Quando a América bombardeou a Suíça por erro

A 1 de abril de 1944, faz hoje 75 anos, a cidade suíça de Schaffhausen foi confundida com a alemã Ludwighaffen e atacada por bombardeiros americanos. Morreram 40 pessoas e 270 ficaram feridas. Franklin Roosevelt enviou um pedido de desculpas.
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Os pilotos americanos pensavam estar sobre a cidade alemã de Ludwighafen, uns 200 quilómetros a norte, mas na realidade largaram as suas bombas sobre Schaffhausen, cidade suíça situada também nas margens do Reno. Naquele 1 de abril de 1944, faz hoje 75 anos, morreram 40 cidadãos da neutral Suíça e mais de duas centenas ficaram feridos. Os Estados Unidos garantiram ter-se tratado de um erro e não só pediram desculpas como indemnizaram os suíços. O presidente Franklin Roosevelt enviou mesmo uma carta ao burgomestre de Schaffhausen lamentando a tragédia.

Apesar de ter uma maioria de população de língua alemã (juntamente com francófonos, italianófonos e ainda uma pequena comunidade de idioma romanche), a Suíça nunca surgiu formalmente nos planos de anexação da Alemanha nazi, ao contrário da Áustria, da Alsácia, dos Sudetas e dos municípios belgas de maioria germânica. A história explica essa lógica de Adolfo Hitler, mas a força militar suíça e o sentimento antinazi predominante na população também dissuadiram o Führer, que acabou por aceitar a neutralidade do pequeno país, como fizeram também as potências aliadas.

Contudo, tal como mostram os acontecimentos de 1 de abril de 1944, a Segunda Guerra Mundial fez-se sentir na Suíça de forma constante. O mais habitual foi servir de refúgio a perseguidos pelo nazismo, mas também acolheu tripulantes de aviões americanos e britânicos que por alguma falha na missão em território inimigo tiveram de aterrar de emergência. O pior mesmo foram os ocasionais bombardeamentos, mas no início do conflito a força aérea suíça chegou a abater aviões alemães que desrespeitaram as fronteiras do país neutral, passando a certa altura a ter de fechar os olhos tantas eram as violações do espaço aéreo tanto pelos nazis como pelos britânicos e americanos. Depois, mais perto do final da Guerra, voltou a haver retaliação suíça contra abusos no seu espaço aéreo, sobretudo de americanos

No caso do bombardeamento de há 75 anos, a explicação americana é que a formação atacante se dividiu em duas depois de muito mau tempo nos céus franceses e que os pilotos dos 23 B-24 Liberators que largaram bombas sobre a cidade suíça ficaram confusos com a localização porque os fortes ventos de cauda tinham acelerado a velocidade dos aviões. O radar também falhou. Mas há historiadores que suspeitam que alguns dos bombardeamentos dos Aliados eram um alerta contra a forte cooperação económica entre a Suíça e a Alemanha nazi.

As suspeitas de intencionalidade, incentivadas na época pela propaganda alemã, foram consideradas injustas e preocupantes pelos Estados Unidos e o chefe máximo da força aérea americana na Europa chegou a ir à Suíça dar explicações. Chegaram a Washington vários protestos formais do governo de Berna.

Desde a Idade Média fortemente independentes dos Habsburgo e do Império Alemão, os suíços ganharam uma vocação guerreira que os levou depois das Guerras Napoleónicas a optar pela neutralidade nos grandes conflitos europeus e mundiais. Ganhou mesmo uma tradição internacionalista, com Genebra a ser sede da Sociedade das Nações logo após a Primeira Guerra Mundial e depois uma das sedes das Nações Unidas após 1945. Mesmo assim, os suíços levam tão a sério a sua neutralidade que num referendo chegaram a recusar a adesão à ONU (noutro, aceitaram por fim ser membros).

Durante a Segunda Guerra Mundial, a estratégia suíça em caso de invasão alemã era resistir só o tempo necessário para as forças armadas se refugiarem nos Alpes e a partir daí lançarem uma guerra de desgaste contra os nazis.

Depois do ataque a Schaffhausen, em que 400 bombas foram lançadas, os suíços passaram a pintar os telhados das casas com a cruz branca da sua bandeira.

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