Matteo Salvini vai nesta segunda-feira tentar forjar uma aliança de nacionalistas e eurocéticos com vista às eleições para o Parlamento Europeu. O vice-primeiro-ministro, ministro do Interior de Itália e líder do partido Liga vai lançar o seu "manifesto soberanista" no luxuoso hotel Gallia em Milão..O evento de congregação de formações populistas, nacionalistas e de extrema-direita conta, para já, com a presença do Partido dos Finlandeses, do Partido Popular Dinamarquês e da alemã Alternativa para a Alemanha (AfD). A líder da União Nacional francesa, Marine Le Pen, fez saber que não estará presente, por estar em campanha na Bretanha. Mas já tinha anunciado que tenciona ir ao comício de final de campanha da Liga, a 18 de maio, também em Milão..O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, cujo partido, Fidesz, está atualmente suspenso do Partido Popular Europeu (PPE), também indicou que não tenciona ir, segundo o Corriere della Sera. Em janeiro, Orbán foi citado como tendo classificado o governante italiano anti-imigração como um herói. Também a presença de Geert Wilders, líder xenófobo e islamofóbico holandês do Partido da Liberdade, não ficou desde logo certa..Citado pelo La Stampa, o colíder da AfD, Jörg Meuthen, indicou que, apesar de semelhanças na visão sobre as migrações, o seu partido e o de Salvini têm posições distintas noutros temas, como por exemplo a economia. "Não podemos estar de acordo em tudo. Vamos trabalhar. E assim encontrar compromissos." O evento de Salvini ocorre depois de o líder da Liga ter visto frustrado um compromisso com o polaco Partido Lei e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, que chegou a levá-lo a Varsóvia, em janeiro, para propor um "eixo anti-imigração"..Kaczynski preferiu, por agora, manter-se no grupo político europeu Aliança de Conservadores e Reformistas (ECR), de que fazem parte os Irmãos de Itália, tendo adiado para depois das europeias qualquer possibilidade de uma aliança. "Nós é que somos os verdadeiros soberanistas. Eles são populistas. Não creio que o projeto de Salvini seja muito claro sobre o que ele quer para a Europa", declarou a líder dos Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, que no passado foi ministra da Juventude de Silvio Berlusconi..Se não conseguir forjar um novo grupo político no Parlamento Europeu, que atualmente tem sete, o plano B de Salvini passa por ampliar a Europa das Nações e das Liberdades (ENF) de que a Liga já faz parte. "A diferença entre nós e os outros é que os outros precisam de ir ao estrangeiro à procura de alianças", disse Salvini, citado pelo La Stampa, numa indireta a Meloni, que esteve na Polónia, mas também a Luigi di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), que foi a França encontrar-se com representantes do movimento de protesto dos coletes amarelos. "A Liga convida outros movimentos europeus para Itália. Tornámo-nos centrais, como país, graças a este governo", acrescentou Salvini, que governa a nível nacional coligado com o 5 Estrelas de Di Maio desde 2018..Porém, a nível regional, Salvini mantém a aliança com a Força Itália de Berlusconi e os Irmãos de Itália de Meloni. Juntos têm conseguido destronar o centro-esquerda de várias regiões. Basilicata, no final de março, é o mais recente caso. A coligação de direita conseguiu 42% dos votos e o centro-esquerda 33%. A nível nacional, enquanto a Liga sobe, o 5 Estrelas cai, por comparação com os resultados das eleições de 4 março de 2018. Nesse escrutínio, a Liga teve 17,7% dos votos e o 5 Estrelas 32,2%. Hoje, as sondagens dão 33,6% ao primeiro, 21,1% ao segundo..Nas europeias, quando em 2014 a Liga só elegeu seis eurodeputados, neste ano pode eleger 27, tornando-se o segundo partido nacional a recolher mais votos, ficando apenas atrás da CDU alemã da chanceler Angela Merkel, que segundo a última média de sondagens feitas pelo Parlamento Europeu deverá eleger 33 eurodeputados..No último estudo divulgado pelo Parlamento Europeu, com a data de 29 de março, o PPE deverá eleger 188 deputados, quando atualmente aquele que durante anos foi o maior grupo político europeu tem 217. Os Socialistas de Democratas também descem, de 186 para 142 eurodeputados, sofrendo com a - eventual - saída dos trabalhistas britânicos, mas também com a crise nos socialistas franceses e no Partido Democrático em Itália. Este tem, desde 17 de março, um novo secretário-geral, Nicola Zingaretti, surgindo nas sondagens, a nível nacional, com 20,8% das intenções de voto (dados de um estudo de opinião Index divulgado no dia 4 de abril..Nesta semana foi conhecida a carta que Zingaretti enviou ao ministro da Cultura, Alberto Bonisoli, do 5 Estrelas, protestando contra os planos de Steve Bannon, ex-conselheiro do presidente dos EUA, Donald Trump, para estabelecer uma escola para nacionalistas na abadia de Trisulti, num antigo mosteiro cartusiano de Collepardo, na região de Lazio. "Trisulti sempre foi um lugar de paz, oração, meditação, durante oito séculos (...) Penso que isso não é compatível com atividades de treino de grupos nacionalistas que, por vezes, adotam posições abertamente xenofóbicas", escreveu Zingaretti na carta, cujo conteúdo foi citado na quarta-feira pelo site de notícias Politico.eu. Há meses que se fala na intenção de Bannon de ajudar partidos populistas, nacionalistas e de extrema-direita a terem o maior sucesso possível nas eleições europeias do mês que vem..Nas projeções do Parlamento Europeu, o Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus também reduz o número de eleitos, passando de 76 para 53, os liberais do ALDE crescem, de 68 para 72, os Verdes descem de 52 para 51, a Esquerda Unitária e Nórdica Verde desde de 52 para 49 eurodeputados, a Europa da Liberdade e da Democracia Direta sobe de 37 para 61, os independentes descem de 21 para sete, os outros mantêm-se nos 52. O número total de eurodeputados, 705, foi calculado sem contar já com os britânicos, se eles não saírem da UE antes das eleições de maio, então o número de eurodeputados voltará a ser de 751. A configuração com 705 só acontecerá quando houver, de facto, Brexit..Assim, em face da descida do PPE e dos Socialistas, crescem eurocéticos e liberais. Daí que, também em ano de redistribuição de lugares importantes na UE, como a liderança da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Banco Central Europeu, isso pese. A contrabalançar com Salvini está, do outro lado, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o seu La République en Marche!. O centrista encontrou-se no final de março, em Paris, com o primeiro-ministro socialista espanhol, Pedro Sánchez, tendo ambos dado a entender que gostariam de forjar um qualquer tipo de aliança para as europeias. Mas, para tal, é preciso esperar pelo desfecho das eleições espanholas de 28 de abril para ver quem, se PSOE ou Ciudadanos, é o escolhido por Macron para alinhar na formação de um novo grupo político no PE..Atualmente, o Ciudadanos de Albert Rivera está no ALDE, o PSOE de Sánchez nos Socialistas e Democratas. Para Macron, a linha vermelha, em relação ao Ciudadanos, será se este fizer um pacto para governar Espanha com o Partido Popular de Pablo Casado ou com o Vox de Santiago Abascal. Atualmente, na Andaluzia, PP e Ciudadanos já governam juntos o governo regional com o apoio daquele partido populista anti-imigração e conotado com a extrema-direita..Assim, com uma Europa Salvini versus uma Europa Macron, há quem se questione se Orbán, com todos as suas características, criticáveis para uns, admiráveis para outros, não poderá ainda vir a revelar-se uma terceira via entre nacionalistas eurocéticos, populistas radicais e extrema-direita e liberais, centristas e conservadores moderados. No lançamento da campanha do Fidesz, nesta sexta-feira, Orbán declarou que decide se sai ou fica no PPE depois das eleições europeias.."Nós decidiremos sobre o nosso futuro no PPE", assegurou Orbán perante simpatizantes e jornalistas, em Budapeste. O chefe do governo húngaro acrescentou que sairá do PPE se a orientação da família europeia de centro-direita "mover para a esquerda ou para o liberalismo". E voltou a criticar o atual presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, também ele membro do PPE: "Os resultados do seu mandato são o Brexit e os conflitos na União Europeia." Para Orbán, nas eleições de maio "está em jogo a civilização cristã", uma vez que "se vai decidir se os líderes da UE são favoráveis ou contrários à imigração". Do seu programa eleitoral consta um plano de sete pontos contra a imigração. No lançamento, o primeiro-ministro da Hungria defendeu que o controlo dos fluxos migratórios seja exercido pelos governos nacionais "e não pelos burocratas europeus".