Quaresma solidário com Marega: "Também já fui várias vezes vítima de racismo"

O futebolista internacional português Ricardo Quaresma manifestou-se solidário com o maliano Marega, jogador do FC Porto, lembrando que também já foi "várias vezes vítima de racismo dentro e fora de campo".
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"Gostava de expressar toda a minha solidariedade para com o Marega. Também eu já fui várias vezes vítima de racismo dentro e fora de campo", lamentou o jogador que representa os turcos do Kasimpasa, numa publicação na rede social Facebook.

O veterano avançado, de 36 anos, observou que "a cor da pele ou a raça do jogador não podem ser argumentos para ofender e tentar desconcentrar um jogador de futebol" e que "o racismo não pode ter lugar" na sociedade, sendo "um crime que deve ser punido".

No domingo, Marega pediu para ser substituído ao minuto 71 do jogo da 21.ª jornada da I Liga, entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães, depois de ter sido alvo de cânticos e gritos racistas por parte de adeptos da equipa minhota.

Vários jogadores do FC Porto e do Vitória de Guimarães tentaram demovê-lo, mas Marega mostrou-se irredutível na decisão de abandonar o jogo, numa altura em que os dragões venciam por 2-1, resultado com que terminou o encontro.

Sindicato condena racismo e elogia "murro na mesa" de Marega

O presidente do Sindicato de Jogadores (SJ), Joaquim Evangelista, condenou esta segunda-feira os insultos racistas a Marega e elogiou a coragem do futebolista maliano ao abandonar o jogo de domingo entre Vitória de Guimarães e FC Porto.

"Impõe-se condenar este comportamento. É inqualificável que isto aconteça num estádio de futebol. Não é só uma ofensa à dignidade do Marega enquanto ser humano e cidadão pleno, é também um atentado ao desporto e ao nosso modo de vida", disse Joaquim Evangelista à agência Lusa, sublinhando: "Marega teve esta coragem que outros não tiveram. Deu um murro na mesa e obrigou-nos a refletir sobre o tema."

Considerando que existem "conquistas civilizacionais que não podem ser postas em causa", o líder do SJ apelou à união da família do futebol no combate ao racismo e vincou que o que sucedeu na noite passada em Guimarães "foi um ataque ao homem, à dignidade, mas foi também um ataque aos valores de relacionamento, civilizacionais e à sociedade" em geral.

"Temos de olhar para o problema e mobilizar agentes desportivos e poder político para evitar que isto volte a acontecer. É um combate de todos os cidadãos. Veja-se o crescimento dos grupos de [extrema] direita, em Portugal e na Europa, à volta destes temas. Ninguém pode ser indiferente. Há valores que não podem ser negociados. A maioria das pessoas está ao lado do Marega, mas não podemos estar só por estar", defendeu.

Embora veja a educação como a principal solução para tentar resolver o problema do racismo, até por considerar que "há muito racismo que não é visível, mas que existe no subconsciente", Joaquim Evangelista exigiu também punições "severas e exemplares de condenação destes energúmenos" e pediu a intervenção imediata e concertada das autoridades desportivas.

"Tem de haver dos responsáveis desportivos uma posição que não seja titubeante. Uma posição firme, corajosa, e dar um sinal aos adeptos de que não podemos pactuar com isto. Os dirigentes têm de se reunir, não basta comunicados. Faz todo o sentido a FPF ou a Liga convocarem os presidentes e darem um sinal claro aos adeptos de que querem mudanças efetivas e condenarem igualmente todos os atos desta natureza", defendeu.

O presidente do SJ foi ainda mais longe e, em solidariedade com Marega, admitiu uma hipotética paragem coletiva, caso continuem a verificar-se episódios racistas nos estádios.

"Se isto continuar assim, terão de tomar uma posição no futebol português que seja definitiva, e quando digo definitiva, eventualmente, pararem todos os jogadores. Hoje foi o Marega, mas o mais pequeno caso deve merecer condenação igual", concluiu.

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