Quando Jake viu Jayme Closs soube que era ela que ele ia raptar
Jake Thomas Patterson trabalhou apenas dois dias numa fábrica de queijos, na localidade de Barron, no estado americano do Wisconsin, e aí traçou o destino da família Closs. Na manhã de um desses dias, a caminho do trabalho, Jake viu Jayme Closs, de 13 anos, subir para o autocarro escolar.
"O réu diz que não sabia quem ela era, nem sabia quem ou quantas pessoas moravam em sua casa", de acordo com a queixa apresentada na segunda-feira, citada pelo jornal espanhol El País, "mas quando ele viu Jayme Closs, ele sabia que esta era a miúda que ele ia levar".
De acordo com o detetive Jeff Nelson, do gabinete do xerife do condado de Barron, Wisconsin, o réu de 21 anos, preso na quinta-feira pouco depois da rapariga ter conseguido fugir do cativeiro, confessou ter matado James, de 56 anos, e Denise Closs, de 46, e sequestrado a filha Jayme.
Na segunda-feira, numa audiência preliminar perante um juiz, em que foi estabelecida uma fiança de cinco milhões de dólares (4,37 milhões de euros), como pedia a acusação, para garantir que Patterson continua na cadeia até que o julgamento se inicie em 6 de fevereiro às 11.00 da manhã.
Logo depois de ter escolhido a adolescente, o réu atuou com surpreendente sangue frio, de acordo com a acusação. Antes do fatídico 15 de outubro, o acusado foi duas vezes a casa dos Closs, na cidade de Barron, com a intenção de sequestrar Jayme.
Na primeira ocasião, apenas uma semana antes do desfecho, Jake foi até à casa da família de Jayme, mas viu muitos carros estacionados e foi-se embora. Regressou um dia ou dois depois, de acordo com o depoimento do réu, mas foi novamente dissuadido por perceber que havia mais pessoas na casa.
Naquelas noites, Jake percorreu alguns quilómetros no seu carro para roubar placas de matrícula para ter a certeza que, quando entrasse em ação, ninguém o localizaria pelo automóvel.
À terceira foi de vez: Patterson deslocou-se de novo a casa dos Closs na noite de 15 de outubro passado, levando consigo uma espingarda Mossberg, calibre 12, do pai. Estacionou o Ford Taurus numa estrada secundária e colocou uma matrícula roubada. E fez outras modificações para melhor poder escapar: desligou a luz do habitáculo, para que ninguém o pudesse ver quando abria a porta, e também retirou a luz da bagageira.
A escolha da espingarda foi por ter percebido que a Mossberg era uma das espingardas mais populares e que, portanto, seria mais difícil de rastrear. Com ele levava uma caixa de munições, seis cartuchos de balas slug, indicados para caça, com bom poder de paragem e precisão a curta distância. Jake achava que eram os cartuchos mais eficazes para matar.
No depoimento, o réu disse que procurou não deixar rasto ou vestígios de ADN: limpou cuidadosamente a espingarda e os cartuchos, manipulando-os apenas com luvas, barbeou o rosto, rapou a cabeça e tomou banho antes de sair. Calçou umas botas de couro com ponta de aço e vestiu umas calças de ganga, um casaco preto, luvas e um passa-montanhas também pretos.
Ao aproximar-se da casa dos Closs, desligou os faróis do carro, estacionou na entrada e saiu do carro em silêncio. Segundo Patterson, ele viu um homem numa janela à esquerda da entrada. Era James Closs, o pai de Jayme, que tinha uma lanterna com que iluminava o exterior. Patterson gritou para ele se atirar ao chão, mas James continuava a apontar a lanterna para ele.
Patterson aproximou-se da porta. Do outro lado da janela da porta de vidro, o pai de Jayme terá pedido para ele mostrar a identificação, julgando tratar-se de um polícia. Patterson levantou a espingarda, apontou para o rosto de James e apertou o gatilho. O pai foi abatido.
Jake só conseguiu entrar em casa, disparando contra a fechadura, para abrir a porta. Passou por cima do cadáver de James, ligou a lanterna e viu que havia uma porta fechada numa divisão da casa. Depois de verificar que não estava ninguém no resto da habitação, voltou à divisão fechada e só conseguiu forçar a porta depois de carregar com o ombro umas dez ou 15 vezes.
