Quando o Crazy Gang conquistou Wembley e chocou Inglaterra

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Um dos resultados mais chocantes da história de uma das competições de clubes mais antigas do mundo, a Taça de Inglaterra, ocorreu a 14 de maio de 1988, quando a superequipa do Liverpool foi derrotada na final pelo surpreendente Wimbledon (0-1), em Wembley.

Com um plantel recheado de craques como Grobbelaar, Nicol, John Barnes, Molby, Aldridge ou Peter Beardsley, os reds dominavam o futebol inglês e eram dos mais temidos a nível europeu, mas acabaram por falhar a missão de se tornarem o primeiro clube de terras de Sua Majestade a conseguir uma segunda dobradinha - Manchester United atingiu esse feito em 1995-96.

Culpa de um (já extinto) Wimbledon, liderado por Vinnie Jones, Wise ou Fashanu e que estava a competir apenas pela segunda temporada entre a elite, e que era conhecido por Grazy Gang (gang dos malucos). A alcunha, inspirada no nome de um popular grupo de comediantes britânicos da década de 1930, foi atribuída face ao estilo de jogo pouco sofisticado e ao comportamento irreverente, machista e bem-humorado dos jogadores e treinadores do clube.

Num dia solarengo em Londres, 98 203 pessoas viram o clube do sul da cidade adiantar-se no marcador aos 37 minutos, através de um cabeceamento certeiro do médio norte-irlandês Lawrie Sanchez, na sequência de um livre apontado na esquerda por Dennis Wise. O Liverpool respondeu e criou imensas oportunidades para empatar, incluindo uma grande penalidade em que John Aldridge permitiu a defesa do guarda-redes Dave Beasant, que naquela tarde teve tanto de intransponível como de histórico: tornou-se o primeiro guardião a defender um penálti em Wembley numa final da Taça de Inglaterra e o primeiro guarda-redes capitão a levantar o troféu.

Os londrinos resistiram até ao apito final e venceram o único grande título da sua existência. Assegurado o triunfo, o comentador da BBC John Motson proclamou uma frase que ainda hoje é recordada quando se fala deste jogo: "O Crazy Gang bateu o Culture Club."

Mudança de cidade e de nome

O Wimbledon, que na campanha até à final eliminou West Bromwich Albion, Mansfield Town, New-castle, Watford e Luton Town, foi impedido de participar na Taça dos Vencedores das Taças na temporada seguinte, devido à inibição imposta pela UEFA às equipas inglesas nas competições europeias, depois das ações de um grupo de adeptos do Liverpool que levou ao desastre de Heysel, na final da Taça dos Campeões Europeus de 1984--85.

O clube do sul de Londres, que terminou em 7.º lugar no primeiro escalão de Inglaterra na temporada da conquista da Taça, permaneceu entre a elite até 1999-00, tendo sido um dos fundadores da Premier League, em 1992.

Contudo, os The Dons mudaram-se em setembro de 2003 para Milton Keynes, 72 quilómetros a noroeste de Londres, tendo alterado nome para Milton Keynes Dons F.C. (MK Dons) em junho de 2004.

A controversa mudança surgiu na sequência da vontade de um grupo económico local, o Milton Keynes Development Corporation, em estabelecer na cidade uma equipa de primeira linha, oferecendo-lhe um novo estádio para jogar. Foram feitas ofertas ao Luton Town, Barnet, Crystal Palace e Queens Park Rangers, mas acabou por ser o Wimbledon a aceitar.

Catorze anos volvidos, MK Dons ainda não conseguiu atingir o estatuto que o antecessor teve nas décadas de 1980 e 1990. O melhor que conseguiu foi participar uma vez na II Liga inglesa (Championship), em 2015-16, e projetar o agora internacional inglês Dele Alli, que atua no Tottenham.

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