Quase perdeu a vida em 2010 mas uma promessa fê-lo voltar

Há sete anos, o motard Luca Manca sofreu um acidente que o deixou em coma durante três semanas. Agora, o italiano voltou para cumprir a promessa feita ao pai, entretanto falecido
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Por entre o anonimato do meio do pelotão, longe das motos que aceleram pela vitória a cada etapa na luta pelo triunfo final, o italiano Luca Manca carrega uma das histórias mais marcantes deste Dakar. Montado na sua KTM com o n.º 99, o motard não se desprende da foto do pai, Filippo, que morreu há cerca de um ano e a quem fez a promessa de voltar à mais famosa prova de todo-o-terreno, onde, em 2010, também Luca Manca quase perdeu a vida.

Então, há sete anos, o italiano era uma estrela do motocrosse e do enduro no seu país e um dos mais promissores jovens estreantes desse Dakar, mostrando andamento para desafiar os consagrados pilotos das equipas oficiais nas primeiras etapas. Até que um acidente grave lhe interrompeu o caminho e quase lhe tirou a vida. Manca, aliás, chegou a ser "dado" como morto, com os médicos a desligarem as máquinas por não terem já esperança na sua recuperação. Mas o italiano, ao fim de três semanas em coma, despertou contra todas as expectativas.

O acidente deu-se no início da sexta etapa, no deserto de Atacama, no Chile, quando Luca Manca enfiou a moto num buraco e sofreu um forte golpe na cabeça que lhe provocou um edema cerebral, tendo sido levado de helicóptero para Santiago do Chile. "Foi um acidente muito duro. Estive morto durante um período. Desligaram-me as máquinas depois de vários dias em coma, mas eu renasci, comecei a mexer-me...", relembra o italiano à reportagem do jornal argentino La Nación.

Um dia antes do infortúnio, Luca Manca tinha protagonizado um desses gestos de desportivismo que engrandecem a lenda de provas como o Dakar, ao parar para ceder um pneu ao seu ídolo e amigo Marc Coma (ex-piloto espanhol e atual diretor desportivo da prova), numa altura em que até estava em posição de lutar pelo pódio. No dia seguinte, partiu a todo o gás, para tentar recuperar o tempo perdido com a boa ação, e foi traído pelo destino. "Não relaciono uma coisa com a outra. O meu gesto foi sincero, de coração, porque o Marc é um amigo. O Dakar é assim...", recorda.

Depois de ter surpreendido os médicos e acordado do coma, o italiano teve de voltar a aprender tudo. Até a falar. "A reabilitação foi muito dura porque tive muito sangue na cabeça. Não falava, não caminhava, não tinha equilíbrio e tinha de tomar muitos medicamentos. O panorama era negro. Mas agora estou bem e desfruto das pequenas coisas da vida, como levar o meu filho mais pequeno todos os dias à escola", conta Luca Manca, pai de um rapaz de 2 anos e de uma rapariga de 7, a família que formou com a mulher Giuliana.

O piloto da Sardenha teve mesmo de recuperar todas as etapas e a primeira prova em que competiu depois do acidente foi num motocrosse entre crianças. Nesse período, o apoio do pai, Filippo, foi fundamental, lembra Luca Manca. "Acompanhou-me o tempo todo e insistiu para que voltasse a subir a uma moto, que tentasse voltar ao Dakar, que ele próprio me acompanharia e daria assistência. E quando ele estava para morrer, prometi-lhe que o iria fazer", explica o italiano, agora com 36 anos, que teve de correr primeiro o rali de Marrocos para provar aos organizadores do Dakar que estava em condições para voltar à prova rainha do todo-o-terreno.

Por isso, o italiano leva sempre a foto do pai consigo no equipamento, neste regresso ao Dakar com um único objetivo: "Chegar a Buenos Aires." Onde, desde aquele quase fatídico dia de 2010, o seu nome está inscrito debaixo de uma ponte na Avenida Sarmiento, por fãs que o quiseram homenagear. Manca, que segue numa tranquila 46.ª posição, espera poder vê-lo pela primeira vez.

"Não quero continuar a viver no passado, sempre com a memória do jovem promissor que desafiava o Comas e o Despres. Finalmente estou recuperado e quero retomar o que foi interrompido. Quero chegar ao fim e celebrar em Buenos Aires. Mereço isso."

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