Entrou na casa de banho e atrás da cortina da banheira escondiam-se, abraçadas uma à outra, Denise, a mãe, e Jayme, a filha única do casal. Patterson entregou a Denise um rolo de fita adesiva, para ela tapar a boca de Jayme. A mãe não conseguiu e acabou por ser o próprio Jake a amordaçar a adolescente, amarrando ainda pulsos e tornozelos, e puxando-a para fora da banheira.
De acordo com o relato incluído na queixa, Patterson voltou a pegar na espingarda e disparou à cabeça da mãe, com a rapariga a seu lado. Arrastou Jayme pela casa por um braço, enquanto segurava a espingarda noutro, quase escorregando numa poça de sangue.
Jake colocou Jayme na bagageira do carro e trancou-a. Sentou-se ao volante, tirou a máscara e arrancou. Num depoimento que parece retirado de um filme, Jake contou que 30 segundos depois teve de travar o veículo para dar passagem a três carros de patrulha que acorriam para a casa dos Closs com as sirenes ligadas.
Ainda tinha sido Denise a ligar para a polícia, enquanto o marido espreitava pela janela para ver quem tinha estacionado junto à sua casa. Quando o intruso chegou, Jayme estava a dormir no quarto, de acordo com o que a adolescente contou à polícia, e foi acordada pelo cão a ladrar. Quando ela viu que estava um carro estacionado à porta de casa, acordou os pais, trancou-se na casa de banho com a mãe e o pai foi à porta. Ao ouvir o primeiro tiro, Jayme sabia que o pai estava morto.
Patterson conduziu durante quase duas horas e levou Jayme para uma cabana precária, propriedade da sua família, perto de Gordon, uma cidade de 636 pessoas cercada por florestas. "O lugar de descanso dos Patterson", lê-se numa placa à entrada da cabana. Jake levou Jayme para o quarto e ordenou que ela tirasse a roupa e vestisse um pijama da sua irmã. Colocou as roupas e luvas de Jayme num saco e atirou para a lareira.
Todas as vezes que saía da cabana, Jake obrigava a adolescente a enfiar-se debaixo da cama, às vezes por horas ou quando recebia visitantes. Patterson colocava caixas pesadas e baldes com pesos junto à cama para que ela não pudesse escapar. E ligava um rádio para que ninguém ouvisse nada. Ninguém podia saber que Jayme estava lá, avisou Jake, "ou podiam acontecer coisas más".
Patterson não tinha antecedentes criminais no Wisconsin. As pessoas que o conheciam descrevem-no como um jovem pacato e bom aluno. No anuário do último ano do ensino secundário, Jake escreveu que queria ser fuzileiro. E chegou a alistar-se nos marines, mas ficou pouco mais de um mês antes de sair em outubro de 2015.
Na breve audiência na segunda-feira, Patterson apareceu num vídeo da prisão do condado de Barron, vestido com um fato laranja, limitando-se a responder simplesmente "sim" ou "não" às perguntas de rotina do juiz. Sem mostrar emoção e bocejando até uma vez.
Por sua vez, Jayme contou que, por vezes, o acusado ficava irritado, por uma razão que ela não se lembra, e batia nela "fortemente" com um objeto. O processo não acusa Patterson de qualquer forma de agressão sexual.
Na quinta-feira da semana passada, Patterson obrigou Jayme a ir de novo para debaixo da cama e que ia sair por cinco ou seis horas. Quando ele saiu da cabana, Jayme conseguiu empurrar as caixas que cobriam a cama. Levantou-se, calçou uns sapatos do sequestrador e fugiu.
Quando Patterson voltou para a cabana, descobriu que Jayme não estava debaixo da cama e saiu de carro à sua procura. Jayme já tinha sido acolhida numa casa vizinha e já tinha dado a descrição do veículo à polícia. Um carro de patrulha localizou-o e forçou-o a parar. Dois polícias saíram do carro, ordenaram ao condutor que levantasse os braços e perguntaram-lhe o nome. O homem identificou-se como Jake Patterson. Quando saiu do veículo, Jake disse que sabia porque o tinham mandado parar. "Fui eu que fiz", confessou.