Já lá vão 20 anos desde a primeira edição, mas há muito que o Músicas do Mundo, em Sines, atingiu a maioridade, enquanto evento de referência da denominada world music. Mesmo a nível internacional, como o atestam o Prémio de Melhor Alinhamento Artístico nos Iberian Festival Awards ou a inclusão na lista dos melhores 25 festivais de world music do mundo, pela revista britânica Songlines..Em entrevista, Carlos Seixas, diretor artístico do festival desde a primeira hora, considera que o Músicas do Mundo de Sines é nos dias que correm "um ato de resistência" perante uma sociedade cada vez mais fechada. Afinal, ao longo de 20 anos, o Festival Músicas do Mundo de Sines já recebeu "cerca de 1200 milhões de espectadores" que assistiram a 589 concertos de 3200 músicos, oriundos de mais de cem países e regiões. Neste ano, informa a organização, entre os três dias em Porto Covo e os sete em Sines, vão ser mais 51 músicos: "Vai ser uma verdadeira volta ao mundo através da música.".Para Carlos Seixas, o Festival Músicas do Mundo de Sines não se pode referir como um sonho cumprido. Explica: "Os sonhos não se cumprem, trabalham-se e fazem-se acontecer. É isso que fazemos ano após ano neste festival, que já tem uma história muito rica, construída ao longo de duas décadas.".Alguma vez pensou, quando iniciou o festival, que o Músicas do Mundo viesse a ter tamanho sucesso e ser uma referência a nível internacional?Sim, sempre acreditei, porque temos uma identidade própria. Existe uma comunhão entre a equipa de produção, o público e os artistas, pouco comum noutros festivais. Não sei se somos diferentes dos outros, mas temos toda uma filosofia por trás, que desde o início passa por dar voz e visibilidade às periferias musicais e mostrar que há muito mais mundo para além das playlists. E público interessado em conhecê-lo, como temos provado anos após ano..Vão ter muitos artistas em estreia, a exemplo dos anos anteriores? Vamos ter alguns, sim, mas devo dizer que já não ligo muito a essa questão das estreias. A nossa luta agora é outra e passa por continuarmos a ser um exemplo de humanismo num mundo cada vez mais lixado. Esse é hoje a realidade da chamada música do mundo..Concorda quando se diz que este é um festival de nicho, apesar de os números provarem o contrário? Qual nicho qual carapuça? O rótulo de world music fez sentido nos anos 1990, quando algumas sonoridades mais exóticas, digamos assim, começaram a ganhar espaço e foi necessário dar-lhes um nome, para que pudessem estar nas prateleiras das lojas de disco sob uma mesma denominação. Em vez de world music, hoje devíamos falar em musics of the world, que é muito mais correto. Numa sociedade em que deixou de haver novidades, porque a novidade passou a ser imediata para toda a gente e dura cada vez menos tempo, a grande questão é saber se as pessoas têm ou não necessidade e vontade de se abrirem a outras culturas. Através da música e não só, especialmente no mundo ocidental, que nestes últimos anos se tornou cada vez mais fechado. Nunca, como agora, aquele velho slogan do "todos diferentes, todos iguais" fez tanto sentido..É assim que vê este festival, como um ato de resistência contra essa sociedade indiferente à diferença? Este festival é uma utopia e nesse sentido, sim, também é luta. Um acontecimento desta natureza tem de ser encarado assim, como fazendo parte dessa luta diária da humanidade pelos direitos fundamentais de cada um de nós, como a igualdade e a liberdade de sermos quem somos. Não tem de haver tolerância pela diferença, mas sim aceitação..Entre os mais de 50 concertos deste ano, quais é que são mesmo a não perder? Custa-me muito escolher, porque quando programo o festival tento sempre que o cartaz, entre novidades e artistas consagrados, funcione como uma viagem musical pelo mundo, mas de facto há alguns nomes importantes, que merecem ser realçados. Os ingleses Cocoroko, a belga Melanie de Biasio, os sul-africanos Ladysmith Black Mambazo, os palestinianos Trio Joubran, os americanos Antibalas, que já andava a tentar trazer cá há mais de dez anos. São tantos e todos tão bons, é muito difícil escolher....Festival Músicas do Mundo de Sines.Largo Marquês de Pombal, Porto Covo. Até 20 de julho, entrada livre.Largo Poeta Bocage, Sines. 21 a 23 de julho, entrada livre.Centro de Artes de Sines. 22 e 23 de julho, €10.Castelo de Sines. 24 a 27 de julho, €10 a €50.Avenida Vasco da Gama, Sines. 24 a 27 de julho, entrada livre