A serra da Estrela produz apenas cerca de 10% do queijo que, com a utilização "legal e justa" de Denominação de Origem Protegida (DOP)", poderia fabricar. Mesmo assim, em 2005, apesar das condições climatéricas adversas, foram produzidas, por 24 queijarias (as únicas que, das 282 licenciadas, utilizaram a certificação DOP), 84,5 toneladas de queijo da serra, representando 70 553 unidades..Nos mais de 300 mil hectares da Área de Produção de Queijo da Serra da Estrela há 110 milhares de ovelhas, mas só 250 das explorações têm mais de 100 ovinos (reunindo 45 mil cabeças). E só estas "terão futuro com vocação leiteira, transformando o leite ali produzido" (as restantes poderão manter-se como produtoras de carne), defende João Madanelo, técnico da Ancose (Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela), com sede em Oliveira do Hospital..Os criadores de ovinos da Estrela têm vindo a diminuir (por ques-tões relacionadas com a posse de terra, dimensão da propriedade, idade e nível de formação dos pastores) mas, sublinha aquele especialista, estas unidades de maior dimensão poderão produzir 5,5 milhões de leite por ano e, além do Serra, mil toneladas de queijo de ovelha, 2 200 requeijões e 50 mil borregos. Isto é: receitas de quase 20 milhões de euros..Estes dados e estimativas permitem acreditar que o queijo da serra da Estrela pode continuar a salvaguardar as suas características e a assumir-se como um sector com outra dimensão e rentável. Mas o que é preciso fazer? "Uma reforma agrária", responde João Madanelo. É preciso, explicita, regular o regime de utilização da terra, permitindo o uso por quem a quer trabalhar e nela investir e redimensionando a propriedade e viabilidade empresarial agrícola - de referir que a Ancose possui 600 associados e intervém em 3700 explorações pecuárias..Além da reestruturação fundiária (defendida por responsáveis como Jorge Figueiredo, presidente da Cooperativa de Produtores de Queijo da Serra da Estrela), é ainda necessário "organizar comercialmente os produtores, concentrando a oferta", assentar a economia das explorações "não só no queijo, mas em todos os produtos que nelas possam ser gerados" e diminuir os custos de certificação. Sem esquecer medidas como, advoga João Madanelo, a promoção da venda directa nas queijarias e a informação dos consumidores da identidade e identificação (rotulagem). .A "débil organização comercial, a dificuldade de adaptação à entrega do queijo serra da Estrela nos grandes espaços comerciais, onde são colocados produtos feitos à semelhança" e a concorrência baseada no preço, são factores que o penalizam no mercado português. E este é o seu principal destino, até porque é o que tem uma cultura gastronómica capaz de o apreciar..Convém, no entanto, lembrar que o consumo de produtos lácteos na UE atingiu em média, em 2000, 132 quilos/ano per capita, contra oito em Portugal. De todo o modo, impõe-se alargar o mercado, sobretudo para onde há comunidades portuguesas. Como o Brasil, por exemplo e para onde a Casa dos Queijos, de Seia, começa a exportar Serra - a primeira remessa, de tonelada e meia, foi expedida em Dezembro, revela ao DN o gerente da empresa, José Carlos Pessoa. C