O ano de 2019 será decisivo para a União Europeia. Vários acontecimentos importantes apontarão o rumo que esta construção poderá seguir no futuro: o da implosão ou o da revitalização. Vários líderes dos Estados membros chegam ao novo ano enfraquecidos: Angela Merkel, Emmanuel Macron, Theresa May, Pedro Sánchez e Charles Michel são apenas alguns exemplos..Vários cargos europeus têm de ser renovados no novo ano (presidente da Comissão Europeia, do Conselho Europeu, do Banco Central Europeu, do Parlamento Europeu e alto-representante para a Política Externa e de Defesa da União Europeia). Isso levará a algumas disputas entre os vários governos e às já habituais manobras de bastidores. O Brexit, saída do Reino Unido da UE, está previsto para o dia 29 de março. Com acordo, sem acordo ou outro..Quando se chegar às eleições europeias de maio (em Portugal acontecem a dia 26), os britânicos já não poderão eleger eurodeputados. Só os cidadãos dos restantes 27. Assim, o novo Parlamento Europeu (PE) terá 705 membros, em vez de 751, sendo a grande incógnita a dimensão da queda dos dois maiores grupos políticos europeus - PPE e Socialistas & Democratas. Mas também a da subida de tudo o que é eurocéticos, sejam eles populistas, nacionalistas, extremistas. E ao centro ver o que conseguem os liberais..O que dizem as projeções?.Segundo as projeções feitas por analistas do agregador de sondagens EuropeElects.eu, o Partido Popular Europeu (PPE), em que se enquadram o PSD e o CDS-PP, cairá de 221 eleitos em 2014 para 178. Os Socialistas e Democratas (S&D), grupo em que está o PS, cairão de 191 para 133. O Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde (GUE/NGL), onde estão a CDU e o Bloco de Esquerda, subirão ligeiramente de 52 para 58 deputados no PE.."Vemos uma tendência significativa no sentido de partidos liberais e de extrema-direita na Europa na projeção de dezembro", diz ao DN Tobias Gerhard Schminke, diretor daquele site agregador de sondagens e dados sobre eleições, que foi criado em 2014 e hoje conta com 34 voluntários de diferentes contextos políticos, culturais e profissionais da Europa, América do Norte e do Sul e do Médio Oriente.."Os liberais do ALDE e o partido de Macron, La République en Marche!, juntos, conseguirão entre 67 e 96 eleitos. Se a aliança entre o ALDE e Macron se concretizar e a popularidade dele não continuar a cair, serão os grandes vencedores das eleições. Matteo Salvini e Marine Le Pen, com o seu Europa das Nações e das Liberdades (ENF), ganharão 24 lugares adicionais, por comparação ao que já têm. Subiriam para 61. Isso não leva em conta outros partidos de extrema-direita, que não estão no ENF, mas que poderão vir a juntar-se a ele. Se isso acontecer podemos ver Le Pen e Salvini terem o maior crescimento em maio. Se fizermos uma grande misturada, teremos 24% dos lugares nas mãos da extrema-direita", sublinha Tobias Gerhard Schminke.."Espera-se que os eurocéticos e os nacionalistas tenham entre 20% e 25% dos assentos no próximo PE, dependendo de quão rigorosamente esta definição é aplicada. Apesar de o crescimento da extrema-direita ser indiscutível estas forças políticas continuam longe das instituições da UE. O Brexit terá aqui também um papel importante pois significa a saída de muitas delegações de eurocéticos do PE, compensando parcialmente a chegada de outros eurocéticos", afirma ao DN Doru Frantescu, diretor e cofundador do VoteWatchEurope.eu, site de estatística e arquivo do resultado das votações dos eurodeputados criado em 2009..O Brexit pode influenciar as eleições?.A forma como o Reino Unido sair da UE, a 29 de março do novo ano, poderá ter alguma influência nas europeias. "Se a saída for desordenada, sem acordo, provocando uma crise no Reino Unido, os partidos anti-UE não irão beneficiar disso nas eleições. Se o Reino Unido sair sem grandes problemas, com um acordo, então os partidos anti-UE poderão fazer melhor uma campanha contra a União Europeia", antecipa o fundador do EuropeElects.eu.."O debate sobre o Brexit ajuda a realçar as principais questões sobre a pertença à UE e a clarificar a forma como a UE afeta as vidas dos cidadãos. A dimensão europeia está agora muito mais patente nos debates a nível nacional do que antes, não apenas por causa do Brexit mas por causa de desenvolvimentos relacionados com a crise dos refugiados, sanções contra a Rússia, a crise da dívida soberana na zona euro, a mão forte da Comissão Europeia contra violações do Estado de direito, etc. Esses acontecimentos poderão ajudar a aumentar a taxa de participação no próximo ano", augura o diretor do VoteWatch Europe..Em Portugal não há propriamente candidatos populistas, nacionalistas de extrema-direita com grande peso, ao contrário de países como França, Itália ou Áustria. Para já, PS e PSD ainda não formalizaram cabeças-de-lista. CDS-PP, CDU, BE e Aliança já. O primeiro anunciou Nuno Melo, o segundo João Ferreira, o terceiro Marisa Matias e o quarto Paulo Almeida Sande. Os três já são eurodeputados e o último foi diretor do gabinete do PE em Portugal. Outros partidos mais pequenos, como o PAN, também pretendem estar na corrida..Mudança da hora e mais o quê?.Acusada de estar longe dos cidadãos, a UE (leia-se Parlamento e Comissão) lançou a discussão sobre o fim da mudança da hora. O assunto deu que falar, é certo, mas no final tudo acabará como tudo acaba (na grande maioria das vezes): a decisão final cabe aos governos dos Estados membros que compõem a União Europeia. "O fim da mudança da hora está longe de ser a maior preocupação do eleitorado. Apesar de os cidadãos apoiarem o projeto de construção europeia, as instituições são muitas vezes criticadas por não estarem em sintonia com as suas preocupações. Há tensões por causa do multiculturalismo, crescimento económico lento. Isso poderá dominar a campanha eleitoral. Os líderes pró-UE deveriam focar-se em ter uma agenda alternativa à dos nacionalistas de extrema-direita, em vez de se limitarem a defender o statu quo", sugere Doru Frantescu, do VoteWatchEurope.eu.."Se olharmos para as sondagens europeias vemos que os assuntos mais importantes para os eleitores, com vista a estas eleições, são, por esta ordem, migrações, terrorismo, finanças públicas, economia, alterações climáticas. Todos os partidos têm de convencer os eleitores e encontrar respostas para lhes dar. Os europeus querem ver liderança e ideias convincentes. E isso não tem de significar necessariamente vedações contra migrantes", sublinha por seu lado Tobias Gerhard Schminke, numa referência às politicas antirrefugiados e migrantes de Viktor Orbán, primeiro-ministro conservador da Hungria e líder do Fidesz (partido que integra o PPE)..Fake news podem ter aqui um papel?.Numa altura em que ainda se discute o impacto ou não impacto das fake news no resultado do referendo do Brexit ou das eleições presidenciais nos EUA, muitos perguntam que papel pode essa realidade ter nas eleições europeias de maio. "Não vejo porque não terão um papel. Posso falar-lhe da minha experiência pessoal: o Europe Elects.eu tem normalmente muitos novos seguidores um ou dois meses antes de eleições. 10% deles são bots russos. Promovem a extrema-direita, partidos anti-UE, fake news. Fazem retweets, comentários em posts favoráveis à extrema-direita, para desacreditar o centro-esquerda e os liberais. Vimos isso nas eleições suecas de 2018", conta ao DN Tobias Gerhard Schminke. Doru Frantescu, do VoteWatchEurope.eu, site que além das votações dos eurodeputados também monitoriza as decisões dos governantes europeus no Conselho, considera, por seu lado, que "a chave para garantir que os cidadãos irão fazer escolhas eleitorais de forma informada é promover as fontes de informação fidedignas".