Forças Armadas, que a vigilância tenha meios a sério e que as autarquias trabalhem com empenho na prevenção dos incêndios.

Não sei se estas ideias são as melhores para o país. Sei que um sucedâneo delas sairá do Conselho de Ministros de sábado: António Costa anunciou-o. Tal significa reestruturar serviços, modificar rotinas, promover e despromover pessoas, defrontar interesses instalados, arranjar dinheiro, não se sabe onde, para pagar novas e grandes despesas. Mantém a ministra Constança, justa ou injustamente, força intelectual, emocional e política para conseguir concretizar algo tão gigantescamente difícil? Quem vai, depois de tudo, aceitar uma ordem desta governante amorrinhada?

António Costa quer mesmo pôr as mãos no fogo por ela?...

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