Quase nove milhões em gel desperdiçados
No ano passado, durante a pandemia de gripe A, as farmácias e parafarmácias nacionais venderam mais de um milhão e 500 mil embalagens de produtos de desinfecção das mãos. Ou seja, quase nove milhões de euros gastos em gel e toalhetes à base de solução alcoólica, que agora um estudo norte-americano diz não ter serviço para proteger as pessoas contra o vírus H1N1.
Foi uma das primeiras mensagens do Ministério da Saúde, no ano passado, assim que se começou a ouvir falar da gripe A e da sua expansão em vários países do Mundo. Ainda o primeiro caso em Portugal não tinha sido confirmado e já a ministra Ana Jorge aconselhava os portugueses a desinfectarem as mãos com gel à base de álcool e a lavar bem as mãos.
Entre Abril de 2009 e Dezembro do mesmo ano, as farmácias e parafarmácias venderam 1.506.272 embalagens de produtos de desinfecção das mãos, um número que representou 8.773.440 euros gastos pelos portugueses, de acordo com dados fornecidos ao DN pela IMS Health, empresa de análise de mercado. Fora das contas estão as embalagens vendidas nas grandes superfícies, que chegaram a esgotar, e as compras feitas directamente a empresas especializadas.
A maior subida nas vendas deste tipo de produtos registou-se em Julho, mês em que houve um aumento enorme de casos de gripe A confirmados. Só no dia 15 de Julho já se tinham registado 107 casos positivos. Nesse mês, segundo dados da mesma consultora, as vendas de gel e toalhetes aumentaram 101% em relação a Junho, para 266.251 embalagens vendidas. Em relação a valores, o aumento foi de 161% para 2.111.365 euros. Nos restantes meses as vendas foram menores, mas ainda assim em Setembro e Outubro gastaram mais de um milhão de euros respectivamente.
Mas a medida, diz agora um grupo de investigadores liderado por Ronald Turner, da Universidade de Virgínia, não serviu para aumentar a protecção contra o vírus. De acordo com o estudo, apresentado no domingo durante uma conferência que juntou 12 mil especialistas em doenças infecciosas, 12 em cada 100 participantes do grupo que lavou regularmente as mãos com álcool em gel foram contaminados com o vírus H1N1, enquanto que no grupo que não usou nenhum desinfectante 15 de cada 100 contraíram a doença.
"Um desinfectante de mãos à base de álcool não reduz de forma significativa a frequência das infecções por rinovírus (responsáveis pela constipação, entre outros) ou o vírus da gripe", disseram os autores do trabalho, acrescentando que "os resultados deste estudo sugerem que a transmissão pelas mãos é talvez menos importante para a propagação do rinovírus do que se acreditava".
Em Portugal a gripe A matou 122 pessoas e infectou milhares. Este ano, a campanha de vacinação inclui duas vacinas - ambas contra o vírus H1N1 - para dois grupos distintos. Ainda há dois milhões de vacina a negociar